Economistas veem ritmo maior de
alta dos juros devido a preocupações sobre metas fiscais e piora nas
expectativas de inflação
O Copom (Comitê
de Política Monetária) do Banco Central define nesta quarta-feira (6) a
nova taxa de juros da economia brasileira. A
expectativa de economistas ouvidos pelo R7 é de que a reunião
termine com a decisão de aumentar a Selic em 0,5 ponto percentual, passando dos
atuais 10,75% para 11,25% ao ano. A rodada de discussões teve início nessa
terça-feira (5).
Na última reunião, os diretores
do BC decidiram, de forma unânime, aumentar a taxa básica de juros em 0,25
ponto percentual, para 10,75% ao ano. A alta foi a primeira desde agosto de
2022, quando o índice chegou a 13,75% ao ano.
Com preocupações sobre o
cumprimento das metas fiscais, a piora nas expectativas de inflação e o dólar
nas alturas, especialistas apontam que um aumento maior dos juros é necessário
para tentar levar a inflação à meta.
“Mesmo com a inflação atual sob
controle, a projeção de alta pode gerar comportamentos que, de fato, aceleram a
subida dos preços, como reajustes salariais e mudanças na precificação de
produtos e serviços", explica o economista Hugo Garbe, professor da
Universidade Presbiteriana Mackenzie.
Por esse motivo, diz o
especialista, o Banco Central precisa agir de forma a manter essas expectativas
sob controle, evitando cortes bruscos na Selic que poderiam afrouxar demais a
política monetária.
O professor César Bergo,
presidente do Conselho Regional de Economia do Distrito Federal, lembra que a
reunião do Copom ocorre em um “cenário instável internacional”, sobretudo em
função da política monetária norte-americana. Ele também cita a alta do dólar
entre os principais motivos para a possível aceleração da Selic.
“O Federal Reserve [o banco
central dos Estados Unidos] está reticente em continuar a política de baixa da
taxa de juros. No campo interno, temos uma inflação que teima em ficar elevada
e a questão fiscal com essas idas e vindas, mas o preocupante é o dólar.”
Alta do dólar
Na última sexta-feira (1º),
o dólar fechou
a R$ 5,86, maior patamar registrado no governo do presidente Luiz Inácio Lula
da Silva. O valor também foi o maior desde maio de 2020, durante a pandemia de
Covid-19.
A alta da moeda traz impacto para
as expectativas de inflação, que continuam se afastando do centro da meta de 3%
— com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos.
“Essa questão vem preocupando
porque afeta diretamente os preços aqui no Brasil em função da importação,
sobretudo de alimentos, como é o caso da farinha de trigo, além da questão dos
combustíveis”, explica Bergo.
Os indicadores econômicos
domésticos também apresentam um “contexto contraditório”, segundo Igor
Medeiros, sócio e consultor da Andaluz Consultoria de Investimentos.
Ele lembra que a taxa de
desemprego, conforme os últimos dados da Pnad, atingiu 6,4%, nível inferior aos
números pré-pandemia e ao de períodos históricos, como 2012.
Medeiros aponta que esse dado,
embora demonstre certo aquecimento econômico, não reflete a real qualidade
desse aquecimento. E isso é motivo de preocupação para o Copom.
“Além disso, o crescimento do PIB
brasileiro, na perspectiva de parcela do mercado, não apresenta uma sustentação
robusta, sendo insuficiente para reduzir significativamente o hiato do produto
e estabilizar o câmbio”, afirma o consultor.
Aumento do ritmo não é
consenso
O aumento do ritmo de alta dos
juros não é consenso entre os economistas. Hugo Garbe, por exemplo, não
descarta a possibilidade de um ajuste mais intenso, mas avalia que a
expectativa, para ele, é de manutenção do ritmo de alta em 0,25 ponto
percentual.
O que faria sentido por seguir a
“postura cautelosa” adotada até o momento. O economista destacou que o aumento
do ritmo de alta dos juros depende de mudanças no panorama econômico.
Ele explicou, ainda, que essa
reunião será importante para entender até onde o Banco Central está disposto a
ir para ajustar a política monetária, apoiar o crescimento econômico e, ao
mesmo tempo, manter a estabilidade de preços.
“O Copom busca um equilíbrio:
estimular a economia sem abrir mão do controle inflacionário. É provável que o
comitê mantenha a estratégia de cortes graduais, observando de perto os
desdobramentos internos e externos", considera Garbe.
O especialista aponta que uma
mudança para cortes mais expressivos “só aconteceria se as condições globais
melhorassem ou se a inflação interna permanecesse estável por um período
prolongado, mesmo com as pressões externas”.
Clarissa Lemgruber, do R7, em
Brasília
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