De acordo com a carta de Mazzilo, em junho o comitê tinha R$ 12 milhões em caixa e possibilidade de arrecadar mais R$ 75 milhões, sendo R$ 36 milhões do COI. |
Uma carta
enviada em junho pelo advogado do comitê organizador Rio-2016, Sérgio Mazzillo,
ao então presidente da entidade, Carlos Arthur Nuzman, revela um quadro
financeiro da entidade ainda pior do que o conhecido. Mazzilo afirma que o
comitê está "insolvente".
Descreve uma
dívida de R$ 160 milhões -21% maior do que os R$ 132 milhões divulgados- e que,
sem a ajuda do COI (Comitê Olímpico Internacional), já descartada, nem sequer
um processo de recuperação judicial é viável para quitar os inúmeros credores
da Olimpíada.
"O comitê,
querido amigo, lamento afirmar, com convicção, está insolvente. Hoje, ainda
temos uma chance, tênue, de pedirmos a recuperação judicial. E, mesmo assim, se
a ajuda do COI confirmar-se", diz a missiva, apreendida pela Polícia
Federal durante a Operação Unfair Play.
De acordo com a
carta de Mazzilo, em junho o comitê tinha R$ 12 milhões em caixa e
possibilidade de arrecadar mais R$ 75 milhões, sendo R$ 36 milhões do
COI. O comitê olímpico já afirmou que encerrou qualquer negociação com a
Rio-2016 após a prisão de Nuzman.
No início da
carta, o advogado atribui a parte das dívidas à "péssima administração dos
'executivos'". Critica também o ex-prefeito Eduardo Paes e a então
presidente Dilma Rousseff que, na avaliação de Mazzilo, fizeram imposições
excessivas ao comitê.
O advogado
relata que a falência da entidade implicará "sérias consequências
pessoais" aos administradores estatutários da Rio-16. "O patrimônio
desses administradores, todos pessoas de bem, pode ser atingido", relata.
Mazzilo traça
uma estratégia: não fazer qualquer pagamento e negociar descontos de até 54%
para quitar à vista dívidas. O último conselho financeiro é para que o comitê
reserve "importância a ser destinada ao custeio de despesas judiciais e de
honorários de advogados".
Mesmo diante da
crise, Nuzman tentou usar R$ 5,5 milhões da Rio-2016 para pagar seu advogado
que o defende na Operação Unfair Play.
Procurada, a
Rio-2016 informou que não iria se pronunciar sobre o documento. A reportagem
não conseguiu encontrar o advogado Sérgio Mazzillo até a publicação deste
texto.
CREDOR QUER
FALÊNCIA
Comandante da
maior credora do comitê, o presidente da GL Events, Arthur Repsold, está sem
esperança de ter a sua dívida de cerca de R$ 50 milhões quitada.
Repsold
acredita que terá que pedir a "falência da Rio 2016" para conseguir
receber a quantia. O executivo da multinacional francesa diz estar descontente
com o COI.
No contrato
firmado em 2009 com os organizadores brasileiros, o comitê internacional
colocou uma cláusula que obriga judicialmente a Prefeitura do Rio e o governo
do Estado a bancar um possível déficit. O COI é que precisa cobrar os dois
entes governamentais o pagamento.
"Não
consigo entender a lógica [do COI] de não cumprir a garantia. Essa dívida é um
dano de imagem muito grande para todos", diz Repsold.
"O Rio vai
ser sempre lembrado como uma Olimpíada que não se pagou", afirma o
executivo da empresa.A GL Events foi a responsável por montar estruturas
provisórias e hospitalidade em várias regiões de competições, como o Parque
Olímpico e Deodoro.
Sem receber, a
empresa teve que pedir um empréstimo da matriz na França para equilibrar as
finanças. A GL negociava o pagamento com Carlos Arthur Nuzman, então presidente
da entidade.
Responsável por
operar os Jogos, o comitê gastou US$ 2,8 bilhões (R$ 8,8 bilhões) na realização
do evento.
Em agosto do
ano passado na reta final dos Jogos, a Prefeitura do Rio assinou um convênio de
R$ 150 milhões para ajudar o comitê na organização da Paraolimpíada.
Na época, o
então prefeito Eduardo Paes liberou R$ 30 milhões à organização do evento. O
restante seria desembolsado conforme a prestação do primeiro repasse fosse
feito, o que não ocorreu, segundo Paes. Além da ajuda da prefeitura, o governo
federal também socorreu o comitê pouco antes do início da Paraolimpíada.
Com patrocínios
de empresas públicas, a União liberou R$ 73,5 milhões dos R$ 100 milhões que
havia prometido ao comitê. Com informaçoes da Folhapress.
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