A empresária
Mônica Moura e seu marido, o marqueteiro
João Santana
(Vagner Rosário/VEJA.com/VEJA.com)
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Em depoimento ao TSE na ação
contra a chapa Dilma-Temer, ela também afirmou que Antonio Palocci convenceu
João Santana a receber dinheiro de caixa dois
Em depoimento sigiloso à Justiça Eleitoral, a empresária Mônica Moura, mulher do marqueteiro João Santana, definiu a Odebrecht como um “quarto poder”,
que expandiu sua atuação para todas as áreas no Brasil e pagou “todo mundo”.
Segundo Mônica, uma das delatoras da Operação Lava Jato, a empreiteira assumiu totalmente o caixa dois
do marketing político da campanha de Dilma Rousseff (PT) à Presidência da República em 2014.
A empresária tratava de
questões financeiras e operacionais da campanha, enquanto João Santana cuidava
da parte criativa. Os dois prestaram depoimento na segunda-feira passada no
Tribunal Regional Eleitoral da Bahia (TRE-BA) no âmbito da ação que apura se a
chapa de Dilma e o presidente Michel Temer(PMDB) cometeu abuso de
poder político e econômico para se reeleger em 2014.
Relator da ação, o ministro Herman
Benjamin viajou a Salvador para acompanhar o depoimento e questionou Mônica se
a Odebrecht era uma espécie de “banco informal”.
“Quarto poder”, respondeu Mônica
a Benjamin. “Vendo hoje o que eu vejo, meio assustada pela amplitude e com
a dimensão da coisa que a gente vê aqui, eles pagaram todo mundo. Vejo a
Odebrecht como um quarto poder da República, porque eles praticamente estavam
em todas as áreas”, completou.
Mônica afirmou que chegou a pensar
que ela e o marido eram os únicos que recebiam recursos não contabilizados da
empreiteira. “Eu não imaginava que eles pagavam deputado, que eles pagavam
campanha de todo mundo. Não sabia. Não tinha nem a mais pífia ideia”, disse.
Para Mônica Moura, houve
financiamento paralelo de campanhas eleitorais do ano passado, mesmo com o
avanço da Lava Jato e a proibição de doações de empresas. “O senhor imagina que
agora, em 2016, não teve caixa dois?”, disse a Herman. “É obvio que teve. Mesmo
com as medidas tomadas, com um monte de gente presa, houve, sim caixa dois,
porque não tem como fazer, não existe a possibilidade”, afirmou.
‘Segurança’ no caixa dois
Mônica Moura também declarou à
Justiça Eleitoral que foi o ex-ministro da Casa Civil e da Fazenda Antonio Palocci quem “vendeu” ao
marqueteiro João Santana a ideia de que seria seguro receber pagamentos da
Odebrecht por meio de caixa dois após o mensalão. Palocci está preso pela Operação Lava Jato desde
setembro de 2016 e já disse ao juiz federal Sergio Moro que está disposto a colaborar com as
investigações.
Conforme o depoimento de Mônica,
Santana resistia a aceitar recursos não contabilizados em 2006, após o
escândalo de compra de apoio político que envolveu alguns dos principais
quadros do PT, ainda no primeiro mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O marqueteiro
acabou convencido, segundo sua mulher, pelo argumento de Palocci de que a
empreiteira era uma empresa “sólida”.
“A primeira vez em que foi
proposto isso, em 2006, teria caixa dois, o João falou que não faria, tinha
acabado de acontecer o mensalão: Não dá para fazer uma campanha assim”, afirmou
a empresária.
Ela disse que a Odebrecht foi
apresentada ao marqueteiro como uma empresa que poderia pagar “por fora” sem
causar nenhum tipo de problema.
“Quando o João aceitou fazer, me
mandou conversar com o Palocci. Foi a minha primeira conversa com o Palocci.
Daí foi que ele me encaminhou à Odebrecht pela primeira vez”, disse a depoente.
Outro lado
O advogado de Palocci, José
Roberto Batochio, disse que desconhece o depoimento de Mônica Moura e,
portanto, não poderia se pronunciar sobre ele. Guido Mantega nega que tenha
participado de captação de recursos para a campanha.
O PT não se pronunciou. A defesa
de Dilma Rousseff reiterou que João Santana e Mônica Moura “faltaram com a
verdade” nos depoimentos ao TSE.
“Tudo indica que o casal, por
força da sua prisão por um longo período, tenha sido induzido a delatar fatos
inexistentes, com o objetivo de ganhar sua liberdade e de atenuar as penas
impostas por uma eventual condenação futura”, diz nota divulgada pela
ex-presidente.
Procurada, a Odebrecht informou
que “já reconheceu os seus erros, pediu desculpas públicas, assinou um acordo
de leniência com as autoridades brasileira, suíças, americanas e da República
Dominicana, e está comprometida a combater e não tolerar a corrupção em
quaisquer de suas formas”.
(com Estadão Conteúdo)
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