Dois anos após Paralimpíada, pessoas com deficiência ainda têm dificuldade para andar de trem no RJ | Rio das Ostras Jornal

Dois anos após Paralimpíada, pessoas com deficiência ainda têm dificuldade para andar de trem no RJ

Para entrar nas estações e chegar às plataformas de embarque
no trem, o cadeirante Marcelo Diniz tem de contar com a ajuda
 de pelo menos três pessoas (Foto: Arquivo Pessoal)

Vão e desnível entre plataforma e trem impedem embarque e desembarque de cadeirantes. Governador vetou projeto de lei que pede instalação de rampas móveis nas estações.
Dois anos depois da realização da Paralimpíada do Rio, pessoas com deficiência ainda enfrentam sérios problemas de mobilidade pela cidade, principalmente no transporte ferroviário. Entre os obstáculos, longas escadarias e um vão de cerca de 40 centímetros entre o trem e a plataforma.
Cadeirante há 17 anos, o comerciante Marcelo Duarte Diniz, 42 anos, lamenta não ter condições de utilizar o trem para fazer as compras que precisa para sua loja em Inhoaíba, na Zona Oeste do Rio. Ele depende de táxi especial, da disponibilidade de amigos ou da solidariedade de outros passageiros.
“Sou independente e me viro bem com a cadeira de rodas. Mas, para ir a Madureira para comprar produtos para a loja, dependo de todo mundo. O trem facilitaria muito a minha vida, seria o transporte ideal, mas faltam rampas para chegar à estação e da plataforma para o trem. Tenho de contar com pelo menos três pessoas para me ajudar”, lamenta o comerciante, que de táxi gasta em média R$ 150, ida e volta, de Inhoaíba a Madureira.
Como não há rampas de acesso às estações, Diniz tem de contar com a ajuda de pelo menos três pessoas para subir a escadaria até as roletas de acesso e depois descer até a plataforma de embarque. Ou, como em Santa Cruz, na Zona Oeste, pedir para que alguém que esteja na plataforma de embarque chame um funcionário da estação para abrir o cadeado de um portão.
Mas os problemas não acabam com a entrada na estação. Ao contrário, aí complicam ainda mais. Sem ajuda de pelo menos duas pessoas, o cadeirante não consegue embarcar sozinho no trem. Diniz explica que há vão entre o trem e a plataforma de cerca de 40 centímetros e com um desnível que deve ter mais de dez centímetros de altura. A cadeira de rodas não passa e pode cair no vão.
“A distância e a altura são muito grandes. Já vi a porta fechar com uma cadeirante entre o trem e a estação e os passageiros tentando evitar que ela fosse esmagada pela porta. É revoltante pagar impostos e não ter direito de ir e vir. Vivo num espaço restrito. Sempre gostei de carnaval, mas não tenho como ir ao Centro para ver os desfiles”, conta Diniz.
Rampas móveis acabariam com distância e desnível entre
 trem e plataforma; sem ajuda cadeirantes não conseguem
 embarcar (Foto: Arquivo Pessoal)
Uma rampa móvel nas estações solucionaria o problema de embarque e desembarque nos trens, não só para cadeirantes, mas também para outras pessoas com dificuldade de mobilidade, como usuários de muletas, cegos, idosos, crianças pequenas, gestantes e carrinhos de bebê.
Projeto de lei que previa rampas móveis foi vetado
Um projeto de lei da deputada Lucinha, que previa a disponibilização de rampas móveis nas plataformas de todas estações, foi integralmente vetado pelo governador Luiz Fernando Pezão este mês. No veto, ele alega que a medida “pode causar um desequilíbrio econômico-financeiro original dos contratos das concessões”. E que a SuperVia “está realizando intervenções nas estações e desenvolvendo projeto para a colocação de rampas móveis para a melhoria da mobilidade”.
E também por que já existe uma lei que obriga à adaptação para as estações de trem.
“A concessão já tem seis anos e a SuperVia ainda está desenvolvendo o projeto?”, questiona a deputada, que vai tentar derrubar o veto de Pezão.
No entanto, segundo o também cadeirante Jameson Lourenço, de 19 anos, não é bem isso que se vê ao longo dos ramais de trem da SuperVia. Segundo ele, o acesso só é facilitado nas estações que foram preparadas para a Olimpíada e Paralimpíada, em 2016: Maracanã, São Cristóvão, Engenho de Dentro, Vila Militar, Magalhães Bastos e Ricardo de Albuquerque.
“Até a Central do Brasil tem esse desnível entre a plataforma e o trem. Isso é perigoso não só para cadeirantes. Minha avó, que tem 73 anos, fica com medo de cair e também precisa de ajuda para entrar no trem. É um perigo”, destaca o estudante.
O aposentado e deficiente visual Herley Nunes, de 68 anos, diz que sempre conta com a solidariedade das pessoas para subir e descer as escadas das estações e para embarcar e desembarcar dos trens.
O deficiente visual Herley Nunes supera as dificuldades para
andar de trem acreditando na generosidade de outros
passageiros (Foto: Arquivo Pessoal)
“A distância e a altura são uma dificuldade. Mas prefiro ver o lado bom das coisas e quero acreditar que sempre vou poder contar com a bondade das pessoas toda vez que tiver de andar de trem”, diz Nunes.
Procurada pelo G1, a SuperVia respondeu através de nota que desde 2012 a empresa fez melhorias em 31 estações. Mas não especificou se essas melhorias incluem a adaptação para pessoas com deficiência, como a instalação de rampas nas plataformas.
Abaixo, a íntegra da nota da SuperVia
“O processo de modernização das estações dos trens do Rio faz parte do acordo firmado entre a concessionária e o governo do estado para melhorias em todo o sistema ferroviário. As obras das estações, que não recebiam investimentos há quatro décadas, foram iniciadas em 2012 e seguem de acordo com as prioridades avaliadas pela concessionária.
A reforma prevê construção de cobertura nas passarelas e plataformas, recuperação dos pisos, nova comunicação visual e iluminação e a padronização das plataformas de embarque e desembarque.
Até o momento, 31 estações receberam melhorias e uma nova foi construída. Vale ressaltar que, ciente de que o sistema ferroviário conta uma infraestrutura construída há mais de 150 anos, e em atenção aos passageiros que necessitam de apoio, a concessionária adota as regras de acessibilidade assistida com funcionários treinados e capacitados para prestar auxílio imediato em todas as estações”.
Por Alba Valéria Mendonça, G1 Rio

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