No discurso de abertura da
Assembleia-Geral das Nações Unidas, presidente brasileiro defendeu soberania do
Brasil, criticou ação militar americana no Mar do Caribe e cobrou solução de
Dois Estados no Oriente Médio
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT)
abriu nesta terça-feira (23) a 80ª Assembleia
Geral da ONU com críticas diretas às sanções impostas pelos
Estados Unidos ao Brasil e em defesa da condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Sem citar nomes, Lula fez recados claros ao presidente Donald Trump,
responsável pela medida, e afirmou que “não há justificativa para a agressão
contra a independência do Judiciário brasileiro”. O discurso ocorre um dia após
Washington ampliar as punições contra autoridades ligadas ao ministro Alexandre de Moraes,
do Supremo Tribunal Federal (STF),
incluindo sua esposa, Viviane Barci, em reação à sentença que condenou
Bolsonaro a 27 anos de prisão por tentativa de golpe de Estado e outros crimes.
“Falsos patriotas arquitetam e promovem
publicamente ações contra o Brasil. Não há pacificação com impunidade”, disse
Lula, em referência à articulação de aliados do ex-presidente no exterior. O
petista ressaltou que Bolsonaro “foi investigado, indiciado, julgado e
responsabilizado pelos seus atos em um processo minucioso” e que “teve amplo
direito de defesa, prerrogativa que as ditaduras negam a suas vítimas”. Segundo
Lula, a decisão da Justiça brasileira “deu um recado a todos os candidatos a
autocratas e àqueles que os apoiam: nossa democracia e nossa soberania são
inegociáveis”.
Recados a Trump e defesa da
soberania
Sem mencionar diretamente o
presidente norte-americano, Lula criticou as sanções recentes e disse que
“atentados à soberania, sanções arbitrárias e intervenções unilaterais estão se
tornando regra”. Para ele, medidas desse tipo “enfraquecem a democracia” e
representam “ingerência em assuntos internos de outros países”. O momento gerou
constrangimento diplomático, já que Marco Rubio,
secretário de Estado dos EUA e crítico de Moraes, chegou ao plenário enquanto
Lula fazia críticas às “agressões contra a independência do Judiciário”.
Além disso, Lula criticou ações
dos EUA na região do Caribe,
defendendo a soberania dos países latino-americanos e alertando contra a
intervenção estrangeira em assuntos internos da região. “Na América Latina e
Caribe, vivemos um momento de crescente polarização e instabilidade. Manter a
região como zona de paz é nossa prioridade. Somos um continente livre de armas
de destruição em massa, sem conflitos étnicos ou religiosos. É preocupante a
equiparação entre a criminalidade e o terrorismo. A forma mais eficaz de
combater o tráfico de drogas é a cooperação para reprimir a lavagem de dinheiro
e limitar o comércio de armas. Usar força letal em situações que não constituem
conflitos armados equivale a executar pessoas sem julgamento”, disse o petista.
“Outras partes do planeta já
testemunharam intervenções que causaram danos maiores do que se pretendia
evitar, com graves consequências humanitárias. A via do diálogo não deve
estar fechada na Venezuela.
O Haiti tem direito a um futuro livre de violência. E é inadmissível que Cuba seja listada como
país que patrocina o terrorismo”, acrescentou.
Palestina, Ucrânia e direitos
humanos
Além do embate com Trump, Lula
voltou a cobrar uma solução de dois Estados para o conflito no Oriente Médio e
voltou a classificar como “genocídio” a ofensiva israelense em Gaza. Lamentou
ainda a ausência da delegação palestina na assembleia, impedida de participar
presencialmente após os EUA revogarem os vistos de seus representantes. “Os
atentados terroristas perpetrados pelo Hamas são indefensáveis sob qualquer
ângulo. Mas nada, absolutamente nada, justifica o genocídio em curso em Gaza”,
afirmou.
Sobre a Guerra da Ucrânia,
Lula afirmou que “não haverá solução militar” e defendeu caminhos diplomáticos
para um acordo. Ele destacou a necessidade de considerar as preocupações
legítimas de segurança de todas as partes e citou iniciativas multilaterais,
como a reunião realizada no Alasca entre Donald Trump e o presidente
russo Vladimir
Putin. “O recente encontro no Alasca despertou a esperança de uma saída
negociada. É preciso pavimentar caminhos para uma solução realista. Isso
implica levar em conta as legítimas preocupações de segurança de todas as
partes. A Iniciativa Africana e o Grupo de Amigos da Paz, criado por China e Brasil, podem
contribuir para promover o diálogo.”
Tradição brasileira
O Brasil é responsável
historicamente por abrir os debates de líderes mundiais na ONU. Neste ano, o
evento reúne 193 países entre os dias 22 e 24 de setembro, em Nova York. No
discurso de 18 minutos, Lula também defendeu a regulação das redes sociais,
combate à fome e reforma do sistema multilateral, apresentando o país como voz
do Sul Global diante da atual crise internacional.
JP

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