© Fornecido
por Estadão Militância. Manifestantes no Anhangabaú
em abril para acompanhar a votação do
impeachment
de Dilma na Câmara |
Sem acordo com a ala majoritária
sobre a forma de escolha da nova direção e, principalmente, sobre o rumo que o
PT deve seguir para tentar uma reconstrução, dirigentes da esquerda petista já
admitem um racha no partido.
A crise na legenda ficou exposta
na sexta-feira, quando o Muda PT, grupo que reúne as cinco maiores correntes de
esquerda do partido, divulgou um documento no qual anuncia a realização de uma
série de plenárias em algumas das principais cidades do País. O objetivo dos
encontros é mobilizar militantes descontentes com o rumo do partido para
pressionar a corrente majoritária, Construindo um Novo Brasil (CNB), a não
adiar para 2017 a renovação da direção petista.
A primeira plenária será nesta
segunda-feira, 17, em Brasília, e a segunda no dia 27, em Porto Alegre. Na
pauta do Muda PT estão o início, ainda neste ano, dos debates para um congresso
nacional que teria plenos poderes para decidir, por meio do voto de delegados,
a nova direção, mudanças no programa partidário e a adoção de padrões de
conduta ética para todos os filiados.
A CNB tenta protelar a data do
congresso para abril do ano que vem e defende a escolha da nova direção por
meio de um Processo de Eleições Diretas (PED), conforme determina o estatuto do
PT. Em resposta ao Muda PT, a CNB divulgou um texto, no sábado, 15, no qual
reitera a defesa da manutenção do PED.
A divergência pode levar a um
racha, admitem dirigentes. “É possível que o grupo que quer PED faça um PED e o
grupo que quer um congresso faça um congresso? Não sei. Pode ser. Acho que
estão se anunciando rumos diferentes. A outra via pode estar pensando ‘vamos
nos livrar dessa grande minoria’”, disse o secretário nacional de Formação do
PT, Carlos Árabe, integrante da corrente Mensagem ao Partido. Para ele, a crise
é diferente de outras disputas internas que marcaram a história do PT. “Os
melhores momentos do PT foram quando a luta interna dava alguma síntese. Agora
não é isso”, afirmou Árabe.
Integrantes da CNB estão
irredutíveis quanto ao calendário e à forma de escolha da nova direção. “Está
tendo um açodamento. (As plenárias da esquerda) Têm como objetivo somente
ganhar a direção do PT”, disse um dos vice-presidentes do partido, Jorge
Coelho. Segundo ele, “uma parte (da esquerda) está se preparando para sair” do
PT.
Debandada. Diante da
pior crise da história do partido – que perdeu a Presidência após 13 anos,
sofreu uma das mais significativas derrotas nas eleições municipais e tem
alguns de seus principais líderes presos ou na mira da Justiça por acusações de
corrupção –, dirigentes admitem reservadamente que o PT deve sofrer uma nova
debandada, agora de parlamentares que temem não se reeleger por causa do
desgaste da imagem do partido. Alguns dirigentes calculam que até a metade da
bancada petista na Câmara pode deixar o partido.
Em reunião da Executiva Nacional,
neste segundo semestre, um dirigente questionou: “Não seria o caso de mudarmos
o nome e o símbolo do PT?”
Líderes defendem a criação de uma
frente de esquerda com PCdoB, PSOL, PDT e Rede. Em reunião de integrantes da
Frente Brasil Popular – formada por partidos progressistas e movimentos sociais
– um influente petista sugeriu que a frente passasse a aceitar filiações
individuais, para disputar eleições.
Uma das poucas esperanças de
manutenção da unidade do PT é que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva
aceite presidir o partido por um ano e comande uma reconstrução. Semana
passada, no entanto, Lula iniciou uma rodada de conversas com as principais
forças do partido. O primeiro grupo a ser recebido foi a CNB. Na ocasião, Lula
rejeitou categoricamente a possibilidade de presidir o PT.
Para ex-ministro, renovação não
deve ser prioridade
Ex-ministro da Secretaria-Geral da
Presidência no governo Luiz Inácio Lula da Silva, Gilberto Carvalho, um dos
petistas mais próximos do ex-presidente, disse que, em vez de se digladiarem
pelo controle da direção petista, as principais correntes do partido deveriam
manter o foco em problemas maiores que o PT enfrenta hoje.
“Amanhã o Lula pode ser condenado,
pode ser preso, e não vai adiantar nada ter PED (Processo de Eleição Direta) ou
congresso. Isso é o de menos neste momento. Me assusta que o tema dominante
esteja sendo este”, afirmou Carvalho. Segundo ele, o foco do PT deveria ser a
mobilização contra a agenda de reformas do governo Michel Temer.
“Acho inadequado que em um momento
tão grave como este que estamos vivendo, em que o País está sendo atropelado
por medidas do governo Temer, que gente importante do partido esteja se dando o
tempo de pensar mais nas coisas de renovação da direção do que em uma união
fundamental ao PT.”
Carvalho defendeu a união do
partido em apoio à atual direção, em vez de fragilizá-la. “Tem que dar força
para esta direção ficar de pé porque, quer queira quer não, esta direção vai
levar o partido no mínimo até março ou abril. São seis meses fundamentais para
a gente depois deste massacre eleitoral”, disse.
4 perguntas para Carlos Árabe,
secretário nacional de Formação do PT
1. As disputas internas em meio
à crise podem levar a um racha no PT?
Se o congresso nacional do PT não
sair e a maioria impedir sua realização vamos ter que olhar os filiados do PT
que estão interessados em uma mudança radical no partido, ver as forças que
acumulamos e pensar no que vamos fazer.
2. O que as correntes petistas
da esquerda devem fazer caso a maioria barre a realização do congresso? Se
a maioria não quiser vamos chamar um encontro nacional informal para ver qual o
rumo que devemos tomar. Chegou ao limite a nossa cota de martírio.
3. Qual o rumo que o senhor
defende para o PT? É evidente que o PT está vivendo uma enorme crise.
Estamos sendo impedidos de chegar às prefeituras porque levamos o rótulo de
corruptos. Assim não tem como fazer política. A maioria esmagadora dos petistas
não fez nada nem aprovou nada do que está sendo investigado. Por isso
precisamos fazer uma autocrítica. E o mesmo não acontece com outros partidos
que têm gente envolvida na Lava Jato. A corrupção é uma cortina de fumaça para
excluir o PT. Existe uma seletividade.
4. Como o senhor acha que
deveria ser feita essa autocrítica? De quem é a responsabilidade pelo
que aconteceu no PT nesse último período? A autocrítica tem que começar por
quem fez algo. Não vou fazer autocrítica de algo que não fiz. Sou da direção
nacional há décadas e nunca aprovei nada disso. Foi tudo feito à revelia de
milhares de filiados. A direção tem que provar que não houve nada errado ou pôr
para fora quem fez.
Estadão
0 comentários:
Postar um comentário
Obrigado pelo seu comentario.
Fique sempre ligado do que acontece em nossa cidade!