Sementes recebidas pelo correio faz parte de fraude
para impulsionar lojas online. Pixabay
Envio de itens
pelo correio sem o consentimento do destinatário é estratégia para melhorar
reputação de lojas online a partir de avaliações falsas
A fraude
chamada de "brushing" faz parte de uma estratégia de lojas virtuais
para criar avaliações falsas de supostos clientes em plataformas de e-commerce.
Esse pode ser o motivo de diversas pessoas, no Brasil e também em outros países,
estarem recebendo encomendas cheias de sementes sem terem comprado nada.
Daniela Santos,
44 anos, de Gravataí, no Rio Grande do Sul, é uma delas. "Fui abrir a
embalagem e me deparei com um 'pacotinho' embrulhado em papel bolha. Poucos
dias antes, eu havia lido sobre o que estava acontecendo, então estava a par da
situação, mas mesmo assim, fiquei muito surpresa."
Segundo o
Ministério da Agricultura, 199 pacotes foram entregues em 23 estados e no
Distrito Federal. Todos esses pacotes foram originários de países asiáticos,
como China, Malásia e Hong Kong.
"O
"brushing" consiste no envio de um item que simula uma compra para o
vendedor usar o código de rastreamento do pacote para avaliar a própria loja e
melhorar sua reputação. As lojas melhores ranqueadas em uma plataforma ganham
destaque e vendem mais", explica Artur Igreja, especialista em tecnologia
e inovação e professor convidado da FGV.
Igreja explica
que o destinatário pode ser escolhido a partir de informações disponibilizadas
pelas pessoas na internet e nas redes sociais. "Os dados como e-mail,
endereço e nome completo podem ser coletados sem ter como origem um grande
vazamento de dados. As próprias pessoas deixam essas informações abertas e isso
pode ser usado no brushing", alerta o especialista.
Não existe
ainda uma explicação para o envio das sementes ao invés de outros produtos que
poderiam ser usados nessas vendas fantasma. "A hipótese mais provável é
que as sementes foram escolhidas por serem leves e baratas, o que torna mais vantajoso
para o envio das encomendas", diz Igreja.
O jornal
norte-americano Wall Street Journal fez uma reportagem em 2015
denunciando a prática de brushing na plataforma Alibaba, um famoso marketplace
chinês. Esse foi o primeiro registro da prática que fere as diretrizes das
plataformas com o objetivo de enganar clientes e que se espalhou para outros
países.
Segundo Igreja,
o Brasil se tornou um alvo do esquema por ter uma população que é muito ativo
nas redes sociais e por ser o destino de muitas compras feitas pela internet
diretamente da China.
A principal
orientação é não abrir os pacotes de sementes recebidos pelos correios, apesar
de não existir riscos envolvidos até o momento. Em seguida, a pessoa deve
entrar em contato com a Superintendência Federal de Agricultura de seu
estado ou o órgão estadual de defesa agropecuária para providenciar a entrega
ou recolhimento do material.
"Como sei
que não pode descartar no lixo normal, deixei as sementes guardadas. Fui
informada de que deveria entregá-las ao FMMA (Fundação Municipal de Meio
Ambiente de Gravataí). Pretendo fazer isso ainda essa semana", afirma
Daniela.
Do R7
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