Manifestante
que protestava contra Donald Trump é agredido
por apoiador do presidente dos Estados Unidos,
durante
protesto em Huntington Beach, na
Califórnia
(Irfan Khan/Getty Images)
|
Uma foto que passa impressão
oposta aos fatos mostra como, na ânsia de atacar o presidente, a realidade é
retorcida por gente que deveria fazer melhor
Primeiro, vamos lembrar uma frase
inesquecível de Robert Tecumseh Sherman, o general da Guerra Civil americana
que tocou fogo em estados do Sul. “Se eu pudesse, fuzilaria todos os repórteres
da face da terra, mas as reportagens sobre o inferno começariam a chegar antes
do café da manhã”, disse o general frasista que proibiu jornalistas de o
acompanharem no fronte.
Uma invenção revolucionária da
época, o telégrafo, permitia o envio de noticias quentinhas sobre a tragédia
nos campos de batalha. Sherman achava que os correspondentes davam informações
ao inimigo. Um jornalista que desafiou a proibição de cobrir as tropas do
general foi levado a corte marcial – e absolvido.
A historiazinha é para lembrar os
percalços, e a importância, da profissão de jornalista. E também como é fácil
cair em tentação quando a militância política obscurece até jornais sérios,
obrigados por sua reputação não a ser imparciais, mas a manter alguma relação
com a realidade.
A foto acima foi acompanhada de
uma série de variações sobre o mesmo título: “Briga irrompe em manifestação
pró-Trump em praia da Califórnia”. Uma imagem vale mais do que mil palavras –
inclusive quando passa uma impressão completamente diferente da
realidade.
Trumpistas de boné vermelho e
musculatura avantajada parecem espancar um pobrezinho franzino que nobremente
defendia o bem e a democracia. Até perceber o que aconteceu, o leitor tem que
ler bastante em jornais como o Los Angeles Times e o Guardian (que ainda
teve a cara de pau de colocar o subtítulo: “Pelo menos um manifestante foi
aspergido com gás de pimenta quando manifestantes anti-Trump se chocaram com
defensores do presidente”).
PÁTIO DE COLÉGIO
Os videos dão uma ideia melhor. Um
grupo reduzido de trumpistas saiu em marcha pela praia de Boca Chica. Uns gatos
pingados vestidos de black blocs – roupa preta, mochila, tênis e lenço cobrindo
o rosto – tentaram impedir a passagem. Uma organizadora da manifestação
pró-Trump foi atacada com spray de pimenta.
Quatro dos anti-Trump, que agora
nos Estados Unidos usam a denominação europeia, antifa (ou antifascistas, um
grupo de choque da extrema-esquerda), foram presos. Claro que foram eles
os agressores, mas sem nada da violência associada a grupos assim. Na verdade,
um deles caiu na areia da praia e levou um socos de briguinha de pátio de
colégio.
Um trumpista enorme, careca, barba
no meio do peito, deu umas bandeiradas na cabeça do indivíduo – bandeira de
haste flexível, é claro. A briga foi quase patética, mas o uso de imagens que
contam histórias falsas, frases na forma passiva para passar mensagens
adulteradas e outros truques do baixo jornalismo por publicações de qualidade,
mesmo por seus padrões “progressistas”, como dizem, envergonha a
profissão.
Quanto mais os defeitos de Trump e
de seus eleitores mais entusiasmados são exagerados e até inventados, mais a
causa “progressista” é rejeitada em sua totalidade por aqueles a quem pretende
convencer. Ou será que os autores das distorções só querem falar para o próprio
grupo até o fim dos tempos? As face news, no campo contrário, começaram
exatamente assim.
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