Executivos relataram aos
procuradores que o ex-governador cobrou vantagem indevida sobre obras do metrô
e do estádio do Maracanã
Dois delatores da Operação Lava
Jato, um ligado à Odebrecht e outro à Andrade Gutierrez, envolveram o
ex-governador do Rio Sergio Cabral (PMDB) em esquemas de corrupção em obras do
metrô e na reforma do Maracanã para a Copa do Mundo de 2014.
Em seu acordo de delação premiada,
o ex-executivo da construtora Andrade Gutierrez Clóvis Renato Primo relatou que
o então secretário de Governo de Cabral, Wilson Carlos, pediu à empreiteira que
pagasse propina ao Tribunal de Contas do Estado do Rio, órgão responsável
justamente por fiscalizar as obras públicas do governo estadual e das
prefeituras. O pagamento da vantagem ilícita teria o objetivo de evitar
problemas com o tribunal em relação às obras do estádio do Maracanã, que sediou
o final da Copa do Mundo. A informação foi publicada pelo jornal O
Globo na edição desta quarta-feira.
Segundo Primo, a propina seria de
1% do valor da obra e seria repassada ao então presidente do TCE José Maurício
Nolasco. O delator autorizou o pagamento, mas não soube dizer se ele foi feito
efetivamente. As obras no estádio deveriam ter custado 705 milhões de reais aos
cofres públicos, mas, após receber 16 aditivos, a cifra aumentou para 1,2 bilhão
de reais.
Em outra frente da investigação, o
ex-diretor-presidente da Odebrecht Benedicto Barbosa da Silva Júnior, que foi
preso em fevereiro na Operação Acarajé, contou a procuradores da Lava Jato que
Cabral cobrou propina sobre as obras, além do Maracanã, do metrô e do Complexo
Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj). Segundo reportagem do jornal Folha
de S. Paulo noticiada nesta quarta, o peemedebista tinha como regra
exigir 5% de propina do valor total das obras. As informações foram prestadas
durante a fase de negociação da delação premiada, que ainda não foi fechada com
a procuradoria.
No final de março, sob regime de
delação, Clóvis Primo e outro ex-executivo da Andrade Gutierrez Rogério Nora Sá
já haviam dito aos investigadores que Cabral pediu propina para autorizar a
empreiteira a se associar à Odebrecht e à Delta no consórcio constituído para
reformar o Maracanã. Nora Sá teria até se encontrado com Benedicto Júnior para
combinar o acerto, em 2009.
Em nota enviado aos jornais,
Cabral negou as acusações e manifestou "indigação e repúdio ao
envolvimento de seu nome com qualquer ilicitude". Segundo o ex-governador,
sua administração foi pautada "pela autonomia dos secretários nas suas
respectivas pastas, assim como nos órgãos, autarquias, empresas e institutos
subordinados às secretarias".
O conselheiro do TCE José Maurício
Nolasco afirmou ao Globo que jamais se encontrou com o
ex-executivo da Andrade Gutierrez e, portanto, nunca houve qualquer conversa ou
solicitação de propina. A defesa do ex-secretário de Cabral Wilson Carlos não
se pronunciou sobre as denúncias.
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