O Morro
Santa Marta, em Botafogo, na Zona Sul, foi o primeiro
a receber
uma UPP (Foto: Instituto Pereira Passos / César Duarte)
|
Pesquisa ouviu 2 mil pessoas de 20
comunidades do Rio que têm UPP. Objetivo foi avaliar impacto social do projeto
de pacificação de favelas.
A maioria dos moradores de 20
comunidades do Rio que têm Unidades de Polícia Pacificadora (UPP), acreditam
que o modelo de policiamento, implantado na cidade a partir de 2008, irá acabar
após a Olimpíada. É o que aponta uma pesquisa divulgada nesta terça-feira (5)
pela Fundação Getúlio Vargas.
Intitulada “Dimensionamento dos
impactos sociais das UPPs em favelas cariocas”, a pesquisa ouviu cerca de 100
pessoas em cada uma das 20 comunidades, totalizando 2 mil entrevistados.
O estudo foi dividido em duas
etapas. A primeira entre 2 de abril e 1º de junho de 2014, nas “UPPs antigas”:
Santa Marta, Cidade de Deus, Jardim Batam, Babilônia, Tabajaras, Providência,
Borel, Formiga, Andaraí e Vidigal. A segunda etapa foi feita entre 6 de
novembro do ano passado a 8 de janeiro deste ano, em comunidades classificadas
como “UPPs recentes”: Pavão-Pavãozinho/Cantagalo, Alemão, Vila Cruzeiro,
Rocinha, Manguinhos, Jacarezinho, Barreira do Vasco/Tuiuti, Cerro Corá, Lins e
Vila Kennedy.
Nos dois grupos, 43,4% dos
entrevistados responderam que a UPP vai acabar após os Jogos Olímpicos. Entre
os moradores das UPPs antigas, 42,7% responderam que o modelo vai continuar. Já
entre os que vivem nas UPPs recente, apenas 40,2% acreditam na manutenção da UPP.
Já quando questionados se a UPP
deve ou não acabar após a Olimpíada, 87,4% dos moradores da UPPs antigas
responderam que o modelo deve continuar, enquanto apenas 6% disse que ele deve
acabar. No grupo das UPPs recentes, 64,2% dos entrevistados disseram que deve
continuar, contra 23,2% dos que opinaram que deve acabar.
"Os moradores das comunidades
com UPP sentem que o projeto não é feito para eles, sentem que tem mais a ver
com a presença de turistas em grandes eventos, como Olimpíadas e Copa do Mundo,
e também por perceber, principalmente nas comunidades com UPPs mais recentes,
que o tráfico e os tiroteios não diminuíram", disse Marcio Grijó,
coordenador do FGV Opinião, um dos responsáveis pela pesquisa. "Mas eles
querem que o projeto continue porque sentem que alguns aspectos melhoraram,
principalmente nas UPPs mais antigas, do início do projeto, especialmente com
relação aos serviços públicos e a violência em algumas dessas
comunidades", explicou ele.
Há também críticas em relação as
abordagens policiais, principalmente nos recortes relacionados à idade e cor de
pele. "É possível perceber que, quanto mais jovem, maior a desconfiança em
relação à UPP. Entre a população negra, há rejeição também. Isso porque o jovem
negro é o mais afetado. As revistas tendem a ser maiores com a população jovem
e negra. A população entende a revista como necessária, mas crítica as práticas
dos policiais, a abordagem, no meio da noite, sem ninguém por perto. Muitas mulheres reclamam, por exemplo, de
serem revistadas por homens", diz a pesquisadora Ludmila Ribeiro, da UFMG
Avaliação geral positiva
A pesar das críticas, a maior
parte dos entrevistados avaliou positivamente a presença das UPPs nas
comunidades e apontou a melhoria dos serviços públicos após implantação do
projeto de pacificação das favelas.
O modelo de pacificação foi melhor
avaliado entre os moradores do grupo das UPPs antigas, que atribuíram nota 6 às
UPPs. Já no grupo das UPPs recentes, a nota cai para 4,5. Para os coordenadores
da pesquisa, o resultado pode estar relacionado à consolidação do modelo de
pacificação nas comunidades onde ele foi implantado há mais tempo.
O tempo decorrido desde a
implantação da UPP também pode ter relação com o grau de confiança dos
moradores em relação aos policiais. No grupo das UPPs antigas, 29,3% disseram
desconfiar muito dos agentes das UPP, enquanto no grupo das UPPs recentes o
percentual que respondeu desconfiar muito saltou para 41,7%. No primeiro, 17,8%
disseram confiar muito, enquanto no segundo esse percentual é de apenas 8,6%,
Melhoria dos serviços
A maioria dos entrevistados
avaliou, de modo geral, positivamente a oferta de serviços públicos nas
comunidades pacificadas. Entre os moradores do grupo das UPPs antigas, 56,6%
disse concordar que a oferta de serviços melhorou com a chegada da UPP. Já
entre os moradores do grupo das UPPs recentes, apenas 37,6% concordaram que
houve melhoria.
Entre os serviços públicos que
receberam avaliação positiva estão a distribuição de energia, que foi
considerada ótima ou boa por 74,8% dos entrevistados. A coleta de lixo foi
elogiada por 65,7% dos entrevistados e o serviço de transporte recebeu
avaliação ótima ou boa de 54,1% do total.
Já a maior crítica ficou com os
serviços de saúde, que recebeu qualificação ruim ou péssimo de 42,8% dos entrevistados.
A pavimentação das ruas vem em segundo lugar, com 41,7% dos entrevistados
apontando o serviço como ruim ou péssimo.
A pesquisa da FGV contou com a
colaboração, em todas as suas etapas, do Centro de Estudos de Criminalidade e
Segurança Pública (Crisp) da Universidade Federal de Minas Gerais.
Do G1 Rio
0 comentários:
Postar um comentário
Obrigado pelo seu comentario.
Fique sempre ligado do que acontece em nossa cidade!