“Por favor, apoiem-nos, isso não é justo. Orem pelos oito menores de idade que estamos detidos na cidade de Caracas. Não somos terroristas, somos inocentes. Algum dia vou sair deste lugar tão feio, deste inferno onde ninguém deveria estar; isso não é vida”, escreve Miguel Urbina, um adolescente de 16 anos, que o Ministério Público e um tribunal de terrorismo mantêm atrás das grades desde 2 de agosto de 2024, junto a outros sete jovens, detidos durante as protestos que surgiram quando o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) declarou Nicolás Maduro vencedor das eleições, sem apresentar as atas que comprovassem o resultado.
Publicada pelo site argentino
Infobae, a carta de Urbina, que está detido no centro de reclusão Entidade de
Atenção Cidade Caracas, em El Cementerio, foi divulgada quando familiares dos
adolescentes detidos, que formaram o comitê Madres em Defesa da Verdade, se
concentraram diante do Ministério Público e entregaram uma nova comunicação à
Procuradoria de Direitos Fundamentais, onde exigem a liberdade de 15
adolescentes e 5 adultos. No país, haveria 68 menores de idade, entre 14 e 17
anos, detidos.
O adolescente questiona em sua
carta: “Como é possível estar pagando por algo que eu e meus colegas não
fizemos? Para isso existe a justiça? Nos disseram que seriam 10 dias e já se
passaram dois meses. Estamos privados de liberdade, trancados, como se fôssemos
criminosos, um perigo para a sociedade. Somos inocentes.”
A carta de Urbina, assinada
também pelos adolescentes Angel Ramírez, Alexander Sánchez, Bleider Lever,
Daiber Lucena, Héctor Hidalgo e Yenderson Martínez, detidos junto a Diomer e
Miguel, foi lida por sua família durante a manifestação em frente ao Ministério
Público.
A Procuradoria não se manifestou
sobre os adolescentes e jovens detidos, no contexto da repressão mais brutal
dos últimos anos. “É triste ver o que estão fazendo conosco, estão acabando com
nossos sonhos, metas”, afirma Urbina.
Ele acrescenta: “Quero que saibam
que somos jovens de bem. Estamos perdendo nossa juventude e nossos estudos.
Sinto muito pela minha mãe, muito mesmo, vocês não sabem a dor que me causa. O
único que pedimos é sair deste lugar tão feio.”
Ele pede apoio porque “não
aguentamos mais um dia neste lugar. Somos apenas jovens que não têm nada a ver
com o que está acontecendo no país. Não somos terroristas, somos inocentes”,
finaliza o adolescente.
Outro jovem, Diomer Gerardo
Gómez, que havia se formado no ensino médio há algumas semanas quando foi
detido, também escreveu uma carta da Unidade de Atenção Cidade Caracas, dizendo
que é um dos oito acusados de terrorismo. “Meus colegas e eu pedimos justiça,
pedimos liberdade.”
Ele enfatiza que são “jovens de
bons estudos, tranquilos, de família; aqui estamos trancados sem saber se é dia
ou noite, perdendo a juventude aqui dentro de Cidade Caracas. Já estamos há
dois meses presos e peço apoio, ajuda e justiça. Não somos terroristas.”
Vozes das mulheres
Os familiares dos adolescentes e
jovens, que em sua maioria pertencem a áreas populares de Caracas, asseguram
que eles estavam em um local onde havia uma protesto, embora não estivessem
participando dele.
Houve detenções porque, em pontos
de controle, os policiais revistavam os celulares, além de serem apontados por
“patriotas cooperantes”, como Diosdado Cabello e Nicolás Maduro chamam
militantes do partido no poder que denunciam quem critica ou se manifesta
contra o regime venezuelano.
O Ministério Público, sob a
direção de Tarek William Saab Halabi, o procurador nomeado pela Assembleia
Nacional Constituinte, convocada ilegalmente por Nicolás Maduro em 2017, não se
manifestou, embora já tenham se passado dois meses desde a detenção de quase
duas mil pessoas, incluindo muitos adolescentes, dos quais muitos permanecem
detidos e acusados de terrorismo.
Na quinta-feira, 26 de setembro,
o Comitê de Mães em Defesa da Verdade convocou a concentração para exigir
respostas e a liberdade dos jovens e adolescentes. Com cartazes que traziam
pedidos de socorro e denúncias, além dos rostos de alguns dos jovens presos.
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Theany Urbina, mãe de Miguel
Urbina, revela que os jovens disseram que, na Zona Sete, um centro de reclusão
na populosa região de Petare, “eles recebiam choques elétricos. Há uma coisa
que chamam de capucha de cebollita, que é uma bolsa que colocam na cara com gás
lacrimogêneo”.
A mãe de Urbina afirma que seu
filho foi torturado até aceitar gravar um vídeo admitindo os fatos que lhe
imputam, o que ele se negou a fazer. Ela relata que Miguel estava com amigdalite
desde 28 de julho, data das eleições presidenciais, e estava febril, sem sair
de casa até o dia em que foi detido.
“Infelizmente, ele saiu no dia 2 de agosto às
8 da manhã para comprar um lanche e foi preso. Dois policiais chegaram,
derrubaram o lanche que ele estava comendo, o agrediram e o levaram”, disse
Theany Urbina aos jornalistas durante a manifestação em frente à Procuradoria.
Dionexis García afirma que não há
provas contra seu irmão Diomer Gómez e critica a atuação da Defesa Pública
imposta aos jovens detidos.
Ela destaca que não lhes permitem
defensores privados. Reconhece que os defensores públicos também não podem
fazer muito, pois nem mesmo lhes permitem conversar com os detidos, muito menos
visitá-los, limitando-se a dizer que orem.
Diomer estava em casa quando os
agentes da Polícia Nacional chegaram para prendê-lo sem nenhuma ordem de
apreensão. Durante 12 dias, ele esteve em desaparecimento forçado; quando
finalmente sua família conseguiu vê-lo, após diligências infrutíferas, pois nos
tribunais lhes pediam para esperar, com a justificativa de “isso é político”,
como uma desculpa para violar seus direitos humanos.
Gazeta Brasil
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