Cerca de 225 mil cubanos foram
para os EUA no último ano, acentuando o problema demográfico no país
A crise econômica, social e
política que Cuba atravessa está se traduzindo num êxodo migratório sem
precedentes para o país. Só em outubro, os navios da Guarda Costeira
norte-americana interceptaram 1,1 mil cubanos em alto-mar, tentando entrar nos
EUA. Esse número é maior que a quantidade de capturados ao longo de 2021.
Segundo o Departamento de
Alfândega dos EUA, em setembro, quase 27 mil cubanos conseguiram entrar
ilegalmente pela fronteira sul do país, quebrando todos os recordes anteriores.
Nos últimos 12 meses, foram 225 mil chegando ao país pelas fronteiras
terrestres.
Esses números representam 2% dos
habitantes do país, ou 4% da população economicamente ativa de Cuba. O êxodo
indica um cenário alarmante para o futuro do país, de 11 milhões de habitantes,
que sofre de um grave problema demográfico.
Em 2021, pelo quinto ano
consecutivo, a população diminuiu (em quase 70 mil pessoas), a taxa de
natalidade continuou a cair e o processo de envelhecimento é cada vez mais
acelerado (21% dos cubanos têm mais de 60 anos).
“Cuba está fugindo de seus
jovens, ou seja, de seu futuro. O futuro do país está perigosamente hipotecado,
e isso só pode levar a mais instabilidade política e social”, comentou Ricardo
Torres, pesquisador da American University, em Washington, ao jornal El
País.
A radiografia popular do que está
acontecendo na ilha é tremenda: filas impiedosas, apagões (que também afetam o
abastecimento de água), inflação sufocante, lixo nas ruas, falta de transporte
público, falta de remédios e deterioração dos serviços de saúde.
“A confiança na capacidade do
governo de endireitar a situação já se esvaiu diante de repetidas vacilações e
inconsistências”, afirma o sociólogo Carlos García Pleyán que destaca que
“diferenças econômicas e sociais crescem diariamente e com elas a radicalização
política. O diálogo está cada dia mais difícil, e a angústia pelo futuro é
crescente”.
Na opinião da historiadora Alina
Bárbara López, ao contrário de outras crises, o que esta marca é precisamente
“que a população perdeu completamente a esperança, vê que o governo é incapaz
de introduzir as mudanças de que o país precisa para as coisas melhorarem”.
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