Por que empresários brasileiros temem a adoção da Lei da Reciprocidade contra os EUA? | Rio das Ostras Jornal

Por que empresários brasileiros temem a adoção da Lei da Reciprocidade contra os EUA?

Lula diz que governo pode agir com ações proporcionais de retaliação 
aos EUA. Ricardo Stuckert/PR - 6.7.2025

Governo regulamentou lei após taxação imposta pelo presidente americano, Donald Trump, sobre produtos do Brasil

Desde o anúncio do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre a imposição da tarifa de 50% a produtos brasileiros, que deve entrar em vigor em 1º de agosto, diversos setores produtivos do país estão em alerta. A preocupação diz respeito à Lei da Reciprocidade, cuja regulamentação ocorreu por meio de decreto assinado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva na última segunda-feira (14).

A norma estabelece mecanismos para que o Brasil adote medidas de retaliação comercial e econômica contra países que imponham barreiras unilaterais a produtos e serviços brasileiros. Ou seja, o governo agora terá instrumentos legais para responder de forma proporcional ações como a dos Estados Unidos.

Com a regulamentação, a Lei nº 15.122/2025 passa a ter aplicação imediata.

Por determinação do presidente Lula, um comitê interministerial foi criado para avaliar as práticas externas que prejudiquem o Brasil. A coordenação está a cargo da Camex (Câmara de Comércio Exterior), presidida pelo vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin.

Cabe à Camex analisar os impactos de medidas unilaterais adotadas por outros países — como aumentos de tarifas, restrições sanitárias ou subsídios internos — e, com base nessas informações, indicar ações proporcionais de retaliação, que podem incluir suspensão de concessões, aumento de tarifas ou restrição de investimentos.

Professor de Economia da FESPSP (Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo), Euzébio Silveira diz que a lei resguarda o governo em caso de retaliação.

“A lei fortalece a previsibilidade e reduz as incertezas jurídicas relacionadas às ações de retaliação comercial, permitindo maior segurança para empresas e investidores”, explica.

No entanto, a aplicação da Lei da Reciprocidade tem preocupado empresários brasileiros, que pedem cautela ao governo.

Desde a semana passada, Alckmin promove encontros com setores produtivos brasileiros afetados pelo tarifaço de Trump. Representantes do agronegócio, por exemplo, citam os contratos em aberto com importadores americanos e pedem que o governo não utilize de imediato a lei.

Silveira explica que a resistência por parte de empresários está diretamente relacionada a interesses microeconômicos e setoriais, já que muitos operam em segmentos altamente dependentes do mercado norte-americano, seja como destino de exportações, seja como fornecedor de insumos e componentes.

“A adoção de contramedidas, ainda que legítima, pode gerar impactos negativos para cadeias produtivas específicas, encarecendo insumos e comprometendo a competitividade internacional de determinados produtos. Além disso, há o temor de que a retaliação brasileira leve a uma escalada de tensões e represálias por parte dos Estados Unidos”, avalia.

Segundo Priscila Caneparo, pós-doutora em direito internacional, os impactos do uso da lei podem ser diversos. No campo político, a sinalização de um endurecimento da posição brasileira pode criar uma escalada da tensão diplomática, além da paralisação de tratativas.

“O aumento dos custos sobre os preços dos insumos importados, como chips, peças e equipamentos, por causa das tarifas e da inflação, vai diminuindo a margem para esses empresários. Além disso, a aplicação da lei pode restringir o acesso de exportadores brasileiros a produtos essenciais na logística da cadeia produtiva e traz insegurança jurídica”, explica.

A advogada ainda cita, como impacto microeconômico, o aumento dos preços em produtos importados e a baixa de disponibilidade, como ocorre em outros países. “Setores como agronegócio, siderurgia e tecnologia seriam talvez os mais afetados. E o consumidor final, obviamente, sentirá”, ressalta.

Cautela

O gerente de comércio internacional da BMJ (Consultoria Relações Governamentais), Josemar Franco, constata que empresários temem a inviabilização de investimentos no Brasil e mais dificuldades com as relações comerciais com os Estados Unidos.

“O que temos observado é que o setor privado, tanto a indústria quanto o agro, está pedindo cautela do governo brasileiro, para que não haja nenhuma retaliação no momento, para que tentem, por meio do diálogo, chegar a um consenso com o governo dos EUA”, afirma.

Segundo ele, o setor busca uma prorrogação do prazo para a adoção das tarifas.

“O que o setor privado quer, em um primeiro momento, é que o governo consiga uma prorrogação de 90 dias e, neste meio tempo, os dois países consigam debater de maneira técnica como superar os entraves nessas relações”, destaca Franco.

Na opinião de Priscila Caneparo, o Brasil poderia acionar a OMC (Organização Mundial do Comércio), principalmente por meio do Sistema de Solução de Controvérsias, além de estimular a indústria nacional e propor um acordo setorial, para resolver a questão.

Para o professor Euzébio Jorge Silveira, a melhor forma de enfrentar o aumento unilateral de tarifas por parte dos Estados Unidos, sem recorrer imediatamente à Lei da Reciprocidade, passa por uma estratégia abrangente que articule ações econômicas, políticas, diplomáticas e institucionais.

“O Brasil deve intensificar o diálogo diplomático com o governo norte-americano, buscando reduzir as tensões e encontrar soluções negociadas, sem abrir mão da defesa da soberania e dos interesses nacionais”, conclui.

R7

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