Armas identificadas por insígnias
e apelidos apontam ligação entre o Comando Vermelho e outras regiões; Polícia
diz que registros indicam rota de chegada por países vizinhos.
O arsenal de 91 fuzis apreendido
na megaoperação
feita nos complexos da Penha e no Alemão na última terça-feira (28) incluía
armas de exércitos da Venezuela, Argentina, Peru e Brasil.
“Chamou nossa atenção, embora não
seja algo inédito, a presença fuzis de forças armadas não só do Brasil como
outros países da América do Sul", diz o delegado Vinicius Domingos, da
Coordenadoria de Fiscalização de Armas e Explosivos.
Foram achados fuzis das forças
armadas da Venezuela, um das forças armadas do Peru e também um das forças armadas
da Argentina, além de armas das forças armadas do Brasil.
Insígnias e detalhes de
alguns dos 93 fuzis apreendidos na megaoperação estão ajudando a
polícia dimensionar o poder de fogo que o crime organizado ostenta hoje em
comunidades cariocas e relações do Comando Vermelho com quadrilhas de outros
estados.
Os fuzis passarão por perícia e
serão analisados em detalhes pelos investigadores, que buscam identificar
fornecedores e rotas de chegada. Armas que estiverem em bom estado de
conservação poderão ser incorporadas ao arsenal da polícia.
De acordo com investigadores,
muitos dos armamentos trazem iniciais, desenhos e inscrições que identificam
facções ou apelidos de traficantes, inclusive referências a grupos de outras
unidades da federação. Domingo relatou exemplos que ilustram essa conexão.
“Uma das imagens faz referência
ao bonde do Panda, que é um dos criminosos lá do Complexo do Alemão.”
Em outros fuzis, há inscrições
que remetem a crimes específicos — como o artigo 157, relativo a roubo — uma
forma, segundo a polícia, de indicar que a arma pertence a uma fração da
quadrilha voltada para esse tipo de delito. Há ainda marcas que apontam para a
presença de traficantes de outros estados, como a inscrição “baiano” em um dos
armamentos.
“Fuzil com símbolo escrito baiano
— um fuzil do CV da Bahia, que estava com mais um criminoso”, disse o delegado.
“Tropa do Lampião, faz referência
a criminosos do Nordeste que se encontraram nos morros cariocas.”
Segundo a investigação, armas
adquiridas por quadrilhas de fora chegavam ao Rio e eram revendidas nos
arsenais locais, gerando nova fonte de renda para traficantes cariocas. Em um
dos itens apreendidos havia uma bandoleira com identificação do Complexo do
Alemão e marca da facção Família do Norte (Manaus).
Calibres, origem e capacidade
de fogo
As armas recolhidas são, em sua
maioria, fuzis nos calibres 5.56 e 7.62, fabricadas principalmente na Europa; a
polícia acredita que muitas chegam ao Brasil via Paraguai. Sobre sua
letalidade, o delegado Vinicius Domingos explicou que, por exemplo, um fuzil
G3, de fabricação alemã, é capaz de disparar até 10 tiros por segundo.
“Não temos conhecimento, com
exceção da Colômbia e do México, onde criminosos narcoterroristas utilizam
ostensivamente esse arsenal de guerra para manter domínio territorial. Isso
traz prejuízos não só de vidas como patrimoniais imensos para empresas,
indústrias, para pessoas que circulam no dia a dia; o prejuízo é incalculável.”
Investigadores ainda apontaram
uma tendência dos criminosos de “pulverizar” remessas — trazer somente peças
essenciais de armas pelo Paraguai ou dentro do país, e depois completar as
peças com componentes adquiridos legalmente pela internet e adaptados às armas.
Há também apreensões de equipamentos que seriam de forças armadas de outros
países da América do Sul.
Números e impacto no estado
Os fuzis apreendidos na operação
se inserem em um contexto de aumento das apreensões no estado: entre janeiro e
setembro deste ano foram 593 fuzis retirados das mãos de criminosos — a maior
marca desde o início da série histórica do Instituto de Segurança Pública
(2007). No mesmo período, o total nacional de apreensões chegou a 1.471 fuzis,
ou seja, 40% deles no Rio. Na média, dos cinco fuzis apreendidos por dia no
Brasil, dois são no Rio.
Há ainda investigações sobre quadrilhas
que fabricavam armas destinadas a abastecer facções cariocas: há duas semanas,
a Polícia Federal prendeu integrantes de grupo que, segundo as apurações,
produzia e vendia armas para facções do Rio — cerca de 3.500 fuzis por ano,
segundo as investigações, destinados a abastecer criminosos do Complexo do
Alemão e da Rocinha.
Por RJ2




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