Fabio
Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
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Gravação não seria aceita em
'situação normal', diz perito
Ricardo Molina apontou nesta
segunda supostas descontinuidades e mascaramentos em áudio de conversa entre o
presidente e Joesley Batista, da JBS.
Contratado pelos advogados do
presidente Michel Temer, o perito Ricardo Molina afirmou nesta segunda-feira
(22) que a gravação de uma
conversa entre Temer e o dono da JBS Joesley Batista, de março
deste ano, é "imprestável" como prova numa investigação e não seria
aceita em uma "situação normal".
Com base na gravaçãoe em
informações prestadas por Joesley e o irmão Wesley Batista, o ministro do
Supremo Tribunal Federal (STF) Luiz Edson Fachin autorizou a abertura de inquérito para investigar Temer pelos
crimes de corrupção passiva, obstrução à Justiça e organização criminosa.
As delações dos empresários já foram homologadas por Fachin e,
como provas, eles entregaram ao Ministério Público Federal documentos,
gravações, fotos e vídeos.
Para Ricardo Molina, há
"inúmeras descontinuidades, mascaramentos por ruído, longos trechos
ininteligíveis ou de inteligibilidade duvidosa" na gravação relacionada ao
presidente Temer.
"Ela [gravação] deveria ter
sido considerada imprestável desde o primeiro momento. E assim o seria, se
aparecesse no bojo de um caso sem as conotações políticas que aqui
prevaleceram", afirmou o perito em entrevista ao lado de advogados de
Temer.
Em um determinado momento da
entrevista, Molina fez, ainda, uma comparação. Disse que quando um consumidor
vai ao supermercado e encontra uma peça de carne com um pedaço podre, descarta
toda a peça e não retira apenas o pedaço contaminado.
"Numa situação normal,
essa gravação jamais seria aceita como prova. Não existe prova mais ou menos
boa. Ou ela é boa ou não presta."
Molina também questionou a
transcrição da Procuradoria Geral da República (PGR) de um dos trechos mais
comprometedores sobre Temer, no qual Joesley teria dito ao presidente
"todo mês", numa possível referência ao pagamento de propina ao
deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Para o perito, o empresário disse
"tô no meio". "Não falou a palavra mês, porque procurei a
palavra mês de outras vezes em que o Joesley falou. Não tem 's' nenhum [no
final], é 'tô no meio', é isso que ele fala, não tem 'todo mês'", disse
Molina.
O perito também questionou outro
dos principais trechos, nos quais Temer disse "tem que manter isso,
viu?", numa suposta referência à ajuda de Joesley a Cunha.
Áudio de gravação da delação da JBS
Molina disse que, num intervalo de
17 segundos do diálogo, neste momento, a equipe dele identificou ao menos 5
pontos de "possível edição", com cortes na gravação.
"Descontinuidades não ocorrem
de modo previsível. Acontece de vez em quando sem nenhuma explicação",
afirmou o perito.
Autenticidade
Durante a apresentação, na qual
usou diversas imagens de análise do áudio representado por ondas sonoras,
Molina mostrou pontos em que ruídos podem ter sido usados para edição, juntando
partes da gravação com outras, não necessariamente em sequência.
Ele também disse que a gravação
entregue por Joesley ao Ministério Público não é a original feita no gravador,
especialmente por conta dos nomes dados aos arquivos digitais: “PR1 14032017”,
“PR2 16032017” e “PR2 A 13032017”. Molina disse que o nome do arquivo original
dado pelo gravador teria sido outro.
“A gravação não pode ser
considerada autêntica, do ponto de vista técnico-pericial. É algo que eu posso
garantir que não foi manipulada a posteriori”, disse.
Molina também disse considerar
“provável” que a gravação tenha passado por edição. “O mais provável é a
extração de trechos, porque isso é muito fácil. A inclusão de trechos é muito
mais complicada. Você corta um pedaço e ninguém vai saber o que aconteceu”,
disse.
Ministério Público
Molina chamou a atenção, ainda,
para a análise feita pelo Ministério Público ao analisar o áudio. O documento
informa que a gravação foi ouvida pelos procuradores "sob a perspectiva
exclusiva da percepção humana" e "sem auxílio de equipamentos
especializados" para avaliar a integridade do material.
Questionado sobre o uso do áudio
pelo órgão, Molina disse que a Procuradoria Geral da República foi
"ingênua e incompetente".
"A informação dada [no
documento] é coisa de leigo, de quem não sabe mexer em áudio. Aquelas pessoas
que assinaram não entendem nada de áudio. Se colocassem elas aqui na minha
frente, começariam a gaguejar", afirmou o perito.
Procurada pelo G1, a
PGR informou que não irá se pronunciar sobre as declarações do perito.
Por Renan Ramalho, G1, Brasília
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