Jackson diz
que religião fez com que perdoasse o pai, mas que
não quer encontrá-lo (Foto: BBC)
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Americano conta como desafiou
diagnóstico pessimista dos médicos e se transformou em palestrante
motivacional; pai cumpre prisão perpétua
Febre alta, fígado inchado e
fungos debaixo das unhas. O quadro clínico da criança de cinco anos, internada
em um hospital de St. Louis, nos EUA, sugeria que ela corria seríssimo risco de
vida. Foi praticamente no desespero que os médicos fizeram um exame de sangue
mais detalhado.
E descobriram que Brryan Jackson
tinha HIV. Uma tragédia pessoal que ganhou contornos ainda maiores porque a
criança tinha sido deliberadamente infectada, ainda bebê, por seu próprio pai -
um técnico em hematologia que estava se separando da mãe de Brryan e estava
preocupado com o pagamento de pensão.
Discriminação
"Minha mãe tinha um filho de
um relacionamento anterior quando conheceu meu pai e ambos decidiram ter uma
nova criança. Mas quando ele voltou da Primeira Guerra do Golfo (em 1991,
quando serviu como soldado), suas atitudes em relação a mim tinham mudando completamente.
Ele começou a dizer que eu não era seu filho", contou Jackson, em
entrevista de rádio ao programa "Outlook", do Serviço Mundial da BBC.
Jackson tinha 11 meses quando,
durante uma internação hospitalar por causa de uma asma, o pai, Brian, aproveitou
uma saída da mãe do quarto para injetar o vírus na corrente sanguínea do filho.
Sequer usou o mesmo tipo de sangue do bebê, o que provocou uma reação imediata
no organismo, ainda assim atribuída pelos médicos aos efeitos da asma.
Quando finalmente descobriram o
que afetava o menino, os médicos deram a Jackson apenas cinco meses de vida. Os
médicos temiam não apenas os efeitos da doença, mas do coquetel de remédios que
ele precisava tomar para tentar mantê-la sob controle.
Hoje, aos 25 anos, ele não apenas
tem a doença sob controle como se transformou em palestrante motivacional e
criou uma ONG, a Living With Hope (Vivendo com Esperança), para promover maior
compreensão sobre a doença e estimular mais solidariedade com portadores do
vírus. Algo ainda mais impressionante quando se leva em conta que o tratamento
deixou algumas sequelas - sua audição foi severamente afetada e prejudicou sua
fala.
Solidariedade foi um sentimento
que ele, Jackson, não encontrou muitas vezes ao longo de sua vida. Sua mãe
enfrentou diretores de escola que não queriam o filho frequentando os
estabelecimentos. Quando enfim era aceito em uma, o menino não tinha permissão
para usar o bebedouro ou mais de um banheiro.
Paternidade
"Eu também não era convidado
para festas de aniversário. As outras crianças me insultavam. Mas essa era a
realidade do HIV nos Estados Unidos nos anos 90. Havia muita desinformação.
Comecei a achar que não havia mais espaço para mim neste mundo", lembra.
Jackson cogitou o suicídio, mas
optou pela religião. A conversão ao Cristianismo fez com que decidisse perdoar
o pai - Brian Stewart foi condenado à prisão perpétua em 1998. Em entrevistas à
mídia americana, disse rezar pelo pai. No entanto, adotou uma grafia pouco
usual para seu nome justamente para diferenciar-se do pai e evitar o assédio da
imprensa.
"No começo, senti muita raiva
dele. Cresci vendo filmes em que pais eram maravilhosos para seus filhos e não
conseguia entender como o meu tinha feito aquilo comigo. Ele não apenas tentou
me matar, mas mudou minha vida para sempre. Mas quero viver a minha vida."
Jackson diz que nunca teve contato
com o pai. Mas poderá ficar frente a frente com ele ainda este ano, quando uma
junta examinará um pedido de liberdade condicional. O filho pretende ler um
comunicado em que recomenda que o pai continue preso.
Segundo Jackson, sua rotina médica
hoje já não envolve mais andar com sondas pelo corpo, como nos tempos de
escola. As 23 pílulas diárias hoje são apenas uma, embora de três em três meses
ele precise ir ao médico para checar seu sistema imunológico. A doença,
obviamente, afetou sua vida social. Diversos relacionamentos foram interrompidos
por pais receosos.
Mas Brryan ainda sonha ser pai.
Cita a técnica conhecida como "lavagem de esperma", que separa os
espermatozoides do fluido seminal e permite que pais soropositivos tenham
filhos sem infectar as parceiras. A inseminação é artificial.
"Acho que seria um pai cool.
Mas pais cool podem ser embaraçosos", brinca.
Da BBC
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