© Reuters Nicolás Maduro comemorou a conquista
eleitoral de seu movimento político
O chavismo
recuperou a Assembleia Nacional da Venezuela neste domingo (06/12), em eleições
marcadas pelo boicote aos principais partidos e líderes da oposição e por uma
abstenção massiva.
Com uma
participação de apenas 31%, mais de 40 pontos percentuais abaixo das eleições
parlamentares de 2015 vencidas pela oposição, a coalizão governista teve mais
de 3,5 milhões dos 5,2 milhões de votos, com um total de 67,6% de apoio entre
os que compareceram às urnas, segundo dados do Conselho Nacional Eleitoral (CNE)
do país.
Desde 2015, a
Assembleia era o único poder controlado pela oposição, que decidiu não
participar do pleito do fim de semana, assim como já havia feito nas eleições
presidenciais de 2018, por considerar que não existem condições justas para a
disputa eleitoral.
O líder da
oposição, Juan Guaidó, que em 5 de janeiro deixará de ser o presidente da
Assembleia Nacional, falou em "fraude" e sugeriu que o comparecimento
às urnas foi ainda menor do que o dado oficial.
Reações
"A
ditadura é evidente. Depois da chantagem, do sequestro de partidos, da censura,
da fabricação de resultados, do terror, anunciam o que foi dito: uma fraude com
30% de pura falsidade, que não é suficiente nem para se mostrar ao público (nem
mesmo eles comemoram, eles sabem que estão sozinhos)", escreveu Guaidó no
Twitter.
"Vamos
para um novo ciclo triunfal", comemorou o presidente, Nicolás Maduro, que
havia dito que deixaria o cargo em caso de uma derrota. Mas ninguém acreditava
nesta possibilidade, devido ao boicote dos principais partidos da oposição.
Os principais
rivais do chavismo — a corrente política de Maduro — obtiveram nas eleições
deste domingo pouco mais de 17% dos votos.
O dia correu
tranquilamente e em Caracas o baixo fluxo de eleitores foi evidente, segundo o
enviado especial da BBC Mundo à Venezuela, Daniel García Marco.
"A
situação do país muda com uma Assembleia Nacional diferente daquela que
propiciou invasões", festejou o governista Diosdado Cabello, agora um dos
principais candidatos a comandar o novo Parlamento a partir de 5 de janeiro.
Cabello já
chefiava a Assembleia Nacional Constituinte, orgão dominado pelo chavismo e que
substituiu muitas das funções da Assembleia Nacional. O Supremo Tribunal de
Justiça, a pedido do Executivo, considerava que a Assembleia Nacional estava
"em desacato" e, portanto, foi impedida de exercer suas funções.
Ninguém ganha
Análise do
enviado da BBC Mundo à Venezuela, Daniel García Marco
"Amanhã
continuaremos da mesma forma", me disse Flor no domingo, perto de um
centro de votação em Caracas.
A máscara que
ela usa por causa da pandemia serviu para esconder seu rosto da decepção, como
a de muitos venezuelanos, que estão mais ocupados em ter gasolina suficiente e
receber alguns dólares nesta época de fim de ano do que entusiasmados com as
eleições parlamentares sem competição.
O chavismo,
como era de se esperar, venceu amplamente, mas a baixa participação de 31%,
como se antecipava nas urnas de Caracas, aplaca qualquer triunfalismo, apesar
de o partido governista recuperar agora o único poder que era controlado pela
oposição.
Governar a
Venezuela nas atuais circunstâncias não é fácil. O chavismo segue sem encontrar
formas de conter a hiperinflação e obter mais receita diante da queda do setor
petrolífero e das sanções. E sente o descontentamento, mesmo entre os que antes
eram mais militantes.
Os Estados
Unidos e a União Europeia também não reconhecerão a nova Assembleia Nacional.
Os problemas de acesso aos mercados financeiros e petrolíferos e as dúvidas
sobre a legitimidade democrática do país continuarão.
E a oposição,
quando perder formalmente o Parlamento em 5 de janeiro, terá que lidar
novamente com a reunificação em torno de uma estratégia que não será mais
orientada por Donald Trump, que em breve deixará seu lugar em Washington para
Joe Biden.
Os
parlamentares, portanto, não parecem destravar nenhum dos problemas com os
quais a Venezuela sofre há anos, mas pode ser que a chegada de Biden, um novo
ar na oposição e um eventual reconhecimento das dificuldades do chavismo abram
espaço para concessões e para aliviar a situação no país.
Consequências?
A esperada
vitória dará ao chavismo total controle político no duelo político que mantém
há anos com a oposição. Poderá elaborar leis que aprofundem a abertura
econômica que a Revolução Bolivariana tem defendido nos últimos tempos em busca
de renda, mas a nova Assembleia continuará sem contar com a legitimidade de
dezenas de países, incluindo EUA e a União Europeia.
Portanto,
espera-se que as sanções continuem e que não haja acesso aos mercados
internacionais enquanto se espera que a abertura econômica seja acompanhada
também por uma abertura política, segundo o governo de Maduro.
A Venezuela
atravessa uma profunda crise econômica com a terceira hiperinflação mais longa
da história e uma dolarização de fato da economia, que alivia certos setores ao
mesmo tempo que aprofunda as desigualdades.
Por sua vez, a
oposição terá novamente que rever sua estratégia, já que a atitude de Guaidó de
desafiar Maduro ao se declarar presidente interino não atingiu o objetivo de
destituí-lo do poder.
A liderança de
Guaidó, que defende a "continuidade administrativa" da Assembleia
Nacional de 2015, fica em questão a partir de 5 de janeiro, quando será
constituído o novo Parlamento, agora dominado pelo chavismo.
"Depois
desses fracassos, teremos que repensar alternativas reais", afirmou
Henrique Capriles, ex-candidato à Presidência da oposição, em postagem no
Twitter neste domingo.
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