O
ex-governador do RJ Sérgio Cabral — Foto: Reprodução/TV Globo
|
Processo da
Lava Jato é um desdobramento da Operação Calicute, que motivou a prisão do
ex-governador. Ação fala de propina em obras emergenciais.
O ex-governador
do Rio Sérgio
Cabral (MDB) foi interrogado nesta terça-feira (27) na Justiça
Federal. Pela primeira vez, ele admitiu a existência da "taxa
de oxigênio" — uma propina de 1% sobre intervenções urbanas
na Secretaria de Obras.
Cabral disse
que, às vezes, o valor superava o 1% apontado pelo Ministério Público Federal
(MPF) na denúncia. Ele se prontificou a falar reservadamente sobre o caso, já
que, segundo ele, alguns dos envolvidos ainda têm foro privilegiado.
Os
ex-secretários da pasta Hudson Braga e Luiz
Fernando Pezão (MDB), que foi sucessor de Cabral no governo, recebiam a
"taxa de oxigênio" e ainda prestavam contas ao então governador — de
acordo com o depoimento.
"(Pezão)
Participava, era beneficiado (pela taxa de oxigênio) e me dava satisfação,
prestava conta de valores inclusive de terceiros", disse.
A defesa de
Pezão diz que ele "sempre negou e continua negando que tenha recebido
propina".
"(Hudson
Braga) era uma das pessoas que me prestava contas, em tese, junto com Pezão.
Eles usavam recursos tanto de benefício pessoal quanto de terceiros, terceiras
pessoas".
O ex-governador
também disse que, pelo o que ouviu de Fernando Cavendish, ex-dono da
empreiteira Delta, pode supor que o o esquema já existia nos governos
anteriores ao seu.
"Creio
que sim pelo o que me dizia o Fernando Cavendish, que (disse que) ajudava
(pagando propina) nos governos de Garotinho".
Pena de 216
anos
O processo é um
desdobramento da Operação
Calicute, a primeira da Lava Jato fluminense e que motivou a
prisão de Cabral. A pena dele na primeira instância já
chega a 216 anos.
A acusação é de
que o ex-secretário de Obras Hudson Braga recebeu propina da Oriente Construção
Civill para beneficiá-la em obras emergenciais durante o mandato do
ex-governador.
Além de Cabral
e Braga, foram ouvidos o ex-coordenador de licitações da Oriente, Alex Sardinha
da Veiga, e o ex-diretor da empresa Geraldo André de Miranda Santos. Ambos
negaram os crimes. Wagner Jordão Garcia, apontado como operador financeiro do
esquema, se manteve em silêncio.
Documentos e
e-mails enviados por Sardinha, segundo o MPF, detalham o esquema. Sardinha não
soube explicar como uma das mensagens foi enviada e disse também que não
procurou a polícia para saber como a mensagem saiu de sua caixa de correio
eletrônico.
O MPF afirma
que a propina da Oriente foi paga entre 2010 e 2014.
'Promiscuidade'
com dinheiro público
Cabral ainda
explicou que ele não era diretamente beneficiado da "taxa de
oxigênio", já que seriam de contratos menores com empreiteiras menores.
Ele afirmou que participava de esquemas com as maiores construtoras, embora
também recebesse doações de campanha das empreiteiras de pequeno e médio porte.
"Se foi 1%
ou 2% a cada contrato não sei, mas na Secretaria de Obras eu sabia que existia
uma estrutura (de pagamento de propina) nesse programa aqui e em outros
programas que se apelidou chamar de 'taxa de oxigênio', mas para além disso
foram muitas obras na estrutura da Secretaria de Obras. Diria que de benefício
indevido mesmo, não aquela coisa que eu dizia de que era uma espécie de
salário, é para além disso. Posso esclarecer o uso dessa taxa de oxigênio,
tinham varias estruturações específicas, parte delas eu tinha ciência, parte
delas não tinha".
O
ex-governador, que durante dois anos negou
ter recebido propina, também analisou o que parte da classe política
tem dito sobre o recebimento de caixa dois — eventualmente negando que a
vantagem indevida seja usada para próprio proveito.
"Pra
mim, era clara a distinção das empresas que contribuíam por acreditar em mim e
aquelas empresas que agiam de forma pragmática esperando ser beneficiadas com
licitações direcionadas. Essa promiscuidade entre os valores de ajuda de
campanha (caixa dois) e de benefício pessoal (propina) é marcante em todo o
Brasil".
Por Gabriel Barreira, G1 Rio
0 comentários:
Postar um comentário
Obrigado pelo seu comentario.
Fique sempre ligado do que acontece em nossa cidade!