O agora ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha
(PMDB-RJ)(Ueslei Marcelino/Reuters)
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Após a renúncia,
peemedebista passou a disparar mensagens em um grupo de WhatsApp do PMDB
alertando para a possibilidade de Waldir Maranhão dar prosseguimento ao
processo de impeachment do presidente interino
Desde que foi
afastado da presidência da Câmara dos Deputados, há dois meses, Eduardo Cunha
(PMDB-RJ) vinha evitando mergulhar nas calorosas discussões que dominam um dos
grupos de WhatsApp da bancada do PMDB, em que os congressistas dividem
reportagens, compartilham opiniões e debatem diversos assuntos. Mas, horas após
renunciar ao poderoso posto de comando da Casa, o peemedebista retomou a
participação no aplicativo de mensagens para entrar em franca campanha pela
escolha de um sucessor que venha do chamado "centrão", grupo de
deputados sobre o qual mantém influência. Aproveitou ainda para alardear uma
tentativa de "golpe" contra o presidente interino da República,
Michel Temer.
Enquanto os
líderes partidários se reuniam para definir a data da eleição do novo
presidente da Câmara, na tarde desta quinta-feira, Cunha disparava mensagens
defendendo celeridade na votação. Nos bastidores, o esforço era para que a
sessão acontecesse no mesmo dia em que a Comissão de Constituição e Justiça
(CCJ) se debruçaria sobre os recursos ingressados por ele para tentar reverter
o processo de cassação - e, diante da iminente derrota, o caso poderia ser
levado ao plenário já na próxima semana, a última antes do início do recesso
parlamentar. "Marcar segunda não é ruim porque obriga a resolver",
afirmou. A sessão da CCJ acabou sendo alterada para terça-feira - e, do mesmo
modo, os líderes anteciparam a votação para esse dia, o que deve impedir a
votação e dar sobrevida a Cunha, que é réu em dois processos no Supremo
Tribunal Federal e alvo de um pedido de prisão.
Também para
convencer os peemedebistas a terem pressa na votação, o agora ex-presidente da
Câmara sinalizou que, com Maranhão à frente dos trabalhos, a Casa permaneceria
paralisada na última semana antes das férias dos congressistas e - ainda mais
grave - haveria margem "ao golpe que querem fazer de aceitar o impeachment
de Michel" Temer.
Nos últimos dias,
o presidente interino, já conhecido por suas decisões questionáveis, vinha
sendo pressionado a destravar a comissão criada para analisar o impeachment de
Temer. Na última semana, Maranhão se reuniu com o ex-presidente Lula, o que
dava margem para o aumento das suspeitas de que ele de fato poderia dar
andamento ao processo, e nesta quarta-feira recebeu deputados que cobravam pelo
avanço do processo. Para ter início, o colegiado deve ser composto pelos seus
representantes, mas os líderes partidários estão resistentes a indicar os
membros. O presidente interino, então, poderia encabeçar essa função.
Os alertas do
peemedebista também recaem sobre a necessidade do partido empenhar-se por um
acordo em torno de seu sucessor: Cunha ressalta que, apesar de o mandato ser
"tampão" - durar somente até fevereiro do próximo ano -, pode
beneficiar alguém "que não atenderá princípios de união".
Nas mensagens,
Cunha também agradece aos peemedebistas pelo "carinho" e a
"solidariedade" e faz uma autodefesa, dizendo que a composição da
Mesa Diretora - que acumula candidatos à presidência - não foi de sua escolha,
mas sim de cada partido. Ele faz referência direta ao vice-presidente Waldir
Maranhão e ao primeiro-secretário da Câmara, Beto Mansur (PRB-SP), ex-aliado
que tenta ocupar sua agora vaga cadeira. "Belo (sic), em uma pesquisa
rápida, responde a três inquéritos no STF, além de duas ações penais",
ataca o peemedebista. "Nunca podemos esquecer que vencemos a eleição em
primeiro turno em aliança com vários partidos. Ninguém sozinho ganha a
eleição", continua.
O ex-líder tenta
ainda quebrar a resistência do PMDB para ceder a presidência a outro partido:
afirma que a legenda tem hoje uma "condição diferente" por estar na
Presidência da República e do Senado. Para Cunha, são "remotas as
chances" de aceitarem o partido também no comando da Câmara dos Deputados.
Em seguida, ele sai em defesa do chamado centrão e afirma que o grupo "não
é contra" o PMDB. Influente no bloco que aglutina mais de duzentos
parlamentares em doze partidos, o deputado afastado trabalha pessoalmente para
eleger seu sucessor. Resta saber se convencerá os colegas de partido.
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