Onde de manifestações e
distúrbios deixou 48 mortos. Partidários do chavismo também se manifestam.
Nem a oposição nem o governo de
Nicolás Maduro se rendem e, nesta semana, voltam a medir suas forças nas ruas
da Venezuela, após 52 dias de violentos protestos que deixaram 48 mortos e
centenas de feridos.
Mais de mil opositores junto com a
Federação Médica Venezuelana (FMV) se dirigiam nesta segunda-feira (22) ao
Ministério da Saúde na capital Caracas para protestar contra a
"catastrófica" situação dos hospitais, onde faltam insumos,
equipamentos e medicamentos.
"Todos nós perdemos alguém
por falta de medicamentos ou insumos", lamentou à AFP Verónica Martínez durante
a marcha.
"Hoje uma simples infecção
pode se tornar algo grave pela falta de antibióticos, de insumos, por falta de
manutenção dos equipamentos", queixou-se à AFP Eliécer Melear, médico
urologista de 41 anos.
Do outro lado, partidários do
chavismo se concentravam no palácio presidencial de Miraflores, onde eram
recebidos por Maduro, que convocou uma passeata "pela paz" para esta
terça-feira.
Nos arredores de Caracas já há
confrontos entre opositores e policiais e militares, e várias ruas da capital
amanheceram bloqueadas por barricadas.
Oposição continuará nas ruas
A oposição tem o desafio de atrair
os manifestantes apesar, mas não apenas, da violência, já que os venezuelanos
têm enfrentado enormes filas para conseguir alimentos e um trânsito paralisado
pelos protestos.
"É difícil manter a onda de
protestos. As pessoas precisam trabalhar, estudar, comer e viver suas vidas. É
preciso de uma estratégia para capitalizar esse movimento", advertiu à AFP
David Smilde, assessor principal do Washington Office on Latin America (Wola),
especializado na Venezuela.
"O fato de a oposição
continuar com a mobilização nas ruas, e a comunidade internacional manter sua
pressão sobre a Venezuela, poderia gerar divisões no governo ou dentro das
Forças Armadas", assinalou.
Tudo isso em meio ao colapso
econômico e uma inflação que, segundo o FMI, atingirá 720% este ano.
De acordo com o último balanço da
Procuradoria, os protestos deixaram 48 mortos, centenas de feridos e 2.660
detidos, dos quais pelo menos 161 seguem presos - de acordo com a ONG Fórum
Penal - por ordens de tribunais militares.
No sábado, mais de 160.000 pessoas
- segundo os organizadores - se reuniram na principal estrada de Caracas e
tentaram caminhar em direção ao Ministério do Interior. Eles foram dispersados
com bombas de gás lacrimogêneo e responderam com pedras e coquetéis molotov.
Apoiadores
do presidente Nicolás Maduro se manifestam
nesta
segunda-feira (22) em Caracas (Foto: FEDERICO PARRA / AFP)
|
Além disso, mais de 40.000 pessoas
(de acordo com estimativas da AFP) protestaram na cidade de San Cristobal,
estado de Táchira, na fronteira com a Colômbia, para onde Maduro ordenou o
envio de 2.600 militares depois de tumultos e saques.
'Corrente nazi-fascista'
No domingo, Maduro denunciou que
manifestantes bateram, apunhalaram e abriram fogo contra um jovem durante uma
manifestação em Caracas por acreditarem "ser chavista". A
Procuradoria afirmou que já iniciou uma investigação sobre o ocorrido.
"Nunca havíamos visto aqui
uma pessoa ser incendiada como fazem os terroristas do Estado Islâmico",
denunciou Maduro em seu programa semanal.
De acordo com Maduro, dentro da
oposição está sendo gestada uma "corrente nazi-fascista" de
perseguição a pessoas por seus ideais políticos, especialmente os chavistas,
atrás da qual está o presidente americano Donald Trump.
"Donald Trump tem as mãos
infectadas e metidas a fundo nesta conspiração", declarou.
Maduro propôs à liderança
opositora - que não se pronunciou sobre o ocorrido - abrir uma mesa de diálogo
para superar as diferenças. Governo e oposição se responsabilizam mutuamente
pela violência nas manifestações.
Por France Presse
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