Delegado Maurício Demétrio foi preso em operação na manhã desta quarta (30) — Foto: Reprodução |
Segundo o Gaeco, Maurício Demétrio comandava uma organização criminosa dentro da Delegacia de Repressão aos Crimes Contra a Propriedade Imaterial. O MP afirma que o grupo exigia vantagens indevidas de comerciantes do polo de moda na Região Serrana do RJ para que pudessem vender roupas piratas.
O
delegado Maurício Demétrio Afonso Alves, ex-titular da Delegacia de
Repressão aos Crimes Contra a Propriedade Imaterial (DRCPIM), foi preso na
manhã desta quarta-feira (30). Ele é suspeito de comandar um esquema que
exigia propina de lojistas da Rua Teresa, em Petrópolis, para permitir a venda de
roupas falsificadas.
Demétrio foi um
dos alvos da Operação Carta de Corso, deflagrada pelo Grupo de
Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado do Ministério Público do Rio de
Janeiro (Gaeco/MPRJ). Outras cinco pessoas haviam sido presas
até a última atualização desta reportagem — quatro são policiais.
Segundo o MPRJ
e a Corregedoria da Polícia Civil, a
DRCPIM chegou a deflagrar uma operação forjada para deter
justamente o delegado que investigava o esquema de Demétrio.
A DRCPIM
investiga justamente a pirataria. A Rua Teresa é um conhecido polo de moda, com
diversas lojas, e que atrai turistas todos os fins de semana.
Buscas na
Cidade da Polícia
O objetivo da
Operação Carta de Corso era cumprir, no total, oito mandados de prisão
preventiva e 14 de busca e apreensão, expedidos pela Vara Criminal
Especializada da Capital.
O titular da
DRCPIM foi preso em casa, em um condomínio de luxo na Barra da Tijuca. A sede
da delegacia, na Cidade da Polícia, no Jacarezinho, também foi alvo de buscas.
Onze pessoas
foram denunciadas pelo MPRJ.
Operações
‘fake’
Em março, a
DRCPIM deflagrou a Operação
Raposa no Galinheiro, em que foi detido o delegado Marcelo Machado. Na
ocasião, a especializada afirmou que Machado tinha montado uma empresa de
confecção de roupas piratas em uma galeria na Tijuca — a despeito de ele
próprio estar investigando a DRCPIM pela Corregedoria. Essa operação, no
entanto, foi forjada.
Segundo o MPRJ,
o policial civil Celso de Freitas Guimarães Junior, chefe da DRCPIM
que “gozava da total confiança de Demétrio”, já tinha conhecimento da
investigação contra o esquema da especializada desde agosto de 2020. “Evidente,
portanto, que Demétrio também sabia”, destacam os promotores.
Delegado Maurício Demétrio em operação forjada, segundo o MPRJ — Foto: Reprodução |
O MPRJ explicou
que Machado detém uma estamparia, e Demétrio, “utilizando uma conta falsa no
WhatsApp para garantir o anonimato e alegando ter autorização dos
titulares dos direitos autorais, encomendou a produção de 1.000 camisas”.
“Ato
seguinte, [Demétrio] conseguiu a expedição de mandados de busca e apreensão das
peças de roupa, acabando por prender em flagrante o delegado Marcelo Machado e
seu sócio”, emendaram.
O pedido de
busca foi feito antes mesmo de as camisas terem ficado prontas. Segundo a
denúncia, Celso se passou por uma compradora para fechar negócio.
“A operação
fake foi minuciosamente planejada e teve ampla cobertura jornalística,
permitindo que Demétrio, após ludibriar o MPRJ e o Judiciário, tivesse
espaço nos veículos de comunicação para caluniar e desacreditar vários daqueles
que se colocaram como empecilho para a atuação da organização.”
O MPRJ diz
ainda que a Operação Raposa no Galinheiro teve uma segunda fase, em uma “outra
ação espetaculosa”, desta vez na Rua Teresa — mas para coagir testemunhas.
Acompanhados
por um caminhão, motorista e equipe de carregadores, os agentes da DRCPIM
realizaram apreensão de material de diversas lojas “e intentavam conduzir os
lojistas envolvidos para a delegacia especializada, em clara manifestação
intimidatória de poder”.
Os promotores
afirmam que, ainda na Rua Teresa, um representante do MPRJ determinou que as
ocorrências fossem apresentadas na 105ª DP (Petrópolis), em vez da
especializada. Demétrio mandou abortar a operação, abandonando o material
apreendido e retornando para o Rio de Janeiro.
Como era o
esquema na DRCPIM
O MPRJ afirma
que, sob o comando de Demétrio, a organização é dividida em dois núcleos
principais.
- Operadores em Petrópolis: Alex Sandro
Gonçalves Simonete, Ana Cristine de Amaral Fonseca e Rodrigo Ramalho Diniz
eram responsáveis “por ameaçar os lojistas e recolher os valores cobrados
pela organização”.
- DRCPIM: os policiais civis Celso de
Freitas Guimarães Junior, Vinicius Cabral de Oliveira e Luiz Augusto
Nascimento Aloise, além do perito criminal Jose Alexandre Duarte, “era responsável
por subverter a estrutura da Polícia Civil, executando diligências como
forma de represália aos lojistas que se recusavam a pagar os valores
exigidos, chegando ao ponto de forjar provas e produzir laudo falso”.
Rua Teresa, no Centro de Petrópolis, no RJ. Foto: Lucas Machado/Inter TV |
Os denunciados
vão responder por organização criminosa, concussão, obstrução de justiça,
inserção de dados falsos em sistema, emissão de laudo falso e lavagem de
dinheiro, cujas penas mínimas somadas superam 30 anos de reclusão. A condenação
leva ainda à perda do cargo público.
Por Mariana Queiroz e Henrique Coelho,
GloboNews
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