O desfile militar noturno sem precedentes realizado no sábado (10)
na Coreia do Norte exibiu uma variedade incomum de novos armamentos
O desfile
militar noturno sem precedentes realizado no sábado (10) na Coreia do Norte
exibiu uma variedade incomum de novos armamentos, desde um "monstruoso"
míssil balístico até tanques de batalha nunca antes vistos.
O novo conjunto
militar, provavelmente ainda em variados estágios de desenvolvimento, ofereceu
ao líder Kim Jong-un uma chance de mostrar ao mundo seu poderio militar de
ponta, ao mesmo tempo em que conseguiu adicionar capacidades práticas às já
formidáveis forças nucleares e militares convencionais da Coreia do Norte,
disseram especialistas.
Kim caminha em
uma linha tênue, por um lado tentando aumentar a pressão sobre os Estados
Unidos para aliviar as sanções econômicas e, por outro, tentando não destruir o
relacionamento com o presidente do país, Donald Trump, ou com a grande parceira
de Pyongyang, a China.
"O
discurso de Kim Jong Un não foi uma ameaça aos Estados Unidos. Em vez disso
rotulou as forças nucleares da Coreia do Norte como autodefensivas", disse
Bruce Klingner, analista aposentado da CIA na Coreia do Norte que agora
trabalha na Heritage Foundation. "A mensagem clara é que, contrariando as
alegações dos EUA, a ameaça nuclear norte-coreana não foi resolvida."
Filmagens do
desfile sugerem o uso de um enorme ICBM (míssil balístico intercontinental)
potencialmente mais letal em função ou de múltiplas ogivas ou de uma carga útil
maior, além de porta-mísseis maiores, um míssil lançado por submarino de última
geração e avanços no armamento convencional, disseram analistas militares.
Ogivas
múltiplas?
A estrela do
show do sábado foi um imenso e inédito ICBM carregado em um veículo
"TEL" (transportador-eretor-lançador) igualmente enorme com 11 eixos.
Estimado em 25
a 26 metros de comprimento e 2,5 a 2,9 metros de diâmetro, o míssil não
identificado deve ser o maior ICBM capaz de ser transportado por estradas no
mundo, disseram analistas militares.
Dado que o
Hwasong-15, o maior míssil já testado pela Coreia do Norte, já consegue ter
como alvo qualquer lugar nos Estados Unidos, o uso prático mais provável para o
novo ICBM seria a capacidade de transportar várias ogivas, disse Melissa
Hanham, vice-diretora da Rede Nuclear Aberta.
É muito mais
barato para a Coreia do Norte adicionar ogivas do que para os Estados Unidos
adicionar interceptores, disse Jeffrey Lewis, pesquisador de mísseis do Centro
James Martin para Estudos de Não-Proliferação (CNS, na sigla em inglês).
"Se cada
novo ICBM norte-coreano puder carregar de 3 a 4 ogivas, precisaremos de cerca
de 12 a 16 interceptores para cada míssil", disse ele no Twitter. "A
última vez que os EUA compraram 14 interceptores, custou 1 bilhão de
dólares."
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KCNA via Reuters |
Outros
analistas disseram que o míssil poderia simplesmente ser projetado para
carregar uma única ogiva maior.
"Um míssil
maior não significa necessariamente ogivas múltiplas, uma tecnologia que
acredito que a Coreia do Norte ainda não tenha garantido", disse Kim
Dong-yup, ex-oficial da Marinha da Coreia do Sul que agora é professor do
Instituto do Extremo Oriente da Universidade Kyungnam em Seul.
Portadores
de mísseis
Especialistas
disseram que também é notável que a Coreia do Norte aparentemente tenha
construído os enormes novos TELs para transportar os mísseis.
"Eles têm
um suprimento muito limitado de TELs longos que adquiriram da China",
disse outro pesquisador do CNS, Dave Schmerler, acrescentando que a falta de
veículos limitou o número de ICBMs que poderiam ser implantados.
"Portanto, os TELs mais longos que vimos foram produzidos
localmente."
Mas o enorme
tamanho do novo míssil e de seu transportador também tem desvantagens, disse
Markus Schiller, especialista em mísseis com sede na Europa.
"Apenas
estradas e pontes especiais poderiam suportar esse veículo", disse ele.
"Nenhuma pessoa em sã consciência conduziria esta bomba-relógio pelo interior
da Coreia do Norte."
Provavelmente
levaria até metade de um dia para abastecer com combustível um míssil tão
grande, dificultando sua utilização rápida em uma guerra, o que significa que o
objetivo principal do míssil é provavelmente um aviso político, disse
Schiller.
Míssil
submarino
A Coreia do
Norte também revelou o que parece ser um novo SLBM (míssil balístico lançado
por submarino), denominado Pukguksong-4.
"Se a
intenção deles for usar o novo SLBM, pode ser destinado para o submarino de
mísseis balísticos que a Coreia do Norte insinuou ter construído em julho de
2019", disseram analistas da 38 North, uma organização de estudos com sede
nos Estados Unidos.
Pelo menos
algumas partes da caixa do motor do míssil pareciam ser revestidas de material leve,
o que reduziria o peso da estrutura do míssil e permitiria maior alcance e
capacidade de carga útil, disse o relatório.
Armas
convencionais
O desfile
também apresentou o que pareceram ser armas novas ou atualizadas para o
exército da Coreia do Norte, um dos maiores do mundo.
Foram exibidas
fileiras e mais fileiras de múltiplos sistemas de lançamento de foguetes e
mísseis balísticos de curto alcance que haviam sido intensamente testados no
ano passado.
"Minha
maior preocupação são os mísseis táticos de curto alcance de combustível sólido
que a Coreia do Norte se concentrou em desenvolver no ano passado", disse
Chun Yung-woo, ex-negociador nuclear sul-coreano.
O desfile
também exibiu novos veículos de radar de defesa aérea móvel e o que pareceu ser
um tanque inteiramente novo com mísseis antitanque e lançadores de granadas
mais integrados ao design norte-coreano do que os modelos importados
anteriores.
Reuters
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