© STF Rodrigo
Janot, Mauricio Macri e Cármen Lúcia
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No último sábado, o ex-presidente
do Peru Alejandro Toledo teve sua casa vasculhada e documentos apreendidos por
uma equipe da Procuradoria e da Polícia Nacional de seu país, que também
pediram sua prisão preventiva.
Na Colômbia, as autoridades
anunciaram nesta terça suspeitar de que a campanha do presidente atual, o Nobel
da Paz Juan Manuel Santos, teria recebido, por meio de um intermediário,
propina paga pela Odebrecht.
Ambos negam qualquer ilegalidade.
Representantes do Ministério
Público e da Polícia de diferentes países da América Latina têm trocado
informações com investigadores brasileiros por meio de acordos de cooperação
internacional para apurar supostos esquemas de corrupção, lavagem de dinheiro,
fraude em contratos e doações irregulares de campanha.
Além de Santos e Toledo, estão
sendo investigados outros políticos de alto escalão e ex-representantes dos
governos colombiano e peruano e suspeitos de envolvimento em esquemas em outros
países da região: Argentina, Chile, República Dominicana, Venezuela, Panamá,
México, Guatemala e Equador.
A Odebrecht já admitiu ao
Departamento de Justiça dos EUA ter pago US$ 788 milhões em propina, entre 2001
e 2016, a funcionários de governo, representantes desses funcionários e
partidos políticos do Brasil e de 11 países (os citados acima, exceto o Chile -
que está ligado a delações de outra empreiteira -, mais Angola e Moçambique).
Procurada pela BBC Brasil para
comentar as investigações que detalhamos abaixo, a Odebrecht informou que
"não se manifesta sobre o tema, mas reafirma seu compromisso de colaborar
com a Justiça, tanto no Brasil quanto no exterior".
© AP Alejandro
Toledo
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"A exemplo do acordo
anunciado em dezembro com autoridades do Brasil, dos Estados Unidos e da Suíça,
a Odebrecht também está disposta a contribuir com as investigações realizadas
pela Justiça de outros países", esclareceu.
A OAS, investigada no Chile, não
respondeu até a conclusão desta reportagem.
Pedido de prisão no Peru
No Peru, a investigação está em
estágio avançado. O Ministério Público peruano anunciou, em sua conta do
Twitter, que pediu a prisão preventiva de Alejandro Toledo como parte da
investigação que apura pagamento de propina feito pela Odebrecht a integrantes
do governo.
As investigações no país estão
ligadas à construção da rodovia Interoceânica - que liga o Brasil ao oceano
Pacífico -, obra comandada pela Odebrecht. O Ministério Público peruano
suspeita que a empresa brasileira pagou US$ 29 milhões de propina no país entre
2005 e 2014.
De Paris, Toledo, que foi
presidente do Peru entre 2001 e 2006, deu uma entrevista por Skype nesta semana
ao programa de TV peruano Cuarto Poder e negou a acusação.
Antes das suspeitas levantadas com
a Lava Jato, o ex-presidente já vinha sendo investigado por suspeita de lavagem
de dinheiro.
© Twitter Twitter
do Ministério Público do Peru
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Diante do escândalo, o atual
presidente do Peru, Pedro Pablo Kuczynski, quer que a Odebrecht deixe de atuar
no país.
Em entrevista à emissora local
RPP, ele afirmou que o grupo está "manchado pela corrupção".
"Eles têm que ir embora. Acabou."
Em comunicado, a Odebrecht pediu
desculpas à sociedade peruana e seus trabalhadores por "erros graves"
cometidos por executivos da empresa.
"A empresa está fazendo todo
o possível para expor e esclarecer em detalhes todos os fatos para que a
Justiça chegue a todos os envolvidos, permitindo também o pagamento de uma
compensação justa para o Estado", diz a nota, na qual a empresa se disse
determinada a manter os projetos em curso.
Busca e apreensão no Chile
A Polícia de Investigações do
Chile esteve nesta terça em três escritórios da construtora OAS em Santiago
para cumprir mandados de busca e apreensão, segundo a agência de notícias Efe.
Alvo da Lava Jato, a empresa,
cujos principais representantes assinaram acordos de delação nos quais
detalharam o esquema de corrupção, também é investigada por supostas
contribuições irregulares para campanhas políticas no Chile.
Os policiais, ainda conforme
noticiou Efe, procuraram por registros contábeis da empresa de 2012 a 2015, e a
operação faz parte da investigação que apura suspeitas na campanha presidencial
de Marco Enríquez-Ominami em 2013, derrotado por Michelle Bachelet e que teria
usado um avião da empresa brasileira.
Os escritórios alvos da operação
estão localizados nas comunas de Santiago, Huechuraba e Lampa.
Autoridades chilenas já
solicitaram ao Brasil acesso a depoimentos e mensagens de WhatsApp do
ex-presidente da OAS, Leo Pinheiro, e do publicitário Duda Mendonça, que
mencionam contato pessoas ligadas a políticos chilenos, de acordo com
reportagem do jornal El Mercurio.
Acredita-se que esses documentos
podem ajudar a esclarecer colaborações suspeitas feitas pela empresa brasileira
às campanhas de Enríquez-Ominami e Bachelet - ambos negam qualquer
irregularidade.
Doação na Colômbia
© Getty
Images Juan Manuel Santos
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Autoridades da Colômbia investigam
se a campanha presidencial de Juan Manuel Santos foi abastecida em 2014 com
aproximadamente US$ 1 milhão de recursos oriundos de propina paga pela
Odebrecht.
As suspeitas envolvem uma
complicada transação financeira na qual o repasse à campanha teria sido feito
por meio de uma empresa do ex-senador colombiano Otto Nicolás Bula.
"Do US$ 1 milhão, teria sido
descontada uma comissão de 10% a favor de terceiros já identificados",
assinala comunicado do Ministério Público colombiano.
Investiga-se se essa cifra faz
parte dos US$ 4,6 milhões em propinas que teriam sido pagas pela empresa
brasileira para construir a Rota do Sol, uma estrada que liga as cidades
colombianas de Ocaña e Gamarra, por meio de um contrato assinado o ex-senador
Bula em 2013.
Ele está preso por causa desse
caso desde janeiro. O ex-gerente da campanha presidencial de Santos, Roberto
Prieto, negou conhecer o ex-senador. Santos rechaça as acusações.
Nome de argentinos
Nesta semana, o presidente da
Argentina, Mauricio Macri, pediu que a mais alta corte brasileira revele os
nomes dos argentinos envolvidos no esquema da Lava Jato.
© STF Mauricio
Macri e Cármen Lúcia
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O pedido foi feito diretamente à
presidente do Supremo Tribunal Federal, Cármen Lúcia, durante encontro nesta
terça, segundo o jornal argentino Clarín.
Ainda de acordo com a publicação,
o Ministério da Economia da Argentina está elaborando uma lista de todas as
reuniões que assessores da área econômica e de planejamento tiveram com
representantes da construtora brasileira Odebrecht nos últimos 10 anos.
O pedido foi feito por uma
deputada e devem incluir políticos do governo de Cristina Kirchner e de Macri.
A própria Odebrecht admitiu que
pagou na Argentina pelo menos US$ 35 milhões em propinas durante a gestão da
ex-presidente.
E o jornal La Nacion revelou
que foram identificados cinco repasses que ultrapassam a cifra de meio milhão
de dólares feitos em 2013 por um ex-sócio do doleiro brasileiro Alberto Youssef
a Gustavo Arribas, indicado por Macri para comandar o serviço de inteligência
da Argentina.
À época, Arribas vivia no Brasil e
se dedicava a negociar jogadores de futebol. Ele nega se tratar de dinheiro
fruto de propina.
Republica Dominicana e Venezuela
No final de janeiro, a Venezuela
anunciou que abriria uma investigação sobre a atuação da Odebrecht no país.
© Getty
Images Placa da Odebrecht em Caicara
Del Orinoco, Venezuela
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A apuração foi motivada pelo
documento divulgado pelo Departamento de Justiça dos EUA no qual a empresa
brasileira afirmou ter pago US$ 98 milhões a funcionários venezuelanos e
intermediários para obter contratos.
Na República Dominicana, por sua
vez, já houve execução de mandado de busca e apreensão em escritório da
Odebrecht no país e as autoridades locais se preparam para interrogar o
ex-ministro de obras públicas sobre a propina milionária paga pela empresa
brasileira naquele país.
As investigações também foram
motivadas pelo acordo firmado pela Odebrecht nos EUA.
Cooperações internacionais
Em setembro de 2015, o secretário
de Cooperação Internacional do Ministério Público Federal, Vladimir Aras, disse
à BBC Brasil que investigação da Lava Jato no exterior ainda estava no início,
mas que avançaria contra políticos.
Pouco mais de um ano depois da
declaração de Aras, em dezembro do ano passado, o Ministério Público Federal já
acumulava 120 pedidos de cooperação com autoridades estrangeiras para obter
documentos, rastrear contas e transferências bancárias e trocar informações e
evidências.
A lista de acordos incluiu mais de
30 países, entre eles Peru, Colômbia, Argentina, República Dominicana e Angola,
onde há negócios sob suspeita, e ainda paraísos fiscais como Antígua, Ilhas
Virgens Britânicas e Cayman, usados pelos suspeitos para manter o dinheiro no
exterior pagando menos tarifas.
Ao todo, 18 países pediram ajuda
do Ministério Público Federal brasileiro para conduzir investigações
relacionadas à Lava Jato.
As investigações no exterior devem
ser impulsionadas pelo acordo de delação premiada da Odebrecht, já homologado
pelo Supremo Tribunal Federal e que conta com depoimentos de 77 funcionários da
empresa brasileira detalhando como operacionalizavam fraudes em licitações e
pagamentos de propina.
Até o momento, contudo, sabe-se o
conteúdo do depoimento de apenas um dos executivos - o ex-vice-presidente de
Relações Institucionais Cláudio Melo Filho.
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