Internauta deve registrar um dia de sua vida no documentário ‘Life in a day’.
‘É uma experiência digital sem garantias’, diz cineasta.
Um filme sem roteiro, com milhares de atores, diretores e produtores desconhecidos responsáveis pela gravação de horas ilimitadas de filmagem. Transformar essa combinação nada amigável em um documentário será a tarefa do cineasta Kevin MacDonald, dos longas “O último rei da Escócia”, “Intrigas do estado” e do documentário vencedor do Oscar “Um dia em setembro”.
O diretor é o principal responsável por “Life in a day”, filme que será feito brevemente em parceria com os usuários do YouTube. Com produção executiva de Ridley Scott, o projeto colaborativo usará trechos de filmagens feitas por internautas do mundo todo em um único dia: 24 de julho, um sábado.
“Será um auto-retrato da raça humana em um dia. Quero compartilhar humanidade, similaridades entre pessoas diferentes”, explica MacDonald, em entrevista por telefone.
O cineasta diz ter pensado na ideia assim que soube do aniversário de cinco anos do portal de vídeos do Google. Fã do site (“não é mágico poder achar nele tudo o que você deseja?”), ele encara o projeto como uma “experiência digital sem garantias seguras”.
“A indústria em que trabalho tem medo da internet, pela pirataria e tudo mais. Será interessante explorar novas mídias, ‘Life in a day’ não estará no meu controle, pois ficarei apenas na sala de edição dessa vez”, comenta o escocês de 41 anos, que adianta: o filme não será uma simples colcha de retalhos criada a partir das gravações recebidas.
“Não quero uma colagem, o documentário precisa ter uma narrativa, senão fica chato. A matéria-prima servirá para passar uma mensagem. Não quero que as pessoas pensem apenas artisticamente, mas que realizem gravações simples de suas vidas. Seria legal começar o filme com todo mundo acordando e escovando os dentes”, brinca.
Apesar de imaginar essa possível abertura, o que MacDonald realmente deseja é que cada colaboração seja diferente da outra, principalmente no visual estético.
Para ele, não existe diferença entre um material captado em alta definição, em estúdio, daquele caseiro, feito por um celular. “Não entendo porque filmagem ‘amadora’ não pode ser considerada filme. Veja o movimento dinamarquês Dogma (95). Tem todo um charme”, rebate.
Sundance e 500 câmeras pelo mundo
YouTube e cinema independente vem sendo uma combinação interessante nos últimos anos. O portal de vídeos do Google realiza um concurso em parceria com o Festival de Cinema de Sundance desde 2007 – a vencedora da primeira edição foi a brasileira Clarice Falcão, pelo curta “Laços”. É no festival americano, aliás, que se terá a estreia de “Life in a day”, em janeiro de 2011. O filme será exibido em alguns cinemas e, claro, disponibilizado no YouTube posteriormente.
Vale lembrar que o projeto colaborativo não é o primeiro experimento cinematográfico do tipo. O escritor Paulo Coelho, por exemplo, realizou em 2009 “A bruxa experimental”, longa em que 15 leitores - de 6 mil participantes - interpretavam trechos de seu livro “A bruxa de Portobello”.
O que diferencia “Life in a day” é a megaprodução. Segundo MacDonald, 500 câmeras de vídeos serão distribuídas em localidades sem inclusão digital, como certas regiões do Iraque, Afeganistão e América Latina. Cada um dos aparelhos terá um cartão de memória, que será retirado depois.
Devido a possíveis problemas de direitos autorais, as gravações não podem conter trilha sonora. As inscrições poderão ser feitas no site www.youtube.com/lifeinaday em um prazo de duas semanas, o que leva MacDonald a não saber, de fato, se as filmagens enviadas serão feitas no dia 24 deste mês.
“Vou apenas acreditar na palavra dos internautas”, ri.
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