Segundo a imprensa peruana, amiga
de Humala, se encontrou com
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O escândalo trazido à tona pela
Operação Lava Jato já causa agitação política no vizinho Peru e pode sacudir a
campanha presidencial no país, que ocorre daqui a nove meses, segundo analistas
e parlamentares da oposição ouvidos pela BBC Brasil.
Nesta semana, surgiram informações
de que a Lava Jato investiga supostos vínculos de empreiteiras envolvidas no
esquema de corrupção na Petrobras e do ex-ministro José Dirceu com a gestão de
Alan García, antecessor do atual presidente peruano, Ollanta Humala, e possível
candidato à sua sucessão.
Parlamentares da situação, da
oposição e o presidente comentaram o assunto nesta quarta-feira.
"Primeiro foi a Castelo de
Areia (Operação da Polícia Federal brasileira, de 2009) e agora é a Lava Jato
que chega aqui na política peruana", afirmou o congressista Sergio Tejada,
do partido Dignidade e Democracia, ex-aliado de Humala.
Tejada diz estar apurando os
supostos vínculos entre uma brasileira contratada pela empresa JD Consultoria,
de Dirceu, empreiteiras e a administração de García.
Implicado por delatores da Lava
Jato, Dirceu foi preso na última segunda-feira pela Polícia Federal – entre
outras acusações, os investigadores dizem que pagamentos feitos por
empreiteiras à empresa de Dirceu seriam de propina.
Encontros
O congressista peruano publicou no
Twitter a suposta agenda de visitas de Dirceu e de sua contratada Zaida Sisson
ao palácio presidencial durante a gestão de García. "Há muito a ser
investigado", escreveu na rede social. Ele citou supostos encontros de Dirceu,
de Zaida e cinco empresários com o então presidente, em 2007.
Tejada afirmou ainda que Zaida
esteve quatro vezes reunida com García no palácio presidencial. "Vamos
fazer um cruzamento das datas destes encontros e das obras (públicas) licitadas
e seus vencedores."
O congressista Mauricio Mulder, do
mesmo partido que García, o APRA, negou que o ex-presidente tenha se reunido
com Zaida. "As visitas ao Palácio nem sempre são ao gabinete presidencial.
Posso garantir que ela não teve reunião com o ex-presidente", disse
Mulder, segundo o site do jornal El Comercio, de Lima.
Mulder disse ainda que se a
"Lava Jato apontou que ela esteve (no palácio presidencial) foi com seu
marido", Rodolfo Beltrán – que foi ministro no primeiro governo de García
(1985-1990) e vice-presidente do banco estatal Agrobanco na última gestão do
ex-presidente.
De acordo com a imprensa local,
Zaida teria visitado o palácio presidencial também no governo de Humala, em
2013, para reunião com a então responsável pelo Organismo Supervisor das
Contratações do Estado, Rocío Calderón.
Calderón seria amiga da
primeira-dama, Nadine, ainda segundo a imprensa peruana. Quando questionado por
jornalistas, na quarta, sobre essa suposta reunião, Humala respondeu que tinha
a "impressão" de que querem "afetar uma pessoa" (Calderón).
O Ministério Público local diz já
investigar, desde a Operação Castelo de Areia, supostos pagamentos de suborno
para a construção da rodovia Interoceânica, que liga Brasil e Peru e foi
realizada nos governos de Alejandro Toledo (2001-2006) e de García (2006-2011).
Humala afirmou que "lamenta a
situação" que o Brasil está vivendo e que se o caso da Interoceânica
atingir funcionários de seu governo, eles também serão investigados.
Segundo o Ministério Público
peruano, na semana passada uma comitiva de promotores esteve no Brasil para
"investigar pagamentos ilícitos a funcionários peruanos" no caso da
Interoceânica.
"Como se sabe, a Castelo de
Areia foi declarada nulo pelo Supremo Tribunal Federal do Brasil", disse o
órgão, por meio de sua assessoria de imprensa.
"Mas o dever do Ministério
Público do Peru é esgotar todos os esforços diante das autoridades brasileiras
para que a informação relacionada com os delitos cometidos no nosso país seja
compartilhada pelo Brasil", completou.
Repercussão
"Os peruanos em geral estão
pouco informados sobre o assunto, mas certamente ele vai afetar a campanha
presidencial", disse, de Lima, o cientista político Luís Nunes, português
formado na Universidade de Brasília e articulista de jornais peruanos.
Carlos Aquino, professor de teoria
internacional da Universidade Mayor de San Marcos, afirmou acreditar que as
investigações brasileiras "atingem em cheio" a campanha presidencial.
"A imprensa peruana cita
quase diariamente os nomes dos ex-presidentes Alan García e Alejandro Toledo,
possíveis candidatos à sucessão de Humala, no caso das empreiteiras e obras
ligadas às investigações brasileiras", disse Aquino.
Defesa
Em entrevista, nesta quarta, à
emissora de rádio RPP, de Lima, Zaida afirmou que seu trabalho para a JD
Consultoria, de Dirceu, consistiu no estabelecimento de relações entre as
empresas brasileiras com o mercado peruano. Ela negou irregularidades.
"Fui mencionada por dois
delatores como consultora da empresa JD Consultoria, do senhor José Dirceu, e é
verdade. Recebia pelo trabalho mensalmente, em reais, o equivalente a US$ 5
mil", disse.
Ela afirmou ainda que seu
trabalho, entre junho de 2008 e setembro de 2011, não consistia em conseguir
obras e que não teria recebido de Dirceu os R$ 364 mil citados na Lava Jato.
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