Búzios, Cabo Frio, Arraial do Cabo, Rio das Ostras e Macaé estão entre as cidades que mais vem sofrendo com aumento da violência.
Vestidos com uniforme e capacete, dois homens
entram na agência do Banco do Brasil em Búzios. Apesar dos trajes insuspeitos,
a dupla de meliantes rende onze funcionários e o vigia, roubando um malote de
dinheiro. Eles escapam em uma moto, que os esperava na calçada. Concluída sem
pressa, a ação dos bandidos ocorreu no último dia 17, durante o feriadão da
Proclamação da República, a 150 metros da badalada Rua das Pedras.
Destino
historicamente mais procurado pelos cariocas de férias, não só Armação de Búzios
mas toda a Região dos Lagos enfrenta, às vésperas do verão, uma onda de crimes
que preocupa moradores e turistas. "Vivemos hoje em Cabo Frio a mesma
neurose das grandes cidades", diz a empresária Gilda Cabral, que há poucos
meses teve sua casa invadida, três dias após ter se mudado para o bairro Jardim
Excelsior, justamente na área nobre do município. Nem mesmo a presença do 25º
Batalhão de Polícia Militar a 200 metros da residência intimidou os
assaltantes. "Já aconteceram vários assaltos na minha rua e raramente vejo
patrulhas policiais por aqui", lamenta ela.
No mês de outubro houve 23 assassinatos na região dos Lagos, o que representa um aumento de 109% com relação ao mesmo período de 2011. Na primeira semana do mês passado, mais sete pessoas foram mortas. Foi quando aconteceu, em Cabo Frio, um assassinato chocante: o da professora Josy Ramos, de 32 anos. Funcionária da Universidade Veiga de Almeida, ela foi enforcada. O corpo foi achado em seu carro, na localidade de Tangará. Dias depois, houve no bairro do Jardim Peró outra cena de violência explícita: um tiroteio entre bandidos resultou em um morto e três feridos por balas perdidas.
O balneário de Búzios, o local que mais vem sofrendo com a ousadia dos criminosos, hoje tem, proporcionalmente, a maior taxa de homicídios do estado: 71 mortes por 100 000 habitantes, segundo dados do Mapa da Violência 2012 . Elaborado pelo Instituto Sangari, o estudo coloca ainda a vizinha Cabo Frio no pódio desse ranking perverso, como a terceira cidade onde mais se mata no território fluminense, com 65 homicídios por 100 000 pessoas, ou três vezes mais do que a taxa registrada na capital.
O despreparo da polícia local ajuda a explicar esses dados. Em delegacias decrépitas, policiais fazem boletins de ocorrência utilizando máquinas de escrever enferrujadas.
Revoltada após sua joalheria ter sido assaltada oito
vezes, duas delas em 2012, a empresária Esther Magalhães doou um computador e
uma impressora à PM. A falta de recursos para cuidar da segurança na região se
reflete no déficit de homens no contingente.
Responsável por Cabo Frio, São
Pedro da Aldeia, Arraial, Araruama, Búzios, Iguaba e Saquarema, o 25° Batalhão
dispõe de 840 policiais
o ideal seria haver 1 300. E isso se agrava durante a alta temporada, quando a
população da área chega a dobrar, tal a quantidade de turistas.
O crescimento desordenado da região vem sendo apontado como uma das principais
causas para esse surto de violência. Com 8 300 moradores, localizada entre
Búzios e Cabo Frio (mais próxima desta), a favela do Jacaré, a maior do estado
fora da região metropolitana da capital, recentemente se tornou ponto
estratégico para quadrilhas criminosas. Em Arraial do Cabo, nada menos que 23%
de seus 28 000 moradores vivem em favelas, muitas delas também dominadas pelo
tráfico. Para piorar, bandidos que fugiram do Rio após a instalação das
Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) passaram a se estabelecer nesses
municípios litorâneos (o mesmo vem ocorrendo com Paraty, no sul fluminense, que
também passou a figurar entre as cidades mais violentas do estado). "O
crime está migrando", afirma o comandante do 25º Batalhão, coronel Gilmar
Barros. A grande quantidade de estradas secundárias com pouca vigilância e o
litoral desprotegido favorecem os traficantes. "Há uma disputa territorial
como a que se via no Rio anos atrás", atesta o engenheiro Isnard Martins,
professor da PUC-Rio, especialista em segurança pública.
É espantoso que a criminalidade cresça em locais considerados um paraíso por cariocas e visitantes estrangeiros. Somente no último verão, 1,5 milhão de turistas estiveram em Búzios. Devido à beleza de suas 24 praias, o balneário tornou-se famoso na década de 60, época em que a atriz francesa Brigitte Bardot ficou encantada com a orla paradisíaca. Hoje, possuem casa de veraneio na cidade, onde a Rua das Pedras dita moda a cada janeiro, artistas, grandes empresários e jogadores de futebol.
Diante do aumento da violência, as
autoridades prometem reagir. Até o fim do verão, a PM pretende abrir duas
Delegacias Legais, uma em Cabo Frio, a outra em São Pedro. Já na próxima semana
o efetivo terá o reforço de 25 policiais. Espera-se que os órgãos de segurança
ofereçam à Região dos Lagos a mesma atenção que vem sendo dada aos morros
cariocas, E que Búzios, Cabo Frio e todas as cidades do entorno voltem ao
noticiário apenas por seu cenário inigualável.
0 comentários:
Postar um comentário
Obrigado pelo seu comentario.
Fique sempre ligado do que acontece em nossa cidade!