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Terras estão
sendo doadas a comunidade Quilombola
de Búzios, no RJ — Foto: André Dias/ Inter TV
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Segundo o
Incra, herdeiros doaram 800 mil metros quadrados da Fazenda Porto Velho, em
Búzios, para a Associação dos Remanescentes Quilombolas de Baía Formosa.
Uma área de 800
mil metros quadrados está sendo doada por herdeiros da Fazenda Porto Velho para
uma comunidade quilombola em Búzios, na Região dos Lagos do Rio, quase 50 anos
depois de as famílias terem sido expulsas da região.
Segundo o
Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), o caso, que
favorece a Associação dos Remanescentes Quilombolas de Baia Formosa, é inédito
em todo o Estado do Rio de Janeiro.
"Os
processos de titulação de territórios quilombolas costumam ser demorados e ter
parte da questão resolvida de boa vontade entre os atores envolvidos é
positivo", afirma o Incra.
Reconhecida
pela Fundação Palmares como povo quilombola em 2011, a comunidade atualmente é
composta por 120 famílias.
Quando saíram
da Fazenda Porto Velho, na região da Baía Formosa, na década de 1970, eram
cerca de 60.
Elizabeth
Fernandes, líder da comunidade quilombola, contou que era criança quando foi
expulsa com a família do local.
"Não
vejo a hora da gente voltar para lá. Amanhecer andando naquela terra...",
disse.
Na época, os
quilombolas se mudaram para bairros como Jardim Peró e Jardim Esperança, em
Cabo Frio. "Aqui não dá para fazer plantio. Lá vamos poder voltar a fazer
horta e gerar renda", afirmou Elizabeth.
Já o fazendeiro
Francisco Bueno disse ao G1 que
a propriedade pertenceu ao falecido pai.
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Elizabeth e
Francisco assinam documento para a doação
das terras
da Fazenda aos Quilombolas de Búzios.
Foto:
Elizabeth Fernandes/ Arquivo Pessoal
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"Como
éramos muito novos [ele e o irmão] não sabíamos nada em relação a expulsões ou
algo parecido", contou.
Apesar disso,
Francisco diz que a decisão de doar as terras para a comunidade foi inspirada
na figura da mãe que, segundo ele, teve um papel importante no que diz respeito
a obras sociais na região naquela época.
"Acreditamos
em um legado do bem", acrescentou.
História da
comunidade quilombola
Segundo dados
do Incra, para ser caracterizada como uma comunidade quilombola é preciso ter a
presunção da ancestralidade negra, histórico de resistência coletiva desde o
período escravagista até a atualidade, vínculo histórico próprio e apresentar
relações com o território que pleiteiam.
No caso das
terras de Baía Formosa, o Incra informou que sua ocupação data de 1850, quando
a área fazia parte de uma imensa fazenda chamada Campos Novos.
O Instituto
afirma que a fazenda foi sendo desmembrada no século 19, transformando-se em
várias fazendas distintas e com donos diferentes.
"A medida
em que diferentes proprietários passavam pela fazenda, as famílias permaneciam
morando e trabalhando na terra, sempre fazendo o acordo de colonato ou
arrendamento: elas moravam na terra e em troca trabalhavam para o
proprietário", disse o Incra.
Porém, já na
década de 1970, o Instituto afirma que esses acordos começaram a ser rompidos,
pela modernização do campo e a valorização das terras.
Com isso, as
famílias foram sendo expulsas da região, onde viveram por quase 100 anos.
Título
Segundo o
Incra, existe um processo aberto desde 2016 da Associação dos Remanescentes da
Baía Formosa para conseguir o título de comunidade quilombola.
"Os
títulos são coletivos, em nome da associação de quilombolas, e incluem uma
cláusula de inalienabilidade, imprescritibilidade e de impenhorabilidade",
explicou o Incra.
De acordo com o
Instituto, para chegar a este título exitem algumas etapas e a mais demorada é
a que atualmente se encontra o processo do território quilombola de Baía
Formosa: elaboração do Relatório Antropológico de Identificação e Delimitação
(RTID).
De acordo com o
Incra, este é o estudo técnico que inclui informações cartográficas, fundiárias,
agronômicas, ecológicas, geográficas, socioeconômicas, históricas e
antropológicas da área.
Centro de
Tradições
Além de ter as
terras de volta, a comunidade quilombola também vai ganhar um Centro de
Tradições na região.
Isso porque
está sendo construído ao lado da Fazenda Porto Velho um bairro planejado
chamado Aretê.
Segundo os
investidores, a restauração e construção do Centro de Tradições Quilombolas da
Baía Formosa são uma contrapartida do empreendimento e tem como objetivo
valorizar as comunidades do entorno do Aretê.
A ideia, ainda
de acordo com os investidores, é resgatar a história quilombola da região e ser
um espaço para a disseminação e manutenção de sua cultura.
Atualmente, os
responsáveis pelo Aretê informaram que o projeto do Centro de Tradições está em
fase de concepção, de acordo com as características de preservação culturais da
tradição, determinadas pela Prefeitura e órgãos responsáveis.
A construção,
de acordo com eles, será iniciada nos próximos meses, após a aprovação do projeto
e seu licenciamento.
Por Aline Rickly, G1 — Região dos
Lagos


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