© Foto: Beto
Barata/Presidência da República
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Citado em depoimentos de
investigações da Lava-Jato sobre repasse de recursos ao PMDB, o ministro da
Casa Civil, Eliseu Padilha, retorna hoje a Brasília. Padilha passou por uma
cirurgia de próstata no último dia 27 de fevereiro. Ele disse ao GLOBO que
volta para trabalhar, mas interlocutores de Temer sinalizaram que seu destino é
incerto.
Interlocutores dizem que Temer
quer uma “conversa franca” com Padilha e explicações sobre as denúncias. Uma
das alternativas seria Padilha acabar se retirando novamente, alegando que está
se recuperando e que tem dificuldades para retornar. Esta segunda-feira será
decisiva, afirmam fontes do Palácio do Planalto.
—Ele terá que dar publicamente a
sua versão dos fatos — cobrou um interlocutor de Temer.
Mas o advogado José Yunes, amigo e
ex-assessor do presidente Michel Temer, declarou ter recebido um “pacote”
destinado a Padilha, insinuando que seriam recursos para campanha eleitoral, e
ter contado a Temer já em 2014. Recentemente, o depoimento veio a público, e
Yunes disse em entrevistas que foi usado como “mula” por Padilha.
LONGE DE TURBILHÃO
Longe de Brasília desde 22 de
fevereiro, Padilha tem mantido contato com Temer enquanto está em Porto Alegre.
Apesar do retorno, ele terá um ritmo mais lento de trabalho porque ainda está
se recuperando da cirurgia. Assessores do ministro dizem que ele volta disposto
a discutir a reforma da Previdência.
— Estou em franca recuperação.
Voltarei ao trabalho amanhã (hoje) — disse Padilha.
A licença médica acabou tirando
Padilha do turbilhão político: ocorreu no momento em veio a público o
depoimento de Yunes. Ele fez a cirugia em 27 de fevereiro e deveria voltar em 6
de março, mas estendeu a licença até hoje.
O presidente nacional do PMDB e
investigado na Lava-Jato, o senador Romero Jucá (RR), afirmou não ver problemas
no retorno de Padilha:
— Se ele esperar para acabar o
olho do furacão... A Lava-Jato vai demorar. Enquanto ele tiver a confiança do
Michel, essa é uma decisão dele e do Michel. Ele é uma peça importante para o
governo.
Jucá também disse que está
“tranquilo” em relação à nova lista de Janot.
— O alvo é a política. Todo mundo.
Haverá a investigação, alguns serão condenados e outros, absolvidos. Apesar de
todos já terem sido execrados publicamente — alfinetou o senador.
Temer está desconfortável com a
situação porque a volta do seu principal ministro recoloca o Planalto no centro
da Lava-Jato. Padilha deve embarcar na manhã desta segunda-feira para Brasília.
Ele retorna na semana em que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot,
entrega a segunda lista de nomes que devem ser investigados, com base nos
depoimentos e delações de executivos da Odebrecht.
NEGOCIADOR SEM SUBSTITUTO
Padilha é tido como o “cérebro” do
governo. Além disso, era o negociador da reforma da Previdência junto ao
Congresso. Apesar do discurso de que Yunes se contrapõe a Padilha, dentro do
PMDB há caciques que apostam que Yunes atacou Padilha justamente para “blindar”
Temer nas denúncias da Lava-Jato.
No PMDB, ainda há uma disputa
sobre quem substituiria Padilha na Casa Civil. O líder do partido no Senado,
Renan Calheiros (AL), disse que Padilha precisaria voltar porque a Casa Civil
não pode ser comandada pelo atual subchefe de Assuntos Jurídicos da Casa Civil,
Gustavo Rocha, advogado ligado a Eduardo Cunha.
Na última sexta-feira, a situação
se complicou: o ex-funcionário da Odebrecht José Carvalho Filho disse, em
depoimento no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que negociou diretamente com
Padilha repasses de R$ 4 milhões para o PMDB. O ministro foi procurado depois
de reclamações do ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) de que não recebera seu
dinheiro. Padilha deu senhas para os repasses, e a última parcela foi de R$ 500
mil.
Agência O Globo
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