O
ex-tesoureiro do PT, Paulo Ferreira, é levado dentro do carro
da Polícia
Federal após prestar depoimento, em São Paulo
(Aloisio
Mauricio/Fotoarena/Folhapress)
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Esquema desmontado pela 31ª fase
da Lava Jato movimentou mais de 39 milhões de reais
As investigações da Operação Abismo, deflagrada nesta
segunda-feira e que corresponde à 31ª fase da Lava Jato, apontam que o
ex-tesoureiro do PT Paulo Ferreira utilizou uma madrinha de bateria, um cantor
de escola de samba e seus próprios filhos como destinatários de dinheiro sujo
de um esquema que movimentou mais de 39 milhões de reais em propina. Amigos de
Ferreira na escola de samba Estado Maior da Restinga, agremiação da zona sul de
Porto Alegre, receberam depósitos de dinheiro que, diz o Ministério Público,
foram recolhidos a partir de propina cobrada de empreiteiras que participavam
de obras no Centro de Pesquisas da Petrobras.
Segundo o ex-vereador Alexandre
Romano, que fechou acordo de delação premiada e já havia incriminado o casal de
petistas Paulo Bernardo e Gleisi Hoffmann, seu escritório de advocacia repassou
cheques e fez transferências bancárias para pessoas ligadas à Estado Maior da
Restinga. Entre elas, Viviane da Silva Rodrigues, contato do ex-tesoureiro do
PT no samba e madrinha de bateria da agremiação. Conhecido como Chambinho, Romano
apresentou documentos bancários para comprovar o dinheiro enviado a Viviane:
foram 18 repasses entre 2010 e 2012, totalizando quase 62.000 reais. Para a
escola de samba foram outros 45.000 reais.
O cantor Sandro Ferraz, ligado à
escola de samba, também recebeu dinheiro sujo de Chambinho, por orientação de
Paulo Ferreira, assim como a antiga secretária do ex-tesoureiro, Silvânia
Gomes, que era lotada no gabinete do então senador Tião Viana (PT-AC), mas na
verdade trabalhava diretamente com o ex-secretário de Finanças do partido.
Também camuflaram propina a mando de Ferreira o blogueiro Júlio Garcia,
responsável por produzir notícias favoráveis ao PT, e os próprios filhos do
ex-tesoureiro Ana Paula Ferreira e Jonas Ferreira. "Há comprovação de cheques
nominais a Ana Paula Ferreira e Jonas Ferreira, identificados pelo colaborador
[Alexandre Romano] como filhos de Paulo Ferreira", diz o Ministério
Público.
A avalanche de provas contra Paulo
Ferreira, sucessor do notório Delúbio Soares no caixa do PT, foi providenciada
na maior parte por Chambinho, que se tornou delator da Lava Jato e, por
consequência, uma ameaça constante aos segredos guardados pelo partido. No
esquema de pagamento de propinas, Alexandre Romano contou que, a partir de
2009, começou a contabilizar, por meio de seu escritório de advocacia,
"dívidas" que Paulo Ferreira ou o PT tinham a receber. Para disfarçar
a origem criminosa do dinheiro - nada mais do que propina recolhida de empresas
que participavam de disputas na Petrobras - Chambinho providenciava contratos
superfaturados ou simulados com empresas indicadas pelo ex-tesoureiro. Na
transação, os valores eram depositados na conta do escritório de advocacia
Oliveira Romano Sociedade de Advogados ou de uma empresa controlada por ele.
Depois, o dinheiro passava para a conta de Nathalie Romano, esposa do delator,
e ao final, a propina chegava a Paulo Ferreira ou a pessoas indicadas por ele,
como a madrinha de bateria e o cantor da Estado Maior da Restinga. Chambinho
ficava com 40% de "taxa de serviço" se tivesse de simular contratos
superfaturados e 30% se precisasse apenas simular negócios para lavar o
dinheiro da propina.
Em sua delação premiada, Romano
deu exemplos de como o dinheiro era dividido. Em um contrato de 200.000
simulado com a Schahin em 2010, a título de atuação na recuperação de créditos
de PIS e Cofins, não houve prestação de serviços. A Paulo Ferreira couberam,
assim, 70% do valor, enquanto o operador ficou com 30%.
A outra modalidade de serviço
espúrio prestado por Chambinho a Paulo Ferreira se deu com a Ferreira Guedes,
uma empresa do grupo Construcap. De acordo com o delator, em três contratos
firmados em 2010, cujo valor total foi de 700.000 reais, "foi prevista a
emissão de pareceres, para dar consistência aos repasses de valores da Ferreira
Guedes para o escritório Oliveira Romano". A divisão foi, neste caso, de
60% para o ex-tesoureiro do PT e 40% para ele.
O advogado também intermediou a
quitação de outra "dívida" da Construbase com o petista em 2010.
Chambinho recebeu 50.000 reais da empreiteira e os repassou a duas empresas
indicadas por Ferreira, a Briefing Consultoria, Comunicação e Eventos e a RDA
Consultoria, Comunicação e Eventos. Romano diz não saber, no entanto, se
Ricardo D'Ávila, o responsável pelas empresas, era credor de Paulo Ferreira ou
se entregou os valores ao ex-tesoureiro do PT.
Vínculo detalhado - "O
colaborador trouxe uma série de documentos que comprovam as transferências
bancárias e pagamentos que efetuou a pedido de Paulo Ferreira, detalhando ainda
o vínculo entre os recebedores e o ex-tesoureiro", disse o Ministério
Público ao pedir a prisão preventiva de Paulo Ferreira na Operação Abismo.
"Paulo Adalberto Alves
Ferreira figurou como destinatário de vantagens indevidas oriundas de contratos
públicos na esfera federal, notadamente na Petrobras, e provavelmente como
representante do Partido dos Trabalhadores na negociação de propinas, havendo
contundente demonstração de que recebeu, por intermédio de operações de
lavagem, valores das empresas Construbase, Schahin e Construcap, integrantes do
Consórcio Novo Cenpes", disse o MP. "Há suficiente demonstração,
tanto oral quanto documental, dos repasses efetuados pelas integrantes do
Consórcio Novo Cenpes aos funcionários corrompidos Barusco e Duque [Pedro
Barusco, ex-gerente da Petrobras, e Renato Duque, ex-diretor da petroleira],
bem como de alguns dos mecanismos utilizados por essas mesmas empresas para a
"geração" do dinheiro em espécie usado para os pagamentos indevidos.
Nesse sentido, tratando-se de contrato vinculado à Diretoria de Serviços da
estatal, foram encontradas evidências de que uma parte da propina foi entregue
ao Partido dos Trabalhadores, por intermédio de Paulo Adalberto Alves
Ferreira", conclui.
Veja.com
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