Ilich Ramírez Sánchez é réu por liderar ou participar de atos de terrorismo.
Na véspera, ele afirmou em entrevista que fez 'de 1.500 a 2.000' vítimas.
Teve início na manhã desta segunda-feira (7) o julgamento do venezuelano Ilich Ramírez Sánchez, apelidado de "Carlos, o chacal", em um tribunal de Paris por quatro atentados cometidos na França, que deixaram 11 mortos. Esse poderá ser o último julgamento contra o venezuelano, máximo expoente do terrorismo na Europa dos anos 1970 que se tornou uma lenda da luta armada.
Depois de anunciar ao tribunal sua identidade, local de nascimento e idade, ao ser questionado sobre a profissão, "Carlos" se apresentou como "revolucionário de profissão".
Em uma entrevista publicada neste domingo (6) pelo jornal venezuelano "El Nacional", o venezuelano afirmou ter cometido mais de uma centena de ataques que deixaram de 1.500 a 2.000 mortos, apesar de não ter dado detalhes. Questionado sobre as mortes de civis provocadas por suas ações, "Carlos" afirmou que "houve poucas": "Calculei que não chegavam a 10%. Entre 1.500 e 2.000 mortos, não foram mais de 200 as vítimas civis."
Condenado pela Justiça francesa à prisão perpétua em 1997 por matar dois policiais e um informante em Paris em 27 de junho de 1975, "Carlos el chacal" voltará a sentar no banco dos réus aos 62 anos, acusado de ser cúmplice de um assassinato e de destruição de propriedade com uso de explosivos.
O tribunal especial francês que trabalhará até 16 de dezembro no caso, presidido pelo juiz Olivier Laurent, o julga por liderar ou participar de quatro "atos de terrorismo", segundo a instrução do juiz antiterrorista Jean Louis Bruguière. Em 29 de março de 1982, uma bomba com 10 kg de pentrita colocada em uma mala explodiu um vagão do trem "Le Capitole" que ia de Paris a Toulouse, deixando cinco mortos e 28 feridos. Reivindicado em duas ligações telefônicas pela "Internacional Terrorista Amigos de Carlos", esse ataque foi seguido por outro em 22 de abril.
Um carro-bomba carregado com cerca de 20 kg de TNT explodiu na rua Marbeuf de Paris em frente aos escritórios do jornal de língua árabe Al-Watan Al-Arabi, conhecido por sua oposição ao regime sírio, deixando um morto e 60 feridos.
Naquele mesmo dia, o suíço Bruno Breguet e a alemã Magdalena Kopp, companheira de "Carlos", foram julgados e condenados em Paris. Segundo a acusação, a série de atentados exigia sua libertação.
Em 31 de dezembro de 1983, entre 16 kg e 18 kg de pentrita colocados em uma mala explodiram em um vagão de trem de alta velocidade que ia de Marselha a Paris causando três mortos e 13 feridos.Minutos mais tarde, outra deflagração de 10 kg do mesmo explosivo destruiu a sala de guarda-volumes da estação de trens "Saint Charles" de Marselha (sul), provocando dois mortos e 34 feridos. Em nome da "Organização da luta armada árabe", um interlocutor anônimo reivindicou esses ataques em uma ligação à AFP.
Segundo a Procuradoria de Paris, representada no julgamento pelo advogado geral Olivier Bray, as cartas de reivindicação desses ataques "foram escritas por Ilich Ramírez Sanchez".
"Carlos", nascido em Caracas em 12 de outubro de 1949, jovem militante do Partido Comunista da Venezuela e autoproclamado "revolucionário profissional", se integrou no início dos anos 1970 à Frente para a Libertação da Palestina (FPLP, George Habache), em nome da qual liderou grandes operações armadas na Europa e contra interesses franceses. Arquivos abertos após a queda do Muro de Berlim em países do ex-bloco soviético, particularmente Hungria, Alemanha do Leste e Romênia, permitiram conhecer os preparativos dos atentados cometidos na França por quem já era uma lenda da luta armada pela tomada de reféns na embaixada francesa em 1974 e sobretudo por dirigir o comando que protagonizou a impressionante tomada de reféns de ministros da Opep em Viena.
Após os atentados na França, "Carlos" refugiou-se em Damasco e nos anos 1990 viajou ao Sudão, onde em 1994 foi detido por agentes franceses. "Carlos" insiste que sua prisão foi um sequestro. Seus advogados de defesa, Isabelle Coutant Peyre - sua mulher - e Francis Vuillemin, afirmam que a carta de reivindicação não existe, que várias pistas foram desviadas e que os arquivos do ex-bloco soviético carecem de credibilidade.
"Estou em um estado de espírito combativo para denunciar a ilegalidade de minha permanência na França", afirmou "Carlos" na semana passada a uma rádio, antes de se queixar que não recebe nenhuma ajuda das autoridades venezuelanas, apesar de ser um firme defensor do presidente Hugo Chávez e de seus ideais bolivarianos.
Cerca de 20 testemunhas, entre elas familiares, especialistas e também ex-companheiros de luta como Hans Joachim Klein e Magdalena Kopp, comparecerão diante do tribunal que pelos mesmos fatos julgará - à revelia - os alemães Johannes Weinrich, Christa Margot Frohlich e o palestino Alí Kamal Al Issawi. Weinrich, 63 anos, condenado no ano 2000 à prisão perpétua na Alemanha, onde foi absolvido por esta mesma causa por falta de provas, era o encarregado do grupo para estabelecer contatos com outras organizações armadas como o ETA. Frohlich, apelidado de "Heidi", de 68 anos, vive na Alemanha, país que proíbe a extradição de seus cidadãos, e o palestino Ali Kamal al Issawi, 63 anos, está foragido.
"Carlos", que completou recentemente dez dias de greve de fome em protesto por sua transferência a uma cela de isolamento por falar à imprensa antes do julgamento, poderá ser condenado a uma segunda prisão perpétua.
Enquanto durar o processo, Ilich Ramírez Sánchez permanecerá na prisão parisiense de La Santé, onde está o ex-ditador panamenho Manuel Noriega. Uma vez concluído, voltará à prisão de Poissy, nos arredores de Paris.
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