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Images Navios russos capturaram três embarcações
ucranianas após acusá-las de entrar em águas
russas
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O Parlamento da
Ucrânia decidirá na segunda-feira (26) se vai declarar lei marcial depois de
navios russos atirarem contra embarcações do país na costa da Criméia, região
da Ucrânia anexada pela Rússia em 2014.
Para a Ucrânia,
o episódio que resultou em tripulantes feridos e capturados foi um "ato de
agressão". Do outro lado, Moscou afirma que os navios haviam "entrado
em suas águas ilegalmente".
O confronto no
domingo no mar Negro marca uma nova escalada na tensão entre os dois países.
Essa é a
primeira vez que as forças militares dos vizinhos entram em conflito aberto em
anos recentes, apesar de as forças ucranianas estarem lutando contra separatistas
apoiados por Moscou e "voluntários russos" (que a Rússia nega serem
militares) no leste do país.
Como medida de
segurança, o presidente ucraniano, Petro Poroshenko, propôs a decretação de lei
marcial durante 30 dias – metade do tempo recomendado pelo conselho de defesa e
segurança do país no dia anterior.
Ele disse que a
medida não representa uma declaração de guerra, mas o ministro da Defesa
ucraniano afirmou ter dado ordem para os militares ficarem em alerta de
combate.
As ações russas
na região geraram críticas de diversos países ocidentais, e o Conselho de
Segurança da ONU deve fazer uma reunião emergencial sobre o tema.
O que aconteceu
no domingo?
A marinha
ucraniana afirma que seus navios — duas canhoneiras e um rebocador — foram
atingidos e neutralizados na tarde de domingo, quando tentavam deixar a área
próxima a uma ponte no estreito de Kerch – o único acesso para o mar de Azov.
O Ucrânia diz
que 23 tripulantes – entre eles ao menos três feridos – foram capturados pelas
forças especiais russas.
O líder militar
ucraniano Viktor Muzhenko disse que a guarda costeira da Rússia "atirou
para matar" durante o confronto.
Segundo a
agência russa de inteligência FSB (antiga KGB), a guarda costeira perseguiu os
navios ucranianos e abriu fogo para forçá-los a parar. Afirmou também que três
tripulantes ucranianos foram feridos e estão sendo tratados em um hospital na
Criméia.
Antes do
confronto, a Rússia havia bloqueado a ponte com um navio-tanque, além de ter
preparado aviões e helicópteros.
O que levou a
isso?
A tensão se
agravou na costa da Criméia há alguns meses, depois que a Ucrânia deteve um
navio pesqueiro do país vizinho. Em seguida, a Rússia passou a inspecionar as
embarcações que saem ou chegam a portos ucranianos por "questões de
segurança". Segundo Moscou, há uma ameaça em potencial à ponte de Kerch
por parte de radicais ucranianos.
A Ucrânia acusa
a Rússia de tentar ocupar o mar de Azov e prejudicar sua economia negando
acesso a dois portos importantes: Berdyansk e Mariupol. Produtos derivados de
ferro e aço que saem do segundo porto correspondem a 25% das receitas de
exportação do país.
No último
confronto, no domingo, a Rússia acusou os navios ucranianos -que tentavam ir do
porto de Odessa, no mar Negro, para Mariupol, no de Azov- de entrarem
ilegamente em suas águas. A FSB havia temporariamente fechado a área para
cargueiros.
Segundo a
Ucrânia, o fechamento é uma violação da legislação internacional, já que o mar
Negro é uma área livre para o comércio e a Criméia originalmente pertence ao
território ucraniano.
A Ucrânia cita
outros dois argumentos para transitar sobre a região. O primeiro é um tratado
de 2003 assinado entre os dois países que dava acesso irrestrito de ambos ao
estreito de Kerch e ao mar de Azov.
Os ucranianos
dizem também que haviam informado os russos com antecedência sobre o plano de
mover os navios até Mariupol – a Rússia nega.
O que está
acontecendo na Ucrânia?
A situação com
os russos e os separatistas tem gerado uma reação violenta na Ucrânia.
No domingo à
noite, multidões se reuniram em frente à embaixada russa em Kiev, acendendo
sinalizadores. Pelo menos um carro que pertencia à embaixada foi queimado.
O presidente
ucraniano, Petro Poroshenko, afirmou que as ações russas foram "não
provocadas e malucas" e disse que iria pedir ao parlamento a aprovação de
uma lei marcial. Ele já assinou o decreto pedindo a lei marcial ao parlamento.
Em um
pronunciamento na TV, o líder ucraniano disse que não queria que a lei marcial
afetasse as eleições marcadas para 31 de março do ano que vem. Caso seja
aprovada, a medida de exceção entraria em vigor no dia 28 de novembro.
O que a lei
marcial significa para o país?
A lei marcial
pode dar ao governo o poder de restringir protestos públicos, regular a mídia,
suspender eleições e obrigar os cidadãos a realizar tarefas "socialmente
necessárias", como trabalhar em instalações de defesa.
O parlamento da
Ucrânia está discutindo o que fazer no momento e deve votar a implementação ou
não da lei ainda nesta segunda-feira.
A classe
política está rachada sobre a questão. Parte avalia que a situação pode levar
ao cancelamento das eleições presidenciais e parlamentares em 2019.
Alguns
analistas afirmam que o presidente Poroshenko seria o principal beneficiado
disso, já que seus índices de aprovação têm despencado nos últimos meses.
Por que as
relações entre os países são tão ruins?
A Ucrânia
conquistou a independência depois do colapso da União Soviética em 1991.
A Rússia passou
a considerar as inclinações ocidentais do país uma ameaça para seus interesses.
Em 2014, o
líder ucraniano pró-Russia foi derrubado, depois de protestos em larga escala
contra a decisão do governo de abandonar planos para fazer um acordo de
associação com a União Européia.
A Rússia então
anexou a Criméia, enquanto separatistas apoiados pelo país nas regiões do leste
atuaram contra o Estado ucraniano.
A Ucrânia e
diversos países ocidentais acusam a Rússia de enviar suas tropas para a região
e armar os separatistas.
Moscou nega,
mas afirma que "voluntários russos" estão ajudando os rebeldes.
Mais de 10 mil
pessoas já foram mortas no conflito no leste.
'Um equilíbrio
difícil'
Por Jonathan
Marcus, correspondente para defesa e diplomacia
O incidente no
mar Negro é um poderoso lembrete de que as tensões entre a Rússia e a Ucrânia
não são parte de uma 'guerra fria': elas podem ser inflamadas sem nenhum aviso.
A Otan
(Organização do Tratado do Atlântico Norte) e os aliados da Ucrânia no ocidente
têm apoiado fortemente o presidente Petro Poroshenko. Mas o que podem fazer
para influenciar o comportamento russo?
Haverá
conversas sobre mais sanções econômicas, mas a Rússia já está sofrendo fortes
sanções que não foram suficientes para forçar o país a repensar a anexação da
Criméia. Deve haver pedidos de mais suporte para a Ucrânia, para que os países
da Otan forneçam treinamento para os militares do país – estima-se que eles
podem ajudar mais.
E o governo do
presidente americano Donald Trump, antes mesmo desse episódio, já estava
considerando vender mais armas para a Ucrânia, em adição aos mísseis
anti-tanque já fornecidos.
Mas há um
equilíbrio difícil de ser atingido entre apoio para a integridade territorial
da Ucrânia, de um lado, e de outro evitar qualquer coisa que possa pesar para
que o conflito se torne uma guerra aberta.
BBC News
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