Ex-secretário de Obras do Rio acusa Eduardo Paes de participar de esquema de desvios em grandes obras | Rio das Ostras Jornal

Ex-secretário de Obras do Rio acusa Eduardo Paes de participar de esquema de desvios em grandes obras


O ex-prefeito do Rio afirmou que as acusações são mentirosas e confrontam os próprios depoimentos anteriores de Alexandre Pinto. Em depoimentos à Lava Jato, os ex-executivos da Odebrecht citados confirmaram o repasse de dinheiro a Paes, mas disseram que era caixa dois de campanha.
O ex-secretário de Obras da Prefeitura do Rio de Janeiro Alexandre Pinto deu nesta quinta-feira (4) o quarto depoimento ao juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal do Rio, depois de sua primeira prisão em agosto do ano passado.
Ele foi preso duas vezes na Operação Lava Jato do Rio. Confessou desvios na prefeitura e está em prisão domiciliar. Hoje, pela primeira vez, Alexandre Pinto acusou o ex-prefeito Eduardo Paes de participar de esquema de desvios de recursos em grandes obras no Rio.
Alexandre Pinto: “A gente tinha casos nas grandes obras que as determinações não vinham da Secretaria de Obras. Vinham de outros lugares. Vinha do gabinete do ex-prefeito Eduardo Paes, no qual ele pedia que, realmente, determinava, não pedia, determinava, que determinadas obras, principalmente as grandes, existiria uma... a Transcarioca, que foi obra de mais de R$ 1,5 bilhão.”
Juiz Marcelo Bretas: “Veio pedido de cobrança de propina do prefeito?”
Alexandre Pinto: “Na verdade, sim. Uma obra de mais de R$ 1,5 bilhão que veio uma determinação do prefeito... Determinação montada com o prefeito e outras duas pessoas... Também não dá para citar nomes aqui porque são autoridades e têm foro [privilegiado].”
Alexandre Pinto: "Essas pessoas estão em exercício de cargo com foro. Não posso mencionar. Mas isso era montado com determinação dele [Eduardo Paes].”
Juiz Marcelo Bretas: “O senhor assistiu da boca dele isso em algum momento? Ele dizer? Pode reproduzir as palavras?”
Alexandre Pinto: “Posso falar em relação a uma delas que era a Odebrecht. Em relação a uma obra da Odebrecht, a Transoeste. Foi muito claro em dizer: ‘A Transoeste vai ser da Odebrecht’. E foi fechado na sala dele.”
Juiz Marcelo Bretas: “Antes do edital?”
Alexandre Pinto: “Antes do edital. Ele pessoalmente. Fechado na sala dele com o senhor Junior da Odebrecht e o senhor Leandro Azevedo da Odebrecht. E eu presente junto com ele”.
Juiz Marcelo Bretas: “Encerrou aí ou ele falou mais?”
Alexandre Pinto: “Na verdade, assim, em relação a isso, a gente sabe, me foi dito pelo Leandro Azevedo, existia um determinado pagamento que aconteceria ao prefeito.”
Juiz Marcelo Bretas: “Esse pagamento foi feito de que forma? Dinheiro? Brasil? Exterior?”
Alexandre Pinto: “Não sei, excelência, não perguntei isso.”
Juiz Marcelo Bretas: “Lembra do montante?”
Alexandre Pinto: “1,75% do valor do contrato. Foi o que o Leandro Azevedo me falou que era o combinado com o prefeito Eduardo Paes.”
Juiz Marcelo Bretas: “Pessoalmente com o prefeito? Quanto era esse dinheiro?”
Alexandre Pinto: “O contrato da Transoeste chegou à ordem de quase R$ 600 milhões”.
Juiz Marcelo Bretas: “1,75% de 600 milhões?”
Alexandre Pinto: “Isso foi o que o senhor Leandro Azevedo me disse. O acerto da Odebrecht em relação a ele”.
Segundo Alexandre Pinto, as negociações das empreiteiras eram feitas diretamente no gabinete do ex-prefeito Eduardo Paes.
Alexandre Pinto: “Todas as empreiteiras iam no gabinete do prefeito e do secretário chefe da Casa Civil à época.”
Juiz Marcelo Bretas: “O senhor mencionou Andrade, Odebrecht. Alguma outra?”
Alexandre Pinto: “OAS, Delta, Carioca Engenharia. A Transcarioca também. Foi uma obra que foi construída com recursos do Bndes de financiamento. A Macrodrenagem de Jacarepaguá, com recursos da Caixa Econômica. Todas as grandes obras, né? Projetos, grandes projetos.”
Juiz Marcelo Bretas: “Teve acordo com prefeito participando pessoalmente dessas?”
Alexandre Pinto: “Pessoalmente.”
Caixa dois
Nos depoimentos que deram à Lava Jato, em delação premiada, os ex-executivos da Odebrecht Benedito Junior e Leandro Azevedo, citados nesta quinta pelo ex-secretário Alexandre Pinto, confirmaram o repasse de dinheiro a Paes, mas disseram que era caixa dois de campanha.
Em depoimentos exibidos pela TV Globo, Benedito Júnior e Leandro Azevedo negaram o pagamento de propina e o recebimento de benefícios e de vantagem pessoal por Eduardo Paes.
O que dizem Eduardo Paes e os citados
O ex-prefeito Eduardo Paes afirmou que as acusações de Alexandre Pinto são totalmente mentirosas e confrontam os próprios depoimentos anteriores dele que nunca tinham mencionado envolvimento de Paes com irregularidades.
Em sua nota, Eduardo Paes também faz referência aos depoimentos de Benedito Junior e Leandro Azevedo. Segundo o ex-prefeito, os dois ex-dirigentes da Odebrecht, que depuseram na Lava Jato, sempre negaram que ele tivesse recebido propina ou vantagem pessoal. Assim como, prossegue a nota, fizeram os dirigentes de todas as outras empreiteiras investigadas na Lava Jato.
Segundo Paes, todos os depoimentos desmentem, enfaticamente, que ele tivesse se beneficiado. Paes afirma ainda que Alexandre Pinto é ladrão confesso e que, para para conseguir benefícios penais, agora diz que "ouviu falar sobre esta mentira de um dirigente da Odebrecht às vésperas das eleições." A nota considera suspeito que a declaração de Alexandre Pinto tenha ocorrido a três dias do primeiro turno eleitoral e sem oferecer nenhuma prova.
O ex-prefeito encerra afirmando que há mais de um ano e meio vem sendo atacado sistematicamente, sem que surgisse nenhum indício concreto contra ele. E que segue sua campanha confiante na Justiça e na capacidade de discernimento da população.
A Andrade Gutierrez informou que apoia o combate à corrupção, que visa esclarecer fatos do passado e que tudo o que não seguir rígidos padrões éticos será rechaçado pela companhia.
A Odebrecht disse que colabora com a Justiça e reafirma o compromisso de atuar com ética, integridade e transparência. A Carioca Engenharia não comentou. A OAS e a Delta Engenharia não haviam se manifestado até a última atualização desta reportagem.
Por G1 — Rio de Janeiro

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