Cela em
condições precárias no Plácido Sá Carvalho
(Foto: Reprodução)
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Defensoria Pública crê que
aumento de 'mortes silenciosas' - não causadas por brigas e rebeliões - está
ligado à superlotação. Cadeias têm 85% mais presos que capacidade.
Em setembro de 2014, o
universitário Vinícius Pereira Thurler, de 28 anos, foi preso por policiais
militares apontado como responsável por roubos, em Itaboraí, na Região
Metropolitana do Rio. Condenado em 24 de outubro de 2016, o estudante de
engenharia cumpria pena no Complexo Penitenciário de Gericinó. Seu advogado já
havia representado duas vezes à Justiça relatando os problemas de saúde de
Thurler. No dia 5 de janeiro, ele morreu sem que a petição fosse apreciada.
Além dele, outros nove presos morreram no sistema penitenciário do Rio nos
primeiros dez dias de 2017.
Uma das suspeitas é de que o
problema seja causado pela superlotação das carceragens. No Rio, são 51.113
presos onde há vagas para 27 mil.
Nos registros da Secretaria de
Administração Penitenciária (Seap), nenhuma morte teve causa violenta: todos
morreram por "doença". A Seap abriu sindicância para apurar as
mortes. A Defensoria Pública do Rio iniciou uma investigação para saber as
causas que tem levado os detentos a morrer
Presos em
cela do presídio Plácido Sá Carvalho
(Foto: Reprodução)
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Dados da Seap repassados à
Defensoria Pública, ao Ministério Público e ao Judiciário mostram que dentre os
dez mortos, quatro estavam presos por tráfico de drogas; três por homicídio; um
por furto; um por sequestro e outro por roubo (Vinícius Thurler). Entre esses
mortos, oito foram presos em 2016 e outros em anos anteriores.
Dos dez que morreram, sete ainda
respondiam a processo. Ou seja, sem condenação. Três dos mortos nos primeiros
dias de 2017 eram condenados, de acordo com dados da Seap.
Quase mil mortes em cinco anos
Nos últimos cinco anos, entre 2011 e 2016, a cada um dia e meio, em média, um preso morreu nas carceragens do Rio. Foram 988 detentos mortos neste período. Não houve chacinas. No sistema penitenciário, os registros informam que as causas foram naturais ou por doenças. Assim, são 95% dos casos.
Nos últimos cinco anos, entre 2011 e 2016, a cada um dia e meio, em média, um preso morreu nas carceragens do Rio. Foram 988 detentos mortos neste período. Não houve chacinas. No sistema penitenciário, os registros informam que as causas foram naturais ou por doenças. Assim, são 95% dos casos.
"O que acontece no Estado do
Rio é que há uma espécie de morte silenciosa. Aqui não há registro de chacinas
como as que aconteceram no Amazonas e em Roraima. Não. Aqui, os presos definham
e as condições são péssimas", diz o defensor Leonardo Rosa, do Núcleo do
Sistema Penitenciário (Nuspen), na Defensoria Pública.
Joaquim
Ferreira de Souza (Foto: Reprodução)
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A superlotação, segundo quem
fiscaliza o sistema, gera casos de violência e, principalmente, casos de doença
como tuberculose.
"Celas superlotadas levam a
casos de doença entre os presos. Quem está preso tem 30 vezes mais chance de
contrair tuberculose do que quem leva uma vida normal", afirma Maria Laura
Canineu, do Human Right Watch.
As imagens obtidas pelo G1 com quem fiscaliza as
carceragens do Rio mostram celas superlotadas e deterioradas no sistema
penitenciário. Há cenas em que há 60 pessoas onde cabem 27 presos, segundo
promotores e defensores ouvidos pela reportagem.
A situação das carceragens foi
relatada pela Defensoria Pública à Comissão Interamericana de Direitos Humanos
da Organização dos Estados Americanos (OEA). De acordo com o documento, as
unidades prisionais do Rio não possibilitam acesso à àgua para tratamento e
consumo, além de tratamentos médicos aos presos. Todas essas situações são
prejudicadas devido à superlotação das cadeias.
Medidas contra a superlotação
As autoridades que fiscalizam o sistema penitenciário do Rio iniciaram uma série de medidas para reduzir a superlotação carcerária no Rio. Nesta quinta (12), o Ministério Público iniciou a elaboração de um plano para reduzir a superlotação nas carceragens do Estado do Rio, como mostrou o RJTV.
As autoridades que fiscalizam o sistema penitenciário do Rio iniciaram uma série de medidas para reduzir a superlotação carcerária no Rio. Nesta quinta (12), o Ministério Público iniciou a elaboração de um plano para reduzir a superlotação nas carceragens do Estado do Rio, como mostrou o RJTV.
O momento é considerado tenso. Por
15 dias, em pleno verão carioca, as carceragens do Rio sofreram com problemas
no abastecimento de água. O fornecimento foi interrompido e a Seap precisou
apelar para a compra de carros pipa. A medida levou um grupo de presos do
Complexo Penitenciário de Gericinó a gravar
um vídeo em que mostram as condições ruins nas celas. Falta água,
limpeza e ventilação num local acima de sua capacidade.
Condições do
presídio Plácido Sá Carvalho, no Rio
(Foto:
G1/Rio)
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O abastecimento só foi
restabelecido pela Companhia Estadual de Água (Cedae) na segunda (9). A
Defensoria Pública apontou que o problema vinha causando tensão nas unidades do
Rio, o que poderia levar à uma possível rebelião.
Reportagem do RJTV também mostrou
parentes de presos se queixando na piora na qualidade da comida servida aos
detentos, da precária assistência médica nas unidades prisionais e até da falta
de água nos presídios.
Ação do Judiciário
A Vara de Execuções Penais (VEP), no Rio, tem sete juízes e 70 servidores. De acordo com nota enviada pelo Tribunal de Justiça do Estado há um trabalho sendo feito para reduzir o número de detentos nas carceragens estaduais.
A Vara de Execuções Penais (VEP), no Rio, tem sete juízes e 70 servidores. De acordo com nota enviada pelo Tribunal de Justiça do Estado há um trabalho sendo feito para reduzir o número de detentos nas carceragens estaduais.
Em nota, a assessoria do Tribunal
de Justiça do Rio informou que "estão sendo realizados a informatização
dos processos, o que agiliza o monitoramento da progressão aos apenados. A VEP
relata que reconhece que há superlotação. Tanto que tem feito trabalhos e
investimentos para resolver o problema".
Em nota, a Secretaria de Estado de
Administração Penitenciária (Seap) informou que, "atualmente, as unidades
prisionais do Estado do Rio tem 51.113 internos. Desses, 20.779 são
provisórios.
A Seap diz ainda que "todas
as unidades prisionais possuem ambulatórios médicos, além disso, a Seap conta
com cinco hospitais penitenciários, incluindo a Unidade de Pronto Atendimento
(UPA)".
O documento ressalta que em 2016,
"o número de óbitos foi de 238. Esse número representa 0,46% da população
carcerária. Já em 2010, por exemplo, o número de óbitos foi de 120 mortes,
sendo esse 0,46% da população carcerária da época". De acordo com o
Ministério Público, o número de mortes de 2016 foi de 253 detentos.
G1 Rio
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