Gastos
constam de planilha que detalha movimentação financeira do grupo. Procuradores
ainda tentam identificar mais de mil pagamentos feitos em dinheiro por pessoas
ligadas ao ex-governador.
Nove meses
após deixar o governo do Rio, em janeiro de 2015, o ex-governador Sérgio Cabral
pagou, em dinheiro, por várias viagens de helicóptero até Mangaratiba, na
Região Sul do Estado do Rio, e de lá para o Palácio Guanabara ou para o
aeroporto Santos Dumont, no Centro do Rio. As informações constam na denúncia
do Ministério Público Federal (MPF) apresentada e aceita pela Justiça Federal
nesta terça-feira (14). Para procuradores do MPF no Rio, a prática foi uma das
formas de Cabral e de seu grupo "lavar" dinheiro.
De acordo
com a denúncia, acatada pelo juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal,
o ex-governador pagou R$ 2,3 milhões com fretes de helicópteros, emissão de
passagens aéreas e serviços de embarque e desembarque.
A denúncia
desta terça indica que Cabral praticou 184 crimes. Ele já era réu em outros
três processos em desdobramentos da Lava Jato: um na 13ª Vara de Curitiba, com
o juiz Sérgio Moro, e em dois processos na 7ª Vara Federal Criminal do Rio, com
Bretas.
Desde o ano
passado, procuradores da Lava Jato no Rio tentam identificar codinomes que
constam de uma planilha apresentada pelos irmãos Renato e Marcelo Chebar,
delatores da Lava Jato. Um dos nomes, "Pierre", chamou a atenção. Ele
era citado em 19 ocasiões.
Pierre
Cantelmo Areas foi identificado e confirmou em depoimento na Procuradoria da
República, no Rio, ter prestado os serviços de intermediação de voos, compra de
passagem e taxas embarque e desembarque para Cabral entre 2004 e 2015.
Em
depoimento ao MPF, Areas confirmou que recebia os pagamentos sempre em espécie
ou com depósitos em dinheiro em sua conta. Os pagamentos eram feitos sempre por
Carlos Miranda ou por Luiz Carlos Bezerra. Ambos estão presos e são apontados
como operadores do ex-governador.
Os
procuradores querem agora descobrir se Cabral fez todas as viagens ou se pagou
voos para outras pessoas. Também querem entender por que algumas das viagens
tinham como destino o Palácio Guanabara, sede do governo do Rio.
Ainda se
descobriu que entre agosto e novembro de 2014, Sérgio Cabral e sua mulher,
Adriana Ancelmo gastaram R$ 287,5 mil em passagens aéreas para o exterior. A
prática é a mesma: os pagamentos das passagens foram em dinheiro.
"A análise dessa planilha ainda pode
nos revelar muitas coisas. O grupo criou uma espécie de instituição financeira
paralela que fornecia dinheiro à quadrilha. Conseguimos identificar 170 itens,
ou seja, pagamentos e a entrada de dinheiro na contabilidade. Ainda faltam
1.330 movimentações que estão sob análise", afirmou o procurador da
República Sérgio Luiz Pinel.
De acordo
com a denúncia, o ex-governador usava dinheiro de propina para realizar os
pagamentos de suas contas pessoais. Assim, tentaria dissimular os ganhos
obtidos de forma irregular.
Nas análises
feitas na planilha que ficavam em poder dos irmãos Chebar, responsáveis por
liberar o dinheiro que ficava guardado numa sala em Ipanema, Zona Sul do Rio,
constam liberações de dinheiro para Carlos Miranda identificado como
"menor" ou "amigo".
Entre 7 de
agosto de 2014 e 24 de março de 2015 isso aconteceu em 48 oportunidades. Carlos
Miranda movimentou neste período R$ 362.916,33, uma média de R$ 50 mil mensais
para pagamentos de contas pessoais.
Outro citado
na planilha e já é identificado é "novato", apelido dado pelo grupo a
Carlos Bezerra. Em 30 oportunidades, de acordo com os procuradores, ele
movimentou R$ 5,2 milhões. Desse total, Carlos Bezerra recebeu em 27
oportunidades R$ 4,8 milhões dos irmãos Chebar.
Em apenas três
casos, o operador entregou dinheiro (R$ 380 mil) à dupla responsável por gerir
a propina obtida pela quadrilha, de acordo com o MPF.
“Que
'Novato' refere-se ao apelido que os colaboradores colocaram em Bezerra; que
Bezerra foi apresentado ao colaborador (Renato Chebar) por Carlos Miranda em
meados de 2013/2014 – daí o codinome 'novato'", informa a denúncia do MPF.
Depoimentos
de executivos da Carioca Engenharia relatam que Luiz Carlos Bezerra foi aos
poucos assumindo o lugar de Carlos Miranda no grupo.
"À
medida que novas pessoas sejam identificadas não descartamos novas denúncias.
Nessa fase detalhamos pessoas que ocultaram, dissimularam a origem e a natureza
dos recursos ilícitos", diz o procurador Sérgio Luiz Pinel.
Os advogados
do ex-governador Cabral não irão comentar a denúncia. Os representantes de
Carlos Miranda e de Luiz Carlos Bezerra não foram encontrados até a última
atualização desta reportagem para falar sobre o caso.
G1
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