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BBC/Reprodução Ex-presidente Lula durante
depoimento
ao juiz Sérgio Moro
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Mas, por mais de um momento, Moro
e Lula protagonizaram diálogos tensos, algumas vezes com ataques explícitos.
Mas os ataques de Lula foram concentrados no Ministério Público.
"Como eu considero esse
processo ilegítimo e a denúncia uma farsa, estou aqui em respeito à lei, à
Constituição, mas com muitas ressalvas aos procuradores da Lava Jato",
disse Lula, que, por mais de uma vez, reclamou com veemência da atuação do
Ministério Público e da Polícia Federal.
Moro, que repreendeu Lula por
declarações dadas durante evento do PT no qual disse que seria capaz de mandar
prender quem fala mentiras contra ele, chegou a pedir paciência ao
ex-presidente.
O ex-presidente é alvo em três
processos criminais na 13ª Vara Federal de Curitiba. Nesta quarta, Moro ouviu o
ex-presidente sobre a ação na qual ele é acusado de ter recebido da construtora
OAS a reforma e reserva de um apartamento tríplex no Guarujá (SP). Lula nega as
acusações.
Leia alguns dos momentos em que o
embate entre Lula e Moro foi marcado por tensão.
Mandar prender
Logo no início da audiência, Moro
classificou como "boato" a informação de que o ex-presidente poderia
ser preso depois de prestar depoimento.
Mas o juiz, ao longo da sessão,
fez questão de questionar Lula sobre a declaração que este deu no dia 5 de
maio, durante um evento do PT. "Se eles não me prenderem logo, quem sabe
um dia eu mando prendê-los pelas mentiras que eles contam", disse Lula na
ocasião.
Perguntou o que Lula quis dizer
com a declaração e insistiu em saber se ele pretende mandar prender agentes
públicos. Lula disse tratava-se "um ato de força de expressão" e que
a história um dia julgaria se houve abuso de autoridade por parte da Polícia
Federal e do Ministério Público.
"O dia que o senhor for
candidato o senhor vai ter muita força de expressão", disse o petista ao
juiz. "Acha apropriado um ex-presidente da República dizer isso?",
reagiu Moro. "Acho que não, acho que não", respondeu Lula.
Moro insistiu em saber se o
ex-presidente estaria disposto a mandar prender autoridades. "Não sei, não
sei, não prendo. Presidente não prende ninguém, não conheço na história, a não ser
no regime autoritário." "Então, talvez o senhor não devesse fazer
esse tipo de declaração", advertiu o juiz da Lava Jato.
A senha é "Lula"
Lula falou que os últimos 30 dias
iriam entrar para a história como o "mês Lula". "Foi o mês em
que vocês trabalharam, sobretudo o Ministério Público, para trazer todo mundo
(acusados na Lava Jato) para dizer uma senha chamada Lula. Se não dissesse
Lula, não valia", reclamou o presidente.
Moro, em seguida, pergunta se Lula
entende que existe uma conspiração contra o ex-presidente. O petista diz que
não, mas reclama que as delações premiadas viraram sinônimos de alvará de
soltura e chamou atenção para a vida de "nababo dos delatores".
Num segundo momento, Lula voltou a
reclamar que o objetivo dos acusadores seria fazer com que os investigados
falassem o nome dele, e embate seguiu.
"Se pudesse ressuscitar o
Conde de Montecristo, ele viria falar aqui 'foi o Lula o culpado'. Eu tenho
consciência do que eu fiz. E eu não fiz o que meus adversários pensam que eu
fiz", afirmou o ex-presidente.
Moro reagiu: "Senhor
presidente, essas afirmações que o senhor fez, com todo o respeito, elas estão
equivocadas. Ninguém dirige essas colaborações com esse intuito
específico".
Responsabilidade pela crise
Lula, durante o depoimento, negou
saber sobre desvios na Petrobras.
Mas o juiz o questionou mais de
uma vez se o ex-presidente alimentava um sentimento sobre os prejuízos causados
pelos cofres públicos causados pelo esquema de corrupção na estatal.
"Se a Petrobras soubesse da
propina lá poderia ter evitado", disse Lula.
Diante da postura de Moro manter o
questionamento, Lula foi mais incisivo e afirmou: "Dr. Moro, o senhor se
sente responsável de a operação Lava Jato ter destruído a indústria da
construção civil nesse país? O senhor se sente responsável por 600 milhões de pessoas
(sic) que perderam emprego no setor de óleo e gás da construção civil? Eu tenho
certeza que não."
"O senhor entende que o que
prejudicou essas empresas foi a corrupção ou o combate à corrupção?",
rebateu o juiz.
iPad dos netos
Em outro momento, Lula reclama da
demora em se restituir equipamentos apreendidos em março de 2016, durante a
Operação Aletheia - etapa da Lava Jato que levou coercitivamente o
ex-presidente para depor e cumpriu mandados de busca e apreensão na casa do
petista e de parentes dele.
"Aliás, eu queria aproveitar,
já que o senhor falou dessa coerção, determine que a Polícia Federal devolva os
iPads dos meus netos. É uma vergonha, iPad de neto de 5 anos está (apreendido)
desde março do ano passado", protestou Lula.
"Só pedir a restituição que é
devolvido", disse Moro.
"Não, não, não, não. Já pedi,
já foi falar. Não pense que as coisas funcionam. Isso é que nem no governo. Não
pense que tudo que o senhor pede as pessoas fazem rapidamente", disse,
para, em seguida, reclamar da postura dos policiais federais que executaram as
ordens judiciais. "O senhor não viu como a Polícia Federal entrou na casa
dos meus filhos. Não é com a educação que entraram na minha. Na casa dos meus
filhos quebraram porta, quebraram portão."
Moro reagiu com surpresa.
"Não tem como tomar providência se o senhor não faz essa informação. Isso
que o senhor está falando agora, nunca ouvi", disse, afirmando que se Lula
tivesse reclamações sobre a conduta da PF, poderia informar.
PowerPoint
Lula também reclamou do Ministério
Público, que atua como acusação no processo.
"Acho que o Ministério
Público fez uma acusação baseado em denúncias de imprensa. Todo esse processo é
subordinado à Época, ao Globo, à Veja. Na
verdade, o Ministério Público está prestando contas à esses órgãos de
imprensa", disse o ex-presidente.
Uma das reclamações mais veementes
e enfáticas foi em relação à apresentação em PowerPoint feita pelo líder da
força-tarefa da Lava Jato no Ministério Público, o procurador Deltan Dallagnol,
na qual ele colocava várias setas apontando para o nome de Lula.
"O contexto está baseado num
PowerPoint mal feito. Aliás, o dr. Dallagnol não está aqui, para explicar
aquele famoso PowerPoint. Aquilo é uma caçamba, cabe tudo. Aquele PowerPoint
não está julgando Lula pessoa física ou jurídica, está julgando Lula presidente
e isso quero discutir", reclamou o presidente.
E, ao final do depoimento, Lula
disse que, se for absolvido, Moro teria de se preparar para ataques "muito
mais fortes". O juiz rebateu, dizendo: "Já sou atacado por bastante
gente, inclusive por blogs que supostamente são patrocinados pelo senhor".
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