Daniel Soares e Renato Tardin são apontados como homens
que recolhiam dinheiro para os policiais
Rommel Pinto / Parceiros / Agência O Dia
|
Único delator disse que 'não tinha
como ninguém dizer que não sabia da propina' no batalhão de São Gonçalo
Rio - ‘Contratado’ pelos policiais
militares do 7º BPM (São Gonçalo) só para recolher R$ 1 milhão, por mês, de
traficantes de 41 comunidades do município, o único delator do esquema de
corrupção revelou em depoimento à Polícia Civil ao qual O DIA teve
acesso que “não tinha como ninguém dizer que não sabia da propina”,
referindo-se à unidade. Ele rejeitou proposta para ‘servir’ aos PMs do 12ª BPM
(Niterói), por falta de tempo. Segundo a investigação, ele recebia R$ 6.400
mensais atuando como elo entre o tráfico e oito grupos de policiais, sendo R$
800 de cada um.
As declarações do colaborador
resultaram ontem na deflagração da Operação Calabar da Polícia Civil, a maior
da história do estado, para prender 96 militares, que vendiam drogas e até
armas para os bandidos, e 76 traficantes. O nome da operação é referência ao
traidor português Domingos Fernandes Calabar.
Nenhum oficial foi preso, mas as
investigações continuam. A operação começou por volta das 4h de ontem. Para
capturar todo o grupo, a Delegacia de Homicídios de Niterói, ltaboraí e São
Gonçalo, responsável pelas investigações, reuniu 600 policiais civis, entre
eles, 115 delegados, com apoio da Corregedoria da PM e Ministério Público.
“A pessoa tem distintivo e às
vezes está até matando um colega de profissão, está dando apoio a um traficante
que está matando um outro colega dele de farda”, afirmou o governador Luiz
Fernando Pezão, acrescentando que, na crise, os policiais recebem primeiro.
Ao delatar o esquema, o
‘contratado’ — que contava com mais três recolhedores presos ontem, um deles
usava farda e arma da PM — forneceu números de telefones ‘buchas’, ou seja, que
não estavam em nome dos integrantes do bando, mas eram usados para negociar a
propina entre 2014 e 2016. Gravações telefônicas foram autorizadas pela 2ª Vara
Criminal de São Gonçalo.
Perícia de especialistas do
Ministério Público identificou acusados até pelas vozes. Segundo o colaborador,
a distribuição do dinheiro era feita em patamos, no batalhão e até pela janela
de DPO. Policiais que não faziam parte do esquema e invadiam comunidades eram
punidos por oficiais da unidade.
Delegacia foi 'assaltada'
Durante as investigações, no dia
21 de março, a Delegacia de Homicídios de Niterói, Itaboraí e São Gonçalo foi
invadida por bandidos em busca de provas que corroboravam a operação Calabar.
Agentes da unidade também são investigados para saber se houve facilitação para
ação dos criminosos.
Segundo o delegado Marcus Amin, o
alvo foi a sala onde estavam guardados seis celulares em um saco com o número
do procedimento, que foram levados. Os equipamentos foram apreendidos com
Daniel Soares, Renato Drumond Tardin, Adrienison Barbosa Santos, que recolhiam
dinheiro para os PMs, e o cabo Marcelo Bento Vidile, um dos recebedores de
propina. Eles foram presos em abril do ano passado em blitz na Avenida do
Contorno, em Niterói.
“No local havia coisas de mais valor e eles só
roubaram o documento onde estavam os celulares. Mas já havíamos feito a
transcrição e o inquérito estava na fase final. Desconfiamos de facilitação por
parte de policiais. Tudo está sendo apurado”, anunciou Amin. Até à noite de ontem,
66 militares e 22 traficantes haviam sido presos. Os PMs vão ficar detidos em
várias unidades, além do Batalhão Prisional, antigo BEP, em Niterói.
Gravações telefônicas
Em 3 de abril de 2016, às 17h44,
escutas flagraram conversas entre traficantes e PM sobre o sequestro de
bandidos. Militares pediam o resgate.
TRAFICANTE: Os cana quer (sic)
cinco pra soltar nós.
HNI: Rodou com o que?
TRAFICANTE: Com pó de 30. Eles quer (sic) cinco mil pra soltar nós, e eles quer rápido, senão vai levar nós de dura.
POLICIAL (pega o telefone): Três caixas (R$ 3 mil). Manda o formiguinha trazer igual traz sempre. Você sabe que com a gente é pureza. Vai vim (sic), vai trazer três caixas e a gente vai liberar os moleques.
TRAFICANTE: Eu tô te dando o papo reto. Os moleque você tá ligado que é vapor. Não adianta, mano, que eu não tenho como dar dinheiro da firma sem falar com o dono da boca não, parceiro.
POLICIAL: Aqui um é vapor e o outro atividade. Por tudo que aconteceu da última vez: ficou faltando 1.500, ia vim 2 mil ( sic) e veio 500. Manda duas caixas que a gente libera.
HNI: Rodou com o que?
TRAFICANTE: Com pó de 30. Eles quer (sic) cinco mil pra soltar nós, e eles quer rápido, senão vai levar nós de dura.
POLICIAL (pega o telefone): Três caixas (R$ 3 mil). Manda o formiguinha trazer igual traz sempre. Você sabe que com a gente é pureza. Vai vim (sic), vai trazer três caixas e a gente vai liberar os moleques.
TRAFICANTE: Eu tô te dando o papo reto. Os moleque você tá ligado que é vapor. Não adianta, mano, que eu não tenho como dar dinheiro da firma sem falar com o dono da boca não, parceiro.
POLICIAL: Aqui um é vapor e o outro atividade. Por tudo que aconteceu da última vez: ficou faltando 1.500, ia vim 2 mil ( sic) e veio 500. Manda duas caixas que a gente libera.
Homicídios aumentaram
O município de São Gonçalo é
considerado um dos mais violentos do estado. Segundo o Instituto de Segurança
Pública (ISP), de janeiro a abril houve 125 homicídios dolosos e 1.951 roubos
de carros. Em 2011, a juíza Patrícia Acioli foi executada com 21 tiros. Onze
PMs do 7º BPM (São Gonçalo), entre eles o então comandante Cláudio Silva
Oliveira, foram condenados.
Patrícia não aceitava os altos
registros de mortes em confrontos com militares do batalhão. Desde o
assassinato de Patrícia, o número de homicídios envolvendo militares subiu de
18, em 2011, para 76, em 2015. “Isso nos deixa triste porque desde a morte da
minha irmã a gente percebe que os policiais continuaram praticando atos
ilegais”, disse Simone Acioli.
Patrícia foi lembrada na decisão
do juiz Alexandre Abrahão, da 2ª Vara Criminal de São Gonçalo, que decretou as
prisões dos 96 PMs. “A tropa do 7º BPM, não é de hoje, protagoniza tristes
episódios criminosos”, afirmou em trecho.
O Dia
0 comentários:
Postar um comentário
Obrigado pelo seu comentario.
Fique sempre ligado do que acontece em nossa cidade!