Depoimento de sargento reformado confirma várias mortes no local.
Segundo ele, cerca de 100 presos políticos teriam passado pela casa.
O depoimento
do sargento reformado Marival Dias Chaves do Canto, de 65 anos, ex-agente dos
órgãos de informação do regime militar, na última terça-feira (30), na Comissão
da Verdade, confirmou a existência da "Casa da Morte", no bairro
Caxambu, em Petrópolis, Região Serrana do Rio.
Segundo
ele, cerca de 100 presos políticos teriam passado pelo "aparelho"
clandestino mantido pelo Centro de Informações do Exército (CIE) que
funcionava, no início da década de 1970, na Rua Arthur Barbosa, 668. Até então,
a versão mais aceita era de que teriam passado pela casa 22 pessoas.
Em seu
depoimento, Marival do Canto confirmou a versão de que os presos, levados de
diversas regiões do país, eram assassinados depois de prestar depoimentos sob
tortura. O sargento não confirmou as revelações feitas pelo ex-delegado
capixaba Cláudio Guerra, de que alguns corpos teriam sido incinerados em uma
usina de cana em Campos dos Goytacazes, no Norte Fluminense. No entanto,
admitiu a ligação de Guerra com Freddie Perdigão, considerado um dos mais frios
e ativos torturadores do regime.
Entre as
vítimas que passaram pela Casa da Morte, Marival citou os universitários
Fernando Santa Cruz e Eduardo Collier, que desapareceram em 1974, no Rio,
quando militavam na Ação Popular Marxista Leninista (APML). No dia 23 de
fevereiro daquele ano, Fernando saiu da casa do seu irmão Marcelo para um
encontro com os amigos e nunca mais foi visto. Ele teria sido capturado no
apartamento de Eduardo. No depoimento, Marival disse que os estudantes foram
presos por uma equipe do CIE liderada pelo então major Freddie Perdigão e,
depois, mortos em Petrópolis.
Em agosto
deste ano, um decreto do prefeito de Petrópolis, Paulo Mustrangi
(PT/RJ), tornou o imóvel onde funcionou a Casa da Morte uma área de
utilidade pública para fins de desapropriação. A proposta é transformar o local
em um museu para servir “de exemplo para que nunca mais atos de violações de
direitos sejam postos em prática no Brasil”, como afirmou na época Mustrangi. A
Prefeitura e representantes de entidades do município tentam formas de buscar
verbas para transformar o local em um centro cultural e museu.
Comissão da
Verdade
A chamada
"Comissão da Verdade" foi instalada pela presidente Dilma Rousseff no
dia 15 de maio deste ano, na presença de ex-presidentes da República e diversas
outras autoridades e membros do Poder Judiciário, da Câmara dos Deputados e do
Senado. Ela vai passar os próximos dois anos apurando violações aos direitos
humanos ocorridas entre 1946 e 1988, período que inclui a ditadura militar.
A comissão
deverá colaborar com todas as instâncias do poder público na apuração da violação
de direitos humanos, além de enviar aos órgãos públicos competentes todo e
qualquer dado que possa auxiliar na identificação de restos mortais de
desaparecidos.
A ela
também competirá identificar os locais, estruturas, instituições e
circunstâncias relacionadas à prática de violações de direitos humanos e suas
eventuais ramificações na sociedade e nos aparelhos estatais.
A comissão
também poderá convocar vítimas ou acusados das violações para depoimentos,
ainda que a convocação não tenha caráter obrigatório e também a ver todos os
arquivos do poder público sobre o período, mas não terá o poder de punir ou
recomendar que acusados de violar direitos humanos sejam punidos.
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