Ataques combinam dados reais de processos, engenharia social e uso indevido de imagem profissional para enganar clientes e comprometer contas bancárias.
O golpe do falso advogado tem crescido em todo o Brasil e já
provocou prejuízos bilionários. Segundo a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB),
mais de 17,5 mil pessoas foram vítimas da fraude em 2025, com perdas estimadas
em R$ 2,8 bilhões. No Espírito Santo, 134 denúncias foram registradas este ano;
no Rio de Janeiro, o número chega a 550 vítimas; e, no Distrito Federal, o
Tribunal de Justiça contabilizou 84 ocorrências apenas no primeiro trimestre.
Diante das técnicas utilizadas pelos criminosos, o tema preocupa advogados,
clientes e especialistas em segurança digital.
Como o golpe funciona
Os ataques combinam dados reais de processos judiciais,
engenharia social e uso indevido de imagem profissional de advogados. De acordo
com o advogado em Direito Digital, Carlos Eduardo Holz, os criminosos conseguem
acessar todos os processos judiciais que não estão em segredo de justiça. Além
disso, a fraude é facilitada pelo uso de robôs que coletam informações públicas
em bancos de dados judiciais. Muitas vezes, os logins de acesso aos sistemas do
Poder Judiciário são comercializados por hackers em fóruns clandestinos na
internet.
“Os hackers não comercializam somente login e senha de
advogados, mas, também, acessos de servidores do Poder Judiciário. Com os dados
em mãos, os golpistas acessam os processos, selecionam as vítimas em potencial
e simulam atendimentos jurídicos via WhatsApp e e-mail, informando ‘causa
ganha’”, explicou Holz.
O advogado também alerta que o golpe está cada vez mais
sofisticado. “No início, ocorria somente via mensagem de texto pelo WhatsApp.
Agora, além de fazerem contato com as vítimas, os golpistas também enviam
áudios e fazem chamadas de vídeo com uso de inteligência artificial para
simular a voz e a imagem do verdadeiro advogado”, alertou.
Durante a chamada de vídeo, é comum os criminosos induzirem
a vítima a compartilhar a tela do celular. Dessa forma, eles conseguem acessar
contas bancárias e realizar transferências, gerando enorme prejuízo às vítimas.
A efetivação do golpe também costuma acontecer quando os criminosos alegam que
há custas e taxas judiciais pendentes para liberar o valor. Geralmente, o
pagamento é feito para contas bancárias de laranjas.
Como identificar os sinais de que o contato é falso
Carlos Eduardo Holz explica que, inicialmente, é importante
verificar se o número da pessoa que envia a mensagem está salvo na agenda. Se
for um número novo, já é motivo para redobrar a atenção. O golpista geralmente
diz que o processo deu “causa ganha” e que, para liberar o valor, é preciso
pagar custas ou taxas judiciais.
Os criminosos também costumam se utilizar do gatilho da
urgência. Ou seja, induzem a vítima a adotar condutas rápidas e instantâneas,
sem tempo para checagem. “Sempre que a mensagem traz elementos de urgência, é
um bom motivo para desconfiar. Afinal, os atos processuais não são feitos do
dia para a noite. Há prazos que costumam demorar dias para a expedição de
alvarás”, mencionou o especialista.
Para checar a veracidade da mensagem, o ideal é ligar para o
contato fornecido pelo advogado no momento da assinatura do contrato. De
preferência, por meio de chamada de vídeo, utilizando o número que já está
salvo na agenda. Ao receber uma mensagem inesperada sobre o processo judicial,
é importante não agir por impulso, conforme orienta Holz.
O que os advogados podem fazer para proteger seus
clientes
Para o especialista, é fundamental que os escritórios de
advocacia assumam uma postura ativa na prevenção do golpe. “Manter-se omisso
diante da existência da fraude aumenta muito os riscos de clientes se tornarem
vítimas dos golpistas”, alerta.
Entre as medidas recomendadas, estão:
- Incluir
no contrato de prestação de serviços uma cláusula que disponha sobre os
contatos oficiais do escritório (telefones, e-mails institucionais, canais
de atendimento e formas de comunicação autorizadas).
- Informar
cada cliente sobre a existência do golpe do falso advogado e orientar
sobre como o escritório entra em contato oficialmente.
- Produzir
e divulgar vídeos informativos nas redes sociais e nos canais do
escritório, explicando como o golpe funciona e quais são os sinais de
alerta.
- A
partir do momento em que clientes começarem a informar que estão recebendo
mensagens de golpistas, denunciar imediatamente o perfil falso diretamente
à plataforma e registrar provas dessa denúncia (prints, links,
protocolos).
- Fazer
o registro na delegacia, a fim de que a autoridade policial possa
instaurar a investigação pertinente.
Caso a plataforma ignore as denúncias e mantenha o perfil
falso ativo, Holz explica que é possível adotar medidas judiciais. Nesses
casos, recomenda-se que o advogado conte com a orientação de um advogado
especialista em Direito Digital para avaliar a responsabilização da plataforma
e os pedidos cabíveis.
Serviço ao leitor: como se proteger de golpes digitais
- Confirme
sempre o contato com o escritório por telefone ou e-mail institucional já
conhecido e salvo na agenda.
- Desconfie
de mensagens que pedem transferência imediata de valores ou usam
expressões como “urgente” e “última chance”.
- Verifique
o número da OAB e o registro do profissional no site oficial, a fim de
checar o contato oficial do advogado e do escritório.
- Ative
a autenticação em duas etapas em aplicativos de mensagem, redes sociais e
e-mails.
- Registre
prints das conversas, links e perfis suspeitos e denuncie contas falsas
diretamente às plataformas.
- Em
caso de prejuízo ou tentativa de golpe, faça boletim de ocorrência e
busque orientação jurídica.
Carlos
Eduardo Holz é formado pela UFRJ, especialista em Direito Digital e atua na
defesa de consumidores e influenciadores vítimas de abusos e fraudes em
plataformas digitais.

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