Rifado pelo PT, Delcídio não
contou também com o corporativismo da Casa
Os avanços da Operação Lava Jato
se sobrepuseram ao corporativismo histórico do Senado nesta quarta-feira. Em
votação aberta, os parlamentares decidiram por 59 votos a 13, e uma abstenção, manter na cadeia o senador
Delcídio do Amaral (PT-MS), líder de Dilma na Casa. Num ano em que os
brasileiros saíram às ruas para protestar, o Senado deixou claro: está
assustado. E motivos não faltam: além da cobrança das ruas, os parlamentares
são assombrados pelo rolo compressor da Lava Jato e pelo claro recado do Supremo Tribunal Federal (STF)
ao validar a decisão que levou Delcídio para a prisão - ninguém está acima da
lei.
Com a decisão, os senadores se livraram
de abraçar uma constrangedora autopreservação mesmo diante de revelações
arrebatadoras. Constrangimento, aliás, foi a palavra mais repetida nos
discursos em plenário na histórica votação desta noite, em que os parlamentares
se obrigaram a prestar publicamente contas ao eleitorado - e complicaram a vida
dos que apostam no
"escárnio", como bem definiu no julgamento desta manhã a
ministra do STF Cármen Lúcia.
Desde 6 de março, quando o ministro
Teori Zavascki, que relata os processos do petrolão no STF, confirmou o
arquivamento de um inquérito contra o senador petista por falta de provas, uma
avalanche de evidências contra o parlamentar foi colhida pelo Ministério
Público. Delcídio foi citado por delatores como Fernando Baiano e Nestor
Cerveró como beneficiário de propina em transações como a desastrosa compra da
refinaria de Pasadena, no Texas. Hoje, a Polícia Federal bateu à sua porta
diante de acusações aterradoras: ele trabalhava para melar o andamento das
investigações sobre petrolão. Prometeu uma generosa mesada a familiares de
Cerveró em troca do silêncio do ex-diretor da Petrobras. Articulou pagamento
milionário ao próprio advogado para trair o cliente e evitar uma delação. E foi
pego em gravações explícitas de traficâncias contra a Lava Jato. Prontamente, o
Palácio do Planalto e o Partido dos Trabalhadores rifaram o senador que aceitou ser líder do governo quando ninguém
mais topou fazê-lo.
Os sinais de que os senadores não
pretendiam encampar um histórico desgaste contra a decisão unânime da 2ª Turma
do Supremo ficou evidenciada nos expressivos 52 apoios à votação aberta sobre o
caso Delcídio. Houve um evento facilitador para que defensores da votação às
escuras não precisassem se expor publicamente: instantes antes da decisão, o
ministro Edson Fachin afirmou que o destino do líder do governo no Senado
deveria, sim, ser tomada por voto aberto.
Momentos antes, o presidente do
Senado Renan Calheiros (PMDB-AL), ele próprio um dos investigados no petrolão,
ainda defendeu publicamente a votação fechada e arriscou, em vão, uma tese
jurídica que poderia livrar Delcídio: a de que a prisão não foi por crime em
flagrante. Pela decisão tomada em plenário, não resta dúvida de que o voto de
Cármen Lúcia ecoou nos corredores do Congresso: "Criminosos não passarão
sobre novas esperanças do povo brasileiro".
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