O secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, e o secretário do Conselho de Segurança Nacional e Defesa da Ucrânia, Rustem Umerov, apertam as mãos após falarem com jornalistas depois da reunião em Hallandale Beach, na Flórida, em 30 de novembro de 2025. Rubio classificou as conversas com a delegação ucraniana como “muito produtivas”, mas ponderou que ainda é preciso avançar para interromper a guerra da Rússia contra o país vizinho. Chandan Khanna/AFP
Documentos e relatos aos quais a coluna teve acesso mostram
que EUA articulam, longe dos holofotes, acordo que envolve cessar-fogo,
garantias de segurança e reconstrução econômica; próxima etapa envolve Moscou
A coluna teve acesso ao conteúdo central da conversa
realizada em Hallandale, na Flórida, entre o secretário de Estado dos Estados
Unidos, Marco
Rubio, e o secretário do Conselho de Segurança Nacional e Defesa da
Ucrânia, Rustem Umerov. O encontro, realizado sem transmissão e com apenas
um resumo público superficial, tratou de pontos decisivos do que Washington e
Kiev consideram a fase mais sensível das negociações para encerrar a guerra.
O que se discutiu ali vai muito além do que foi dito aos
jornalistas. Segundo documentos e relatos obtidos com exclusividade, Rubio e
Umerov trabalharam em torno de três pilares: a estrutura de um possível
cessar-fogo, as garantias permanentes de segurança para impedir futuras
invasões e um plano de reconstrução nacional capaz de reposicionar a Ucrânia em
um cenário pós-conflito.
Essa reunião segue o fluxo criado em Genebra e aprofundado
ao longo da última semana em trocas reservadas entre Washington, Kiev e
intermediários escolhidos pela Casa Branca.
Trata-se de uma construção silenciosa, conduzida com extremo cuidado, e que já
entra formalmente na categoria de “negociação paralela”, como confirmaram
fontes americanas e ucranianas.
Nos trechos da conversa aos quais a coluna teve acesso,
Rubio foi categórico: os Estados Unidos não querem apenas encerrar a guerra;
querem impedir a próxima. Ele falou em “segurança permanente”, “prosperidade
duradoura” e num modelo de reconstrução que permitiria à Ucrânia surgir do
conflito mais forte do que antes — um objetivo ambicioso, mas que faz
parte da lógica estratégica americana neste momento.
A visão de Washington é que a guerra só terminará de forma
estável se houver um pacote completo: estabilidade militar, reformas internas,
integração econômica e garantias multilaterais de segurança. Umerov
reforçou a importância do apoio americano e agradeceu diretamente Rubio, Steve
Witkoff e Jared Kushner. Em documentos aos quais a coluna teve acesso, ele
declarou que esta rodada representa “a melhor oportunidade em meses para consolidar
independência e estabilidade”.
A parte mais sensível da conversa envolve a Rússia. Rubio
admitiu, fora das câmeras, que os emissários americanos mantêm diálogo ativo
com representantes de Moscou. Disse também que Witkoff viajará a Moscou ainda
nesta semana para avançar nos pontos mais difíceis — incluindo territórios,
forças de ocupação e mecanismos de verificação internacional. Essa etapa é
considerada a mais delicada de todo o processo. Mesmo assim, fontes
familiarizadas com as discussões afirmam que existe “mínimo terreno comum”
suficiente para permitir o avanço da rodada.
Ao final da reunião, Rubio e Umerov concluíram que houve
progresso real, mas que a negociação segue complexa e sujeita a mudanças
rápidas. Os próximos dias devem ser cruciais, especialmente diante da
expectativa quanto à resposta inicial da Rússia às propostas
apresentadas. O encontro de Hallandale se consolida como o ponto mais
claro, até agora, de que há um esforço efetivo nos bastidores para costurar um
acordo abrangente. Um acordo que não é apenas sobre o fim da guerra, mas sobre
o formato do país que surgirá depois dela.
A reunião entre Rubio e Umerov vai muito além da diplomacia
tradicional. Há um componente que precisa ser entendido com clareza: os Estados
Unidos estão assumindo, na prática, a liderança total do esforço para
redesenhar o futuro da Ucrânia. Essa postura tem implicações diretas.
Em primeiro lugar, evidencia que Kiev hoje não negocia mais
sozinha. As decisões estratégicas, especialmente as que envolvem segurança e
reconstrução, passam necessariamente por Washington. A presença de figuras como
Steve Witkoff e Jared Kushner, nomes que não fazem parte da diplomacia formal,
indica o uso de canais paralelos que permitem à Casa Branca agir com mais
liberdade — e menos transparência.
Em segundo lugar, a viagem de Witkoff a Moscou mostra que os
EUA decidiram centralizar a interlocução com a Rússia. É um movimento ousado,
que retira da Europa parte do protagonismo e coloca a resolução do conflito
diretamente nas mãos da diplomacia americana. Isso pode gerar atritos com
aliados europeus, que já vinham expressando desconforto com decisões tomadas
sem consulta plena.
Em terceiro lugar, a ideia de “segurança permanente” para a
Ucrânia implica compromissos que podem levar a um reposicionamento estratégico
de longo prazo. Nada disso é simples, e todos os passos desse processo caminham
sobre terreno político sensível. A Rússia não aceitará facilmente condições
impostas unilateralmente, e a Ucrânia não aceitará concessões que comprometam sua
integridade territorial.
Por fim, há a questão central: mesmo com toda a articulação
americana, o conflito só terminará se Moscou enxergar vantagem no acordo. É
nesse ponto que reside o risco. Qualquer sinal de retrocesso russo pode
comprometer toda a estrutura construída até agora. A negociação avança,
mas avança sobre uma linha extremamente fina. E o desfecho ainda está longe de
ser garantido.
JP

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