Os cristãos chineses que desejam viver a fé cristã precisam agir em segredo para não atrair atenção do governo comunista. Foto Portas Abertas |
Nos últimos dias, a perseguição aos cristãos na China ganhou destaque especial em diversos jornais brasileiros. Porém, a hostilidade aos seguidores de Jesus no país comunista é antiga e há anos preocupa a Igreja de Jesus ao redor do mundo.
Já na dinastia
Ming, entre 1368 e 1644, os cristãos foram banidos do país. Mas a perseguição
atual começou em 1949, quando a República Popular da China foi criada. Todas as
religiões que exigiriam a lealdade dos chineses em detrimento do Estado foram
violentamente combatidas. Forçando, assim, a fuga de missionários cristãos estrangeiros
no país.
Propaganda sobre o governo é vista em todo o país. Crédito: Portas Abertas |
Apesar da
Revolução Cultural que ocorreu entre 1966 e 1976 ter transformado toda a
sociedade chinesa nos padrões desejados pelos comunistas, a Igreja de Jesus
sobreviveu de maneira clandestina. Havia, sim, uma igreja permitida pelo Estado
chinês, mas essa deveria excluir qualquer ensinamento bíblico que fosse contra
os ideais do Partido Vermelho, jurar lealdade aos governantes, ter
uma bandeira da China em exposição e cantar o hino nacional em cada encontro.
Qual é o
número de cristãos na China?
Hoje,
acredita-se que existam 97,2 milhões de cristãos na China, que enfrentam a
hostilidade vindas de oficiais do governo, partidos políticos e líderes
religiosos não-cristãos. A opressão comunista e pós-comunista é um instrumento
para que o governo mantenha o poder e a harmonia na sociedade. O atual
presidente Xi Jinping tem se mantido no poder por meio de um forte combate a
qualquer ideia que possa ameaçar a autoridade máxima dele. Nesse cenário, os
cristãos convertidos e de minorias religiosas, como os muçulmanos de Xinjiang,
também são alvos de ações mais diretas.
Há 15 anos, a organização cristã Portas Abertas publicava um posicionamento sobre a China. O documento reconhecia que o país aparentava estar mais acessível ao cristianismo, já que tinha aberto as portas para fazer negócios com países ocidentais. “A igreja cristã na China pode não ter tantos mártires como a Colômbia, enfrentar tantas restrições quanto as irmãs na Arábia Saudita, ou lutar com tantas multidões extremistas como os irmãos na Indonésia, mas os milhões de cristãos na China permanecem como a maior comunidade perseguida hoje”, dizia a carta.
Uma igreja doméstica foi atacada por oficiais do governo após os seguidores de Jesus desobedecerem a ordem de registro. Crédito: Portas Abertas |
Como é a
perseguição aos cristãos chineses?
As ações contra
os cristãos chineses podem variar de acordo com a região onde eles vivem e
atuam. Alguns líderes são presos e condenados quando descobertos, como
foi o
caso do pastor Wang Yi no início de 2020. Na região centro-leste do
território, em 2019, as
autoridades removeram cruzes, fecharam escolas pertencentes à igreja e
exigiram que os cristãos de uma cidade se registrassem.
Segundo a
pesquisa feita pela Portas Abertas entre 1 de novembro de 2018 e 31 de outubro
de 2019 que gerou a Lista
Mundial da Perseguição 2020, 1.051 cristãos foram atacados na China. O
número de presos chegou a 1.147. Já a quantidade de igrejas atacadas foi alta e
colocou o país em 23º lugar na Lista Mundial da Perseguição 2020, que
classifica os 50 países que mais perseguem cristãos no mundo.
Qual é o
trabalho feito para o fortalecimento dos cristãos chineses?
Desde 1965, a
Portas Abertas atua para o fortalecimento dos cristãos chineses. Mais tarde, 30
mil Novos Testamentos foram entregues, mas não foram suficientes para as
necessidades dos cristãos no território. A missão passou a ser entregar um
milhão de Bíblias. Este
foi o projeto Pérola em 1981, definido pela revista americana Time como
“a maior operação de sua categoria na história da China”.
No dia 18 de junho de 1981, a Missão Portas Abertas entregou um milhão de Bíblias, por meio do projeto Pérola, na praia de Swatow, atualmente Shantou, ao sul do país. Crédito: Portas Abertas |
“Tenho certeza
que não tinham ideia do pedido de um milhão que faziam. Eu também não tinha
ideia de quanto era um milhão de Bíblias, senão teria dito não. Felizmente, nós
fizemos a entrega em obediência à vontade de Deus”, concluiu o Irmão André,
fundador da organização internacional sobre a ação. Assista o vídeo e veja os detalhes da ação.
Hoje, além de
fornecer literatura bíblica, a Portas Abertas trabalha no fortalecimento da
liderança cristã e treinamento bíblico. Os jovens das igrejas domésticas também
podem participar de acampamentos. “Amamos a Jesus, mas também amamos nosso país
e respeitamos a lei. O governo sabe que a comunidade nos respeita muito, que
ouve a nós ao invés do governo. Alguns anos atrás, começamos com alguns
cristãos e agora somos milhares. Os governantes estão realmente
preocupados”, explicou
o pastor Timothy* à Portas Abertas.
Qual é a
religião dos chineses?
Apesar do
Estado comunista não querer que a população tenha uma religião, o confucionismo
foi reconhecido como uma crença nacional e tem 40% da população como adepta. A
religião tradicional chinesa abrange a mitologia nacional e prevê o culto a
diversas divindades que podem ser fruto da natureza, guardiões de clãs, heróis
nacionais e espíritos de ancestrais. Na realidade, a crença tradicional é um
sincretismo religioso que abrange elementos da fé budista, confucionista e de
superstições populares.
O governo chinês investe na desradicalização dos muçulmanos, que muitas vezes lutam pela independência e separatismo. Crédito: Portas Abertas |
O budismo
tibetano e o islamismo também alcançaram muitos chineses, e são malvistos pelo
governo chinês, por isso, em províncias ao noroeste, como Xinjiang, as
restrições são mais severas. Na
região considerada mais volátil do país vivem 10 milhões de uigures muçulmanos.
Eles são considerados vulneráveis e propensos ao extremismo e separatismo, por
isso, a China está gastando bilhões para assegurar que esse povo não seja
impedido do desenvolvimento econômico regional.
Uma maneira
encontrada de enfraquecer a ideologia islâmica foi a criação de centenas de
centros de reeducação. Lá, os detidos são obrigados a falar chinês, cantar
hinos patrióticos e assistir às aulas diárias de propaganda para “limpar as
mentes uigures”. Além de literatura cristã, os alunos precisam deixar de lado
elementos da cultura religiosa como barba e roupas islâmicas. Alguns cristãos
ex-muçulmanos já passaram pelos campos de reeducação e a Portas
Abertas esteve ao lado das famílias para encorajá-las naquele momento
repleto de incertezas.
A organização
mantém projetos que tem mantido a Igreja Perseguida e apoiado aos cristãos
perseguidos em suas necessidades, aonde eles estão. Não apenas na China ou na
Ásia, mas nos mais de 70 países em que atua, levando consolo e dignidade para
os mais de 260 milhões de cristãos perseguidos no mundo. Saiba mais sobre os projetos da
Portas Abertas nesses países.
Por Conexão Política
Por Portas Abertas
*Nome alterado por segurança.
Desde 1965, a Portas Abertas trabalha para o
fortalecimento dos seguidores de Jesus sob o regime comunista chinês.
Para saber mais sobre cristãos perseguidos, acesse www.portasabertas.org.br
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