Moradores
fazem protesto em Copacabana contra violência
em favelas
do Rio (Mauro PIMENTEL/AFP)
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Após semana com série de vítimas
atingidas por balas perdidas ou granadas lançadas em tiroteios, moradores de
680 comunidades protestam em Copacabana
Mãe e filha mortas por balas perdidas na Mangueira, um homem atingido fatalmente por estilhaços de
granada em confronto no Pavão-Pavãozinho, um bebê baleado na barriga da mãe na comunidade do Lixão, na
Baixada Fluminense e que ficou
tetraplégico e está em estado gravíssimo. Após uma semana
sangrenta, moradores de favelas de várias áreas do Rio se reuniram neste
domingo em Copacabana para pedir paz.
O evento batizado de 1º Encontro
de Favelas pela Paz no Rio foi o pontapé inicial para a criação de um Fórum
Permanente de Segurança Pública de Favelas e Desenvolvimento Social, onde
haverá discussão sobre a violência nas comunidades. O Ministério Público e a
Defensoria Pública foram convocados para acompanhar o movimento, organizado por
presidentes de associação de moradores de 680 favelas.
Apesar da chuva, ônibus trazendo
moradores de favelas de várias áreas não paravam de chegar à orla, na frente do
Copacabana Palace, hotel que é um ícone do glamour da zona sul, bem distante da
realidade dos moradores dos morros. Os manifestantes vestiam camisas amarelas,
estampadas com uma pomba (símbolo da paz) e com os dizeres “As favelas pedem
paz” e erguendo faixas com pedidos de socorro.
A presidente da Federação
Municipal das Associações de Favelas do Rio de Janeiro, Deusimar da Costa,
disse que o objetivo é combater o descaso público e a violência que atinge o
cotidiano dos moradores, em especial a violência policial. “É dever da polícia
combater o tráfico, mas também proteger o cidadão. E o cidadão de favela não
está sendo protegido”, afirmou. “Se o estado não consegue fazer seu papel sem
sacrificar a população, tem que buscar alternativa. O ato não é contra a
polícia, mas pela paz. O que acontece na favela é um genocídio maquiado de
segurança pública”, alertou.
Para os líderes das favelas e os
moradores, a política das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) não surtiu
efeito e a presença constante dos policiais até aumentou a violência nos
morros. Os moradores se queixam também da ausência do estado na prestação de
serviços, como saneamento básico. A associação de vítimas da violência, muitas
vezes inocentes, com o tráfico, também revolta os manifestantes.
Maria Quitéria Conceição Santos,
45 anos, diz que foi o que aconteceu com seu filho, Wesley Daniel Santos
Oliveira, morto em dezembro de 2015 com três tiros na comunidade do
Jacarezinho. Ele tinha 17 anos, era evangélico, trabalhava e voltava da igreja
quando foi atingido. “Não existe bala perdida. A polícia diz que confundiu meu
filho com bandido porque ele estava no meio do fogo cruzado”, conta emocionada.
Moradora do Jacarezinho há 19
anos, Maria Quitéria diz que gostaria de sair do morro, mas não tem condições.
Seu maior medo é que algo parecido aconteça com seus dois outros filhos,
Camila, 22, e Gabriel, de apenas 4 anos. “Vim aqui por ele [Wesley] e para
pedir paz na comunidade, que está muito violenta”, diz.
Vítimas
A onda de mortes sem conexão com
os tiroteios começou na quarta-feira, quando o faxineiro Fábio
Franco de Alcântara, 38 anos, morreu atingido por estilhaços de granadas
lançadas por traficantes contra policiais militares durante confronto no Morro
do Pavão-Pavãozinho, na zona sul do Rio. Outras três pessoas ficaram feridas.
Na sexta-feira, no Morro da
Mangueira, zona norte, Marlene Maria da Conceição, de 77 anos, e
sua filha, Cristina da Conceição, 42 anos, foram atingidas por
balas perdidas e morreram antes de darem entrada no hospital. Segundo a
assessoria das UPPs, a troca de tiros teve início quando policiais
militares faziam patrulhamento e foram atacados por criminosos na
região do morro conhecida como Buraco Quente.
Também na sexta-feira,
um bebê foi atingido por estilhaços de bala perdida dentro
da barriga da mãe, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. Claudineia dos
Santos Melo, de 29 anos, mãe da criança, foi ferida no quadril durante um tiroteio
na Favela do Lixão. Levada para o Hospital Moacyr do Carmo, ela passou por uma
cesariana de emergência. Foi então que os médicos constataram que a criança,
que recebeu o nome de Arthur, havia sido atingida. Um tiro entrou
pelo ombro direito do bebê, perfurou os pulmões e lesionou duas vértebras
torácicas. O estado do bebê é gravíssimo – se sobreviver, ficará tetraplégico.
A mãe também está internada em estado grave.
(Com Estadão Conteúdo)
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