Imagem do
satélite Copernicus Sentinel processada pela
ESA nesta quarta-feira mostra ruptura que
desprendeu
iceberg gigante na Antártica
(Foto:
Copernicus Sentinel data (2017)/ESA, CC BY-SA 3.0 IGO )
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Já era anunciado há meses e
acaba de acontecer: um iceberg gigante de cerca de 6 mil km² se descolou da
plataforma de gelo Larsen C; mas qual será seu rumo?
Já era anunciado há meses e acabou
de acontecer: um iceberg gigante
de quase 6 mil km² se descolou da Antártica.
Agora que o imenso bloco de gelo
com uma área maior que a do Distrito Federal se separou da plataforma de gelo
Larsen C, para onde ele deve ir?
O iceberg, que provavelmente será
chamado de A-68, ficará à deriva no oceano, colocando os navios que passam por
ali em perigo? Ou derreterá e aumentará o nível do mar?
De acordo com os pesquisadores do
projeto Midas, da Universidade de Swansea (Reino Unido), que acompanha o
iceberg de perto, o bloco de gelo não aumentará o nível do mar imediatamente.
No entanto, se a plataforma
continuar perdendo sua área, isso pode resultar na separação de geleiras do
continente rumo ao oceano, o que impactaria o nível do mar, ainda que em um
índice moderado.
A separação do iceberg da
plataforma Larsen C reduziu sua área em 12% e transformou a paisagem da
Península Antártica para sempre.
Ainda que a plataforma continue a
crescer naturalmente, os pesquisadores haviam previsto antes que a nova
configuração é potencialmente menos estável do que aquela antes da fenda - e há
o risco de que a Larsen C siga o modelo de sua vizinha, Larsen B, que se
desintegrou em 2002 depois de uma fenda parecida.
Rumo norte
"O movimento dos icebergs é
controlado principalmente pelos ventos presentes na atmosfera e pelas correntes
oceânicas que empurram o bloco de gelo que está abaixo da superfície da
água", disse à BBC Mundo Anna Hogg, especialista em observações de
satélite da Universidade de Leeds, no Reino Unido.
No entanto, isso também será
determinado pela simetria do leito marinho.
"As grandes fendas
topográficas, como por exemplo as pequenas montanhas no fundo do mar, podem ser
suficientemente altas de forma que façam com que o iceberg permaneça no mesmo
lugar por um tempo", diz Hogg.
Se nada o detiver e se ele começar
a se mover, dará início a uma viagem ao redor do continente antártico,
impulsionado pela corrente litorânea que gira em sentido anti-horário durante o
ano inteiro.
Se ele chegar à ponta da Península
Antártica, "continuará viajando até o norte, na direção da Passagem de
Drake, de onde se dissipará", explica a especialista.
Esse processo pode demorar meses
ou mesmo anos.
"Como outros volumes de gelo
semelhantes, ele levará um bom tempo para derreter, independentemente de estar
em águas frias ou mais quentes", diz Hogg.
Perigo
Os cientistas não sabem exatamente
onde ele chegará, mas normalmente os icebergs não costumam chegar a uma zona
habitada.
E, à medida que ele se desloca
para o norte, irá se dividir em fragmentos menores que podem continuar viagem
em diferentes direções e de acordo com as forças que atuam sobre eles.
Quando sair de perto do continente
antártico, é importante ficar no seu encalço, já que o iceberg pode se tornar
um perigo para os marinheiros.
Agora não há perigo - em meio ao
inverno no hemisfério sul - mas haverá durante o verão antártico: mesmo que a
península esteja fora das rotas comerciais mais importantes, é o principal
destino turístico de cruzeiros provenientes da América do Sul.
Enquanto o iceberg se mantiver
como peça única, ou várias peças grandes, ele é menos perigoso, já que podemos
vê-lo à distância. Quando se despedaçar, a situação piora, já que é difícil
estimar, da superfície, quanto gelo está submerso na água.
Geórgia do Sul
Muitas vezes, pedaços grandes de
gelo vão parar na plataforma de gelo superficial que cerca a ilha de Geórgia do
Sul, a cerca de 1.390 km a leste-sudeste das ilhas Malvinas/Falklands.
Ao chegar ali, os icebergs liberam
bilhões de toneladas de água doce no ambiente marinho local.
Segundo pesquisadores britânicos,
esses pedaços gigantes de gelo têm um impacto dramático no local e podem até
alterar os ciclos de alimentação dos animais que habitam a ilha.
A esta ilha, por exemplo, chegou o
iceberg A-38 em 2004.
"A água doce tem um efeito
mensurável na estrutura da coluna da água", disse Mark Brandon,
oceanógrafo da Universidade Aberta, no Reino Unido.
"Muda as correntes na
plataforma porque muda a densidade da água do mar. E também baixa a temperatura
da água".
O pó e os fragmentos de pedra que
o iceberg traz da Antártica atuam como nutrientes quando se derretem no oceano
e aumentam a produtividade das algas e das diatomáceas na base da cadeia
alimentar.
Mas, na Geórgia do Sul, esses
pedaços de gelo podem ter um impacto negativo ao atuar como barreira contra o
fluxo de krill, uma fonte vital de alimento para muitos animais da ilha,
incluindo pinguins, focas e pássaros.
Por BBC
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