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Geddel Vieira Lima e Eduardo Cunha
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A Polícia Federal deflagrou na
manhã de sexta-feira da semana passada a operação “Cui Bono?”, expressão em
latim que significa “a quem interessa?”, que deixou o Planalto de cabelo em pé.
Desdobramento da Operação Catilinárias, deflagrada no final de 2015, a nova
operação investiga quadrilha que arrecadava propinas na Caixa Econômica Federal
entre 2011 e 2013.
Na mira dos investigadores está o
ex-ministro Geddel Vieira Lima, responsável, até pouco tempo atrás, por fazer a
articulação política entre o governo de Michel Temer e o Congresso. Também são
apontados como integrantes do esquema criminoso: o ex-presidente da Câmara
Eduardo Cunha, o doleiro Lúcio Funaro, ambos presos na Operação Lava Jato, e o
vice-presidente da instituição financeira pública Fábio Cleto, além de
empresários interessados em receber recursos do banco estatal.
Confira o que se sabe até agora
sobre a nova operação:
O que é
A “Cui Bono?”, deflagrada nesta
sexta-feira, é um desdobramento da
Operação Catilinárias, de dezembro de 2015, na qual foi encontrado um celular
na casa de Eduardo Cunha que registrava, entre outros, trocas de mensagens
entre o ex-deputado e Geddel Quadros Vieira Lima.
Geddel foi vice-presidente de
Pessoa Jurídica da Caixa Econômica Federal entre 2011 e 2013, período
investigado pela PF. Segundo o Ministério Público ele, Eduardo Cunha e Lúcio
Funaro, ainda contando em alguns momentos com a participação de Fabio Ferreira
Cleto, desviaram “de forma reiterada recursos públicos a fim de beneficiarem a
si mesmos, por meio do recebimento de vantagens ilícitas, e a empresas e
empresários brasileiros, por meio da liberação de créditos e/ou investimentos
autorizados pela Caixa Econômica Federal em favor desses particulares”
Como funciona
Entre os documentos encontrados
pela PF, obtidos por VEJA, estavam papéis com uma relação de empresas que
pleiteavam empréstimos e financiamentos na Caixa, além de informações detalhadas
sobre taxas de juros, prazos das transações e os valores de cada operação. Uma
folha, destacada com o título “Pipe Line Geddel” (o equivalente a “Duto
Geddel”), faz referências a companhias como Eldorado, Flora, Vigor, Bertin e
J&F. Há ainda outro material, chamado de “Pendência Geddel”, que lista uma
série de operações de crédito envolvendo a J&F, a Hypermarcas e a Gol.
Documento encontrado pela PF:
Geddel atuava em operações da Caixa
Depois de defender os pleitos de
cada companhia, Geddel repassava informações confidenciais para os demais
integrantes da quadrilha, como Eduardo Cunha e Lúcio Funaro, para que pudessem
achacar empresas que pleiteavam recursos
do banco estatal.
As propinas eram pagas tanto em
contas na Suíça como em dinheiro vivo e para empresas do operador Lúcio Funaro.
A principal prova da atuação da
quadrilha está em mensagens enviadas do celular de Cunha para Geddel. Ao
discutirem o caso Marfrig, em julho de 2012, Geddel reporta ao ex-deputado que
o “voto sai hj”, em referência à liberação dos recursos que beneficiariam a
empresa. Um mês depois, a Marfrig, quando estava com a corda no pescoço e
prestes a se desfazer de alguns negócios para quitar a sua dívida, fechou um
empréstimo de 350 milhões de reais com Caixa.
Ao longo das investigações da
Operação Lava Jato, Ministério Público e Polícia Federal já haviam recolhido
indicativos da atuação criminosa de Eduardo Cunha junto ao fundo de
investimento do FGTS (FI-FGTS). Em delação premiada, Fábio Cleto, por sua vez,
detalhara que o esquema de Cunha no FI-FGTS também era replicado na Caixa
Econômica, tanto na vice-presidência de Fundos de Governo e Loterias, presidida
pelo próprio Cleto, quanto na vice-presidência de pessoa jurídica, sob
responsabilidade de Geddel.
Geddel relata, também por
mensagem, a Cunha pendências do grupo J&F Investimentos com o FI-FGTS e
avisa: “Fala p regularizar la”. No caso do Grupo Bertin, cujos dirigentes
também caíram na rede de investigações do petrolão, a Polícia Federal mapeou
uma mensagem de setembro de 2012 na qual Cunha intercede junto a Geddel em
favor do grupo e cobra: “Precisa ver no assunto da bertin a carta de conforto
com os termos que necessita”.
A relação entre os integrantes da
quadrilha não era um mar de rosas. Conforme revelou o Radar, Funaro chegou a
falar de Geddel a Cunha referindo-se a ele como “porco folgado” e disse estar
disposto a sair na porrada: “tenho total condição”.
Quem está na mira
Além de Geddel, Cunha, Funaro e
Cleto, o ex-número 2 de Michel Temer, Roberto Derziê de Sant’Anna, também á
alvo da investigação. Na análise de mensagens recuperadas de um celular
encontrado na residência de Cunha, durante a Operação Catilinária, os
investigadores encontraram menção a “Desirre”, codinome atribuído a Derziê. Na
época dos diálogos, em 2012, Derziê era diretor-executivo de Pessoa Jurídica da
Caixa. Depois de exercer essa função, foi nomeado secretário-executivo da
Secretaria de Relações Institucionais (SRI), em 2015, no período em que Temer,
ainda como vice-presidente, assumiu a pasta, responsável pela articulação
política com o Congresso.
De acordo com o G1, relatório da
PF diz que Cunha e Geddel também discutiram repasses para o Partido Social
Cristão (PSC) a pedido do Pastor Everaldo.
Apesar de estar fora da operação
deflagrada nesta sexta-feira, o empresário Eike Batista também está na mira dos
investigadores. A Polícia Federal encontrou mensagens de Cunha que tratam de
negócios do interesse do fundador do grupo EBX. Em abril de 2012, o
ex-presidente da Câmara mandou mensagem para uma pessoa identificada como
Gordon Gekko. O apelido, uma referência ao especulador do mercado financeiro
interpretado pelo ator americano Michael Douglas no filme Wall Street – O
Dinheiro Nunca Dorme , era usado por Fábio Cleto. “E Eike?”, indagou o
ex-presidente da Câmara. “Eike tudo bem, abordado o tema do FI”, respondeu
Cleto.
Cunha não era o único interessado
em ajudar o empresário Eike Batista, que chegou a ser um dos homens mais ricos
do mundo antes de as suas empresas derreteram na Bolsa de Valores. Quatro meses
depois da mensagem de Cunha, em junho de 2012, o ex-presidente da Câmara André
Vargas escreveu para Cleto: “Eike estará com hereda hoje?”. Hereda é Jorge
Hereda, ex-presidente da Caixa.
Mensagens trocadas entre André
Vargas e Fábio Cleto: suspeita de negociatas em favor de Eike
As conversas também arrolam na
investigação outros políticos peemedebistas, de acordo com o G1. Em 2012, Lúcio
Funaro diz a Fábio Cleto: “Tem que ver essa situação da Comport e Hypermarcas
aí dentro pra andar rápido porque eles dois tão contribuindo com o Chalita e
querem a contrapartida”. Em 2012, Gabriel Chalita foi candidato a prefeito de
São Paulo pelo PMDB. A investigação não conclui se Chalita recebeu alguma
doação do esquema.
Veja.com
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