© Alberto PIZZOLI Sessão dedicada a Pio XII no Arquivo Apostólico do Vaticano |
O Vaticano
revela nesta segunda-feira (2) os arquivos de Pio XII (1939-1958) aos
pesquisadores, ansiosos para estudá-los e entender melhor um papa que
permaneceu em silêncio durante o extermínio de seis milhões de judeus no
Holocausto.
Duzentos
especialistas se registraram para consultar uma montanha de documentos,
acessíveis graças a um inventário que os arquivistas da Santa Sé levaram 14
anos para concluir.
O historiador
alemão Hubert Wolf não perderá o compromisso em Roma, junto com seis
assistentes. Durante a apresentação, esteve muito atento às indicações dos
arquivistas e ficou encantado com a existência de documentos inexplorados de
uma "secretaria privada" do papa.
Esse
especialista na relação entre Pio XII e os nazistas seguirá outra pista: as
notas escritas por 70 embaixadores do Vaticano, os olhos do papa no exterior. E
os pedidos de ajuda de organizações judaicas ou mensagens trocadas com o
presidente dos Estados Unidos Franklin Roosevelt.
Os arquivos do
longo período pós-guerra e da censura de escritores e padres inspirados pelo
comunismo também serão abertos pela primeira vez.
Para a fase do
Holocausto, o Vaticano já publicou o essencial há 40 anos, em 11 volumes
compilados pelos jesuítas. Mas faltam peças, especialmente as respostas do
papa.
"Quando o
papa recebe um documento sobre os campos de concentração [já revelado nos
volumes dos jesuítas], não temos a resposta. Ou ela não existe ou está no
Vaticano", disse Hubert Wolf à AFP.
O historiador
já examinou os doze anos de vida na Alemanha de Eugenio Pacelli, embaixador da
Santa Sé (1917-1929) e testemunha da ascensão do nazismo. Mais tarde, voltou a
Roma para se tornar a mão direita de seu antecessor, Pio XI, antes de ser
eleito papa.
Os arquivos já
revelaram que o pontífice recebeu alertas sobre o extermínio de judeus na
Europa.
"Não há
dúvida de que o papa estava consciente dos assassinatos de judeus, o que
realmente nos interessa é quando ele soube pela primeira vez e quando acreditou",
diz Hubert Wolf.
- 1942:
Mensagem de Natal -
Em 24 de
dezembro de 1942, durante sua longa mensagem de Natal, Pio XII menciona
"centenas de milhares de pessoas que, sem nenhuma culpa, e às vezes pelo
único motivo de sua nacionalidade ou raça, são condenadas à morte ou ao
extermínio progressivo".
A mensagem foi
transmitida em italiano uma vez, sem mencionar explicitamente os judeus ou os
nazistas, mas "os católicos alemães ouviram e entenderam?"
"Os únicos
que ouviram foram os nazistas", resume Wolf, porque havia interferência
nas ondas de rádio e o papa poderia ter falado em alemão.
"Depois da
guerra, Pio XII disse a um embaixador britânico 'fui muito claro' e o
embaixador respondeu 'não o entendi'", destaca o historiador.
Pio XII, um
ex-diplomata que queria permanecer neutro em tempos de guerra, estava
preocupado com a proteção dos católicos e não podia ser mais explícito,
argumentam seus defensores.
Os
historiadores estimam que cerca de 4.000 judeus foram escondidos em Roma em
instituições católicas.
"Muitos
judeus foram salvos em conventos, mas por que foram mortos por pessoas que
alegavam ser cristãs?", aponta o especialista americano David Kertzer,
autor de um livro sobre Pio XII e Mussolini.
Na sua opinião,
o tema essencial permanece "o silêncio do papa" e uma Igreja católica
que "demonizou" os judeus por muito tempo.
"O papa
estava envolvido por esse massacre em massa, que ele estava consciente desde
1941", assegura à AFP este professor universitário, que acusa Pio XII de
nunca ter pronunciado a palavra "judeu".
Hubert Wolf
enfatiza que Pio XII permaneceu em segundo plano após a guerra, "sem dizer
nada sobre o Holocausto". "E por que ele não reconheceu a criação do
Estado de Israel em 1948?", pergunta.
David Kertzer
começará a verificar os arquivos na segunda-feira para terminar um novo livro
sobre o período fascista.
Ele já
digitalizou dezenas de milhares de páginas de arquivos diplomáticos na
Alemanha, Itália e França e examinou documentos militares dos EUA e arquivos
fascistas italianos.
O especialista
diz que um bom relatório diplomático ou um diário pessoal esquecido podem
fornecer pistas sobre as "emoções" do papa. Mas acredita que
"muita informação interessante sairá em conta-gotas do Vaticano ao longo
dos anos".
AFP
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