Da esquerda para a direita, os presidentes Santiago Peña (Paraguai), Maria José Pinto (Equador), Luiz Inácio Lula da Silva (Brasil), José Raúl Mulino (Panamá), Javier Milei (Argentina), Alberto van Klaveren (Chile), Luis Arce (Bolívia) e Yamandú Orsi (Uruguai), durante a cúpula do Mercosul. Matias Martín Campaya/EFE
Presidente brasileiro disse que
tarifa externa comum blinda países do bloco de ‘guerras comerciais alheias’;
argentino defende guinada em direção à liberdade comercial
A 66ª Cúpula de Chefes de Estado
do Mercosul, realizada nesta quinta-feira (3) em Buenos Aires, foi marcada por
discursos contrastantes dos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (Brasil) e
Javier Milei (Argentina). Ao assumir a presidência temporária do bloco,
Lula enfatizou a importância do Mercosul como um porto seguro em um cenário
global instável, enquanto Milei defendeu uma guinada em direção à “liberdade
comercial”, sem descartar a atuação individual da Argentina.
O presidente brasileiro destacou
que o Mercosul é uma “casa com alicerces sólidos, capaz de suportar a força das
intempéries”, ressaltando que o bloco protege seus membros de “guerras de
comércio exterior” e os credencia como “parceiros confiáveis” no cenário
global. Para Lula, a união aduaneira e a Tarifa Externa Comum são
mecanismos essenciais de proteção e integração.
“Quando o mundo se mostra
instável e ameaçador, é natural buscar refúgio onde nos sentimos seguros. Para
o Brasil, o Mercosul é esse lugar”, declarou o petista. “Toda a América do Sul
se tornou uma área de livre comércio baseada em regras claras e equilibradas.
Estar no Mercosul nos protege. Nossa tarifa externa comum nos blinda de guerras
comerciais alheias. Nossa robustez institucional nos credencia perante o mundo
com parceiros confiáveis”, acrescentou.
Em contrapartida, Milei, ao
deixar a presidência temporária, argumentou que o Mercosul deve deixar de ser
um “escudo que nos protege do mundo” e se tornar uma “lança que nos permite
entrar efetivamente nos mercados globais”. O líder argentino, que já ventilou a
possibilidade de saída do bloco, defendeu a flexibilização das regras e a
inclusão de mais itens nas excepcionalidades das tarifas comuns, visando maior
liberdade comercial para os membros.
Apesar da passagem de comando,
Lula e Milei não tiveram um encontro bilateral. A relação entre os dois chefes
de Estado, marcada por divergências ideológicas e críticas públicas de Milei a
Lula durante a campanha eleitoral argentina, tem sido conduzida de forma
pragmática pelas chancelarias. Enquanto o brasileiro se reuniu com os
presidentes do Paraguai, Santiago Peña, e da Bolívia, Luis Arce, Milei teve
encontros com o presidente do Uruguai, Yamandú Orsi, e do Panamá, José Raúl
Mulino. A agenda de Lula incluiu ainda uma visita à ex-presidente
argentina Cristina Kirchner, um sinal adicional do distanciamento entre os dois
líderes.
Prioridades brasileiras:
Fortalecimento interno e olhar para a Ásia
Lula delineou cinco pilares para
a presidência brasileira do Mercosul:
- Fortalecimento do comércio: incentivar
o uso de moedas locais nas transações e incluir os setores automotivo e
açucareiro na união aduaneira.
- Enfrentamento das mudanças climáticas e
transição energética: promover a agricultura sustentável e o
papel da América do Sul na transição energética, com a COP 30 em Belém
como vitrine.
- Desenvolvimento tecnológico: buscar
parcerias e soberania digital na região, com foco em Inteligência
Artificial.
- Combate ao crime organizado: intensificar
a cooperação regional contra o tráfico, crimes ambientais e corrupção.
- Promoção dos direitos dos cidadãos: retomar
a Cúpula Social e a Cúpula Sindical do Mercosul.
O presidente brasileiro também
destacou a necessidade de o Mercosul olhar para a Ásia, considerada o “centro
dinâmico da economia mundial”, buscando maior aproximação com países como
Japão, China, Coreia, Índia, Vietnã e Indonésia. Lula expressou confiança
de que os acordos de livre comércio com a União Europeia e
a EFTA (Associação Europeia de Livre Comércio, composta por Suíça,
Noruega, Islândia e Liechtenstein) serão assinados até o final do ano.
A conclusão das negociações com a
EFTA foi anunciada na quarta-feira (2), e o acordo, que visa criar uma zona de
livre comércio com quase 300 milhões de pessoas e um PIB combinado de mais de
US$ 4,3 trilhões, está em fase de revisão. O presidente brasileiro também
afirmou que pretende avançar nas negociações com Canadá, Emirados Árabes
Unidos, Panamá e República Dominicana, além de atualizar os acordos com
Colômbia e Equador.
JP

0 comentários:
Postar um comentário
Obrigado pelo seu comentario.
Fique sempre ligado do que acontece em nossa cidade!