Segundo o
Presidente Maduro, a meta da chamada
"grande
missão de abastecimento soberano e seguro"
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Em entrevista à DW, Antonio
Pestana, presidente da Confederação Nacional de Produtores Agrícolas, fala
sobre o potencial não aproveitado das terras venezuelanas e a não rentabilidade
da agricultura no país.
No início da última semana, o
presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, anunciou a criação de um programa
emergencial para conter a escassez de alimentos que há meses aflige o país
caribenho.
Segundo Maduro, a meta da chamada
"grande missão de abastecimento soberano e seguro" é fazer frente à
"guerra econômica" que o empresariado trava com seu governo para
deixar de produzir bens de primeira necessidade, monopolizá-los, especular com
seus preços e incentivar tanto o contrabando quanto as altas taxas de inflação.
Em entrevista à Deutsche Welle,
Antonio Pestana, presidente da Confederação Nacional de Associações de
Produtores Agropecuários (Fedeagro) da Venezuela explica que, no país, existem
35 milhões de hectares de terra com grande potencial de cultivo, mas somente 11
milhões são aproveitados.
De acordo com Pestana, controles rígidos fazem com que o preço de muito dos bens de primeira necessidade fiquem abaixo dos custos de produção: "Em outras palavras, a produção agrícola não é rentável." No entanto, se as devidas medidas forem tomadas, a economia da Venezuela pode mudar rapidamente, prevê.
De acordo com Pestana, controles rígidos fazem com que o preço de muito dos bens de primeira necessidade fiquem abaixo dos custos de produção: "Em outras palavras, a produção agrícola não é rentável." No entanto, se as devidas medidas forem tomadas, a economia da Venezuela pode mudar rapidamente, prevê.
DW: Como a Fedeagro explicaria
a um público estrangeiro os fatores que propiciam escassez de alimentos na
Venezuela?
Antonio Pestana: As
principais causas da situação dramática que estamos vivendo são a falta de
garantias econômicas, a ausência de segurança jurídica e pessoal; a escassez de
insumos e profissionais capacitados; os sérios problemas de desenvolvimento
tecnológico e de financiamento; a falta de competitividade da produção nacional
frente às importações. Controles rígidos fazem com que o preço de muitos dos
bens de primeira necessidade estejam abaixo dos custos de produção. Em outras
palavras, a produção agrícola não é rentável.
A integridade de nossas unidades
de produção também não está garantida. Segundo números oficiais, o governo
confiscou 5,2 milhões de hectares em 1,2 mil unidades de produção na última
década. Atualmente, as terras confiscadas produzem menos do que o faziam com
seus proprietários originais, ou não produzem. Além disso, há a falta de
segurança: a violência ligada a roubos e sequestros, por exemplo, provoca danos
nas terras agrícolas do país. Em alguns casos, somos impedidos de chegar a
nossas unidades de produção.
Com exceção dos fertilizantes
nitrogenados, a Venezuela não produz agroquímicos: é preciso importá-los. No
entanto, como temos um controle muito rigoroso de divisas e os dólares são
distribuídos de forma discricionária, o setor agrícola não foi capaz de honrar
seus compromissos com empresas estrangeiras. Já somos vistos como
inadimplentes, e isso nos privou de qualquer linha de crédito. Agora dependemos
do pouco que o Estado importa, e essas limitações fazem com que as áreas de
plantio sejam reduzidas consideravelmente.
As empresas privadas, que
costumavam importar máquinas, implementos agrícolas e peças de reposição, já
não o fazem mais. Também neste caso, estamos totalmente dependentes das compras
feitas pelo Estado. A vida útil de 65% de nossos tratores e de 85% das
colheitadeiras expirou. Esse grau de obsolescência e a falta de peças de
reposição reduziram ao mínimo a nossa capacidade de produção. Por outro lado, o
governo não tem dado a menor importância à capacitação de pessoal, geração e
transferência de conhecimento.
Que propostas a Fedeagro tem
feito para que se supere a atual situação de baixa produtividade e falta de
alimentos?
De todos os setores econômicos do
país, é provável que a Fedeagro seja a federação com maior nível de comunicação
com o governo. No entanto, um diálogo que não conduza a ações concretas não é
muito útil. Entre outros, a Fedeagro propôs um marco legal com vista a garantir
a segurança jurídica, econômica e pessoal dos produtores. Também sugeriu planos
de investimento em formação tecnológica e aquisição de máquinas, implementos
agrícolas e peças de reposição para aumentar nossos níveis de produtividade.
Francisco Martínez, presidente
da Federação de Câmaras e Associações de Comércio e Produção da Venezuela
(Fedecamaras), afirmou em janeiro último que, se forem tomadas as medidas
adequadas, a Venezuela poderia se recuperar da escassez dentro de um ano. Você
concorda com essa estimativa?
Concordo. Se conseguíssemos
recuperar a confiança do empresariado nacional, dos investidores estrangeiros e
de nossos credores; se o governo deixasse de ser o principal ator da economia
nacional; se fosse fixada uma taxa única de câmbio que flutuasse com a
economia; se realmente lutássemos contra a corrupção; se todas as propriedades
confiscadas fossem devolvidas – a Venezuela poderia mostrar, dentro de um ano,
uma economia muito diferente da que tem hoje.
Da Deutsche Welle
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