© Naomi Seibt. Apresentada como 'anti-Greta', a adolescente alemã de 19 anos se tornou uma voz dos céticos das mudanças climáticas. |
"Durante
muitos anos, fui uma alarmista ambiental. Acreditava em toda essa narrativa de
que as mudanças climáticas estavam destruindo o planeta (...), mas, depois de
pesquisar um pouco, decidi que já tinha minha própria e sólida visão sobre o
assunto."
É assim que
Naomi Seibt explica a transição que a levou a se juntar ao Heartland, um
influente think tank conservador sediado nos Estados Unidos, que apóia o
capitalismo e o livre mercado.
Apresentada
como "anti-Greta Thunberg" pelo Heartland, essa jovem alemã de 19
anos se tornou uma voz dos céticos das mudanças climáticas.
Como Greta,
Seibt é nova, branca, eloquente, originária de um país rico da Europa
Ocidental, bastante madura para sua pouca idade e fala inglês perfeitamente.
Mas as semelhanças terminam aí.
"Eu sou
libertária. Geralmente não quero me alinhar com nenhum partido", disse
Naomi Seibt à BBC News Mundo, sem negar, no entanto, seu relacionamento próximo
com membros do Alternative für Deutschland (AfD), partido de extrema direita
alemão que milita contra a imigração, o Islã e a União Europeia.
A visão dela
sobre o meio ambiente também difere da de Thunberg, que foi nomeada em 2019
como a "pessoa do ano" pela prestigiada revista Time, por sua luta
contra as mudanças climáticas, tornando-se a mais jovem da história a receber o
prêmio.
"Na
realidade, o dióxido de carbono é um gás de efeito estufa menor", diz
Seibt, argumentando que o Grupo Intergovernamental de Especialistas em Mudanças
Climáticas alega que o efeito do aquecimento (causado pelas emissões) de CO2 é
alto com base em seus próprios modelos de computação e não em dados reais.
"Eu acho
que é um grande problema, porque as pessoas estão sendo informadas de que tudo
isso é baseado na ciência, inclusive cientistas e políticos", acrescenta.
Procurado pela
BBC News Mundo, o Greenpeace Espanha não comentou sobre essa jovem ou suas
ideias. "Pensamos que esse debate está superado. É nossa política não
valorizar as opiniões negacionistas que vão contra as evidências
científicas", disse Ana Martínez, gerente de comunicações da organização.
Cientistas
apontam que as mudanças climáticas devem causar grandes transformações em
todo o mundo: o nível do mar vai subir, a produção de alimentos pode cair e
algumas espécies talvez sejam extintas.
A Organização
das Nações Unidas (ONU) alertou que o mundo precisa limitar o aumento da
temperatura média global a menos de 1,5° C em relação aos níveis pré-industriais.
Mas, de acordo com os cientistas, cumprir a meta de 1,5° C exige "mudanças
rápidas, de longo alcance e sem precedentes" em todos os aspectos da
sociedade.
O plano de
combater os objetivos de redução de CO2
© Getty Images Naomi Seibt diz que gostaria de conhecer Greta Thunberg (foto) 'além de seus pontos de vista sobre as mudanças climáticas e o que ela diz diante das câmeras' |
Com um
"salário modesto", como ela diz, Seibt trabalha desde dezembro para a
Heartland, organização acusada de lançar uma campanha para combater os esforços
da Alemanha para regular as emissões de dióxido de carbono no mundo.
Em entrevista
ao jornal britânico The Guardian, Connor Gibson, pesquisador do Greenpeace nos
Estados Unidos, acusou a Heartland de "canalizar dinheiro anônimo dos EUA
(para promover) a negação climática em outros países".
"Ela conta
com a mídia para promover estratégias de equivalências falsas para tentar
normalizar crenças radicais. A negação do clima não é um crime sem vítimas, e é
hora de os responsáveis serem apontados", diz ele.
De acordo com o
site britânico Desmog, dedicado a denunciar o que considera campanhas de
desinformação sobre mudanças climáticas, a Heartland é "um dos grupos mais
notórios que negam a ciência das mudanças climáticas nos Estados Unidos e
recebeu fundos da ExxonMobil e de grandes fundações conservadoras".
O jornal
americano The Washington Post relata que, durante a Conferência de Madri sobre
Mudanças Climáticas, realizada em dezembro, dois funcionários do CORRECTIV, um
grupo de mídia alemão sem fins lucrativos, entraram em contato com James
Taylor, diretor do Centro Arthur B. Robinson para Política Climática e
Ambiental da Heartland, e se passaram por doadores da indústria automotiva.
Os jornalistas
disfarçados ofereceram a Taylor meio milhão de euros, que ele aceitou
imediatamente, apresentando um plano elaborado para combater o desejo das
autoridades alemãs de limitar a mudança climática.
Taylor disse ao
Washington Post que sua resposta teria sido a mesma se ele soubesse a
verdadeira identidade dos jornalistas.
Na proposta
enviada pelo Centro Arthur B. Robinson, ele descreveu Naomi Seibt como "a
estrela" de um "Fórum da Realidade Climática" organizado pela
Heartland em paralelo à cúpula de Madri.
À BBC News
Mundo, Taylor descreve a jovem alemã como uma "grande mensageira da
liberdade humana no mundo".
"Ela é uma
jovem adulta muito inteligente e articulada, com uma visão muito perspicaz de
melhorar as condições (de vida) na Europa e no resto do mundo. Acho que seria
maravilhoso se as pessoas ouvissem sua mensagem", disse.
Mas qual é
exatamente a mensagem dela?
'Não acho que
os humanos estão causando mudanças climáticas'
Naomi acredita
que Thunberg e outros ativistas ambientais estão causando "histeria
desnecessária" exagerando a crise climática.
"Eu não me
considero uma negacionista da mudança climática, porque se você me perguntar se
eu acredito na mudança climática, é claro que vou dizer que sim (...) o clima
está sempre mudando, há milhões e bilhões de anos."
"O clima
está mudando o tempo todo ao longo deste ano", acrescenta ela.
"Tivemos
tempos quentes, tempos frios. Tudo está relacionado à rotação do Sol,
relacionado à maneira como o Sol afeta a temperatura do planeta."
Questionada se
ela considera positiva a mudança climática, a jovem se defende: "Não estou
dizendo que é positiva ou negativa. É neutra. O clima está sempre mudando. É
natural (...) O que não acho é que os seres humanos são responsáveis pelas
mudanças climáticas", diz.
Seibt também
nega as acusações de fazer parte de um plano para atrapalhar as autoridades de
seu país na luta contra as mudanças climáticas.
"Não me
vejo mais como uma ativista puramente alemã, por assim dizer", diz ela,
que acrescenta que seu ativismo agora está voltado para a comunidade
internacional.
Ligações com
Donald Trump
Fundada em 1984
e financiada principalmente por doadores anônimos, a Heartland, organização que
agora ajuda a espalhar a mensagem "anti-Greta", mantém laços
estreitos com membros do governo Trump, de acordo com o Washington Post.
Segundo
documentos obtidos pelo jornal americano, William Happer, que atuou como
diretor do Conselho de Segurança da Casa Branca de 2018 a 2019, teria
solicitado a ajuda da Heartland para promover suas ideias de que as emissões de
CO2 deveriam ser consideradas benéficas para a sociedade.
"Acreditamos
que o governo Trump em geral está fazendo um trabalho muito bom em relação às
políticas energética, ambiental e climática", disse James Taylor, da
Heartland, à BBC.
"Temos o
prazer de fornecer informações e assessoramento a quem deseje recebê-los",
acrescenta ele sobre os membros do governo dos EUA e confirma ter contato com
"alguns" deles.
Naomi Seibt
descarta a existência de vínculos entre Trump e a organização em que trabalha.
"Talvez em termos de pontos de vista, porque ele também foi considerado um
negacionista das mudanças climáticas."
'Tenho certeza
de que Greta é uma garota muito legal'
Em relação à
sua "rival" Greta Thunberg, ela diz que não tem nenhum problema com
ela ou com a narrativa geral da luta contra as mudanças climáticas.
Diz apenas que
lamenta que apenas um lado da questão seja mostrado.
"O que
vejo é que a maioria das pessoas nas ruas, protestando e falando sobre mudanças
climáticas, políticos e celebridades, não têm ideia do que realmente está
acontecendo. Eles não pesquisam a ciência por trás disso. Se fizeram, fico
feliz em discutir com eles."
Além disso, ela
diz que tem certeza de que Greta é uma garota "muito legal" e
"interessante".
"Gostaria
de conhecê-la além de suas opiniões sobre a mudança climática e o que ela diz
diante das câmeras, porque ela é muito mais do que isso. Não é apenas
propaganda (contra) a mudança climática", acrescenta.
Da mesma forma,
ele confessa que, embora não goste de ser chamada de "anti-Greta",
diz que isso serve para torná-la conhecida e transmitir sua voz ao mundo.
"Não me
considero uma anti-Greta e não quero me tornar uma espécie de marionete do lado
oposto."
Enquanto Greta
Thunberg tem 4 milhões de seguidores no Twitter, Naomi Seibt (que abriu sua
conta em fevereiro de 2020) tem 16.500.
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