Usina nuclear Angra 2 tem vazamento no núcleo do reator e nova gestão adia reparo | Rio das Ostras Jornal

Usina nuclear Angra 2 tem vazamento no núcleo do reator e nova gestão adia reparo

O Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto, em Angra dos Reis, 
no RioTomaz Silva/Agência Brasil

Ainda não existe risco iminente de liberação de radioatividade para o meio ambiente, mas manual da usina prevê que ‘reparo seja feito o mais rápido possível'. Para isso, usina precisaria ser desligada

Um vazamento na usina nuclear Angra 2, que vem sendo mantido sob sigilo, foi descoberto no dia 25 de dezembro do ano passado, mas os gestores da usina decidiram que o reparo só será feito na próxima manutenção, daqui a 12 meses.

Há quase dois meses, a usina Angra 2 funciona em um modo “estepe”, classificam servidores, que falaram ao blog sob condição de anonimato. Apreensivos com a decisão da nova gestão, alguns afirmam que “a segurança nuclear está em risco”.

Angra 2 faz parte do Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto, complexo formado ainda pelas usinas Angra 1 e Angra 3 (em construção), em Angra dos Reis, no Rio de Janeiro, às margens da BR-101.

Entenda o vazamento

O vazamento de líquido aconteceu em um primeiro selo do núcleo. No total, dois selos e um dreno protegem a vedação do equipamento, impedindo que radioatividade se espalhe dentro da contenção de concreto e que um acidente nuclear mais grave, conhecido como LOCA (Loss of Coolant Accident, ou perda de líquido de arrefecimento, em português) aconteça.

O vazamento do primeiro selo é previsto no manual como um acidente “relevante”, mas de reparo simples. Simples, mas caro. A usina precisaria ser desligada para a troca do selo.

Com o primeiro selo rompido, o líquido refrigerante circula na primeira câmara, mas um dreno impede que algum problema mais sério ocorra logo a curto prazo. O funcionamento com o dreno é viável, mas não pode se alongar.

O desligamento da usina e a troca do selo por um sobressalente (como chamam a peça de substituição), precisa acontecer antes que o dreno fique sobrecarregado e outras peças dentro do núcleo sejam prejudicadas pela umidade.

O manual não fala por quanto tempo em “modo estepe” ele conseguiria garantir a segurança do núcleo.

Documento da Eletronuclear mostra qual o procedimento
 a ser tomado em caso de vazamento. Reprodução

O selo “reserva” é considerado material de compra obrigatória, pois essa peça, em específico, é tida como “ponto único de vulnerabilidade” nos critérios de segurança nuclear.

nova gestão da Eletronuclear, no entanto, tem feito cortes financeiros para, segundo a empresa, conseguir concluir as obras de Angra 3.

As medidas de austeridade envolveram a redução das despesas operacionais com Pessoal, Material, Serviços de terceiros e Outros (PMSO), e o selo reserva não foi comprado — e, portanto, não consta no estoque para troca imediata.

Cortes da nova gestão

No começo do mês, a administradora da usina, a Eletronuclear, publicou em seu site uma série de medidas de austeridade e uma reestruturação organizacional, com o objetivo de economizar R$ 3 milhões por ano.

O atual presidente, Raul Lycurgo Leite, indicado pela gestão da agora privada Eletrobrás, na contramão dos cortes com manutenção e pessoal, alugou, com dispensa de licitação, cinco veículos blindados para uso dos diretores no valor de R$ 230 mil por cinco meses.

Diretoria da Eletronuclear alugou, sem licitação, veículos blindados para diretores. 
Reprodução

O blog também teve acesso exclusivo a uma carta entregue aos superintendentes e chefes de departamento na semana passada.

Assinada por 27 supervisores dos diversos setores de Angra 2, a carta levanta uma série de questões de risco para a usina relacionadas a problemas psicológicos de funcionários e à desmotivação causada por cortes e mudanças nos direitos dos servidores.

Em um trecho, eles afirmam que, “devido ao clima organizacional negativo, nossas equipes estão tendo dificuldades para atingir os dois principais objetivos da empresa: Segurança Nuclear e melhoria contínua da Segurança e Desempenho Operacional de Angra 1 e Angra 2”.

Procurada pelo blog, a Eletronuclear se posicionou.

Apesar de a nota enviada pela empresa informar que “não houve vazamento”, o próprio documento confirma uma “passagem” de água de 1 litro por dia. Também afirma que a manutenção só será feita daqui a um ano, contrariando o que diz o manual.

Veja a nota na íntegra:

A Eletronuclear esclarece que não há vazamento no reator da Usina Nuclear Angra 2. O sistema de vedação da tampa do reator conta com dois selos redundantes, ou seja, o segundo atua como reserva em caso de necessidade. Foi identificada uma pequena passagem de água pelo primeiro selo, inferior a 1 litro por dia, sem qualquer impacto na operação. O segundo selo permanece 100% operante, garantindo a vedação completa do sistema.

Entre os selos, há ainda um sistema de coleta que direciona qualquer líquido porventura existente no canal localizado entre o primeiro e o segundo selo para um tanque específico, onde o nível é constantemente monitorado. Essa estrutura impede qualquer liberação externa, assegurando total segurança da operação.

Frise-se que o tanque de coleta de líquido porventura existente entre o primeiro e o segundo selo consta do projeto original da usina nuclear do fabricante.

Vale lembrar que tudo isso ocorre dentro de um prédio de segurança que possui uma esfera de aço com 3 centímetros de espessura e uma contenção de concreto de 60 centímetros.

A usina segue operando com base em critérios técnicos rigorosos e está em conformidade com os protocolos estabelecidos pelos órgãos reguladores nacionais e internacionais. Não há necessidade de substituição imediata do primeiro selo antes da próxima parada para recarga de combustível, prevista para 2026. A própria Framatome, projetista da usina, atesta formalmente a viabilidade da operação nessas condições.

Além disso, é inverídica a denúncia de desmonte da usina. Medidas de austeridade estão em andamento para aprimorar a eficiência operacional, mantendo a segurança como prioridade. Mais informações sobre essas ações podem ser acessadas no link: https://www.eletronuclear.gov.br/Imprensa-e-Midias/Paginas/Seguran%C3%A7a-operacional-%C3%A9-a-prioridade-da-Eletronuclear.aspx

A Eletronuclear reforça seu compromisso com a segurança e permanece à disposição para prestar esclarecimentos adicionais.

Entenda melhor: Defesa em profundidade, um sistema robusto de segurança

A defesa em profundidade é o princípio fundamental da segurança nuclear e consiste em um conjunto de camadas de proteção para prevenir acidentes e, caso ocorram, limitar suas consequências, garantindo a proteção do público e do meio ambiente contra os efeitos da radiação.

O conceito de defesa em profundidade se baseia em três pilares principais:

Prevenção: desde o projeto, são consideradas anormalidades operacionais e falhas de equipamentos ou humanas, mesmo que tenham baixíssima probabilidade de acontecer. A construção e operação seguem padrões rigorosos de qualidade.

Controle: caso ocorra uma falha ou operação anormal, há diversos dispositivos de detecção, além de sistemas de controle, limitação e proteção para impedir o agravamento da situação.

Mitigação: se um evento ultrapassar as condições previstas no projeto, entram em ação medidas emergenciais para limitar o progresso do evento e mitigar suas consequências.

A Eletronuclear mantém uma estrutura de segurança robusta, garantindo que todas essas barreiras estejam operacionais e eficientes, cumprindo os mais altos padrões internacionais de segurança nuclear.

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

R7

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