Mãe de
gêmeos considerou recado preconceituoso
(Foto:
Arquivo pessoal/Débora Figueiredo)
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Um bilhete em que uma profissional
de educação pede a uma mãe que apare ou trance o cabelo de seus filhos, ambos
negros, provocou revolta da família e está causando polêmica nas redes sociais.
O bilhete foi enviado na última
sexta-feira, 16 de junho, na agenda dos gêmeos Antônio e Benício, de 3 anos,
filhos da professora de canto Débora Figueiredo, moradora de Duque de Caxias,
município da Baixada Fluminense. Os dois estudam no Educandário Eliane
Nascimento, em Caxias.
"Olá! Mamãe Débora, peço-lhe
se possível aparar ou trançar o cabelinho dos meninos, eles são lindos, mais
(sic) eu ficaria mais feliz com o cabelo deles mais baixo ou preso. Beijos,
Fran", diz o bilhete.
Débora considerou o recado uma
expressão de preconceito racial e fez um post em tom de desabafo: "Meus
filhos Antônio e Benício foram vítimas de preconceito por causa do cabelo
deles, recebi essa mensagem na agenda escrita pela coordenadora da escola que
até então tinha meu respeito, daqui em diante..." A mensagem se espalhou,
compartilhada por amigos, amigos de amigos e pessoas que ela nem conhece.
Ela foi procurada pela escola e,
na segunda-feira, 20 de junho, esteve no colégio acompanhada de seu advogado. A
diretora Eliane Nascimento, proprietária do educandário que leva seu nome,
disse então que só falaria com a mãe também acompanhada de um advogado, e nova
reunião foi marcada para esta quarta-feira, 22 de junho.
Além dos gêmeos, outro filho de
Débora, de 2 anos, também é aluno do educandário. Há sete meses, ela perdeu o
filho caçula, de apenas oito meses.
À BBC Brasil, Eliane Nascimento
defendeu o tom do bilhete e disse que ele, em intenção ou expressão, não é
mostra de qualquer tipo de preconceito racial da coordenadora, que é sua filha.
Segundo Eliane, há um surto de
piolhos na escola, e o alerta da coordenadora foi no sentido de proteger os
gêmeos, por entender que eles, com os cabelos cheios, ficam mais sujeitos a
serem contaminados por colegas que têm piolhos.
Bilhete
pedia que cabelo de gêmeos Antônio e Benício fosse
aparado ou
trançado (Foto: Arquivo pessoal/Débora Figueiredo)
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Segundo ela, o tema
"piolho" não apareceu no bilhete porque as crianças às vezes são
buscadas por outra pessoa da família, e a coordenadora não quis falar do
problema diretamente.
'Sem preconceito'
"De modo algum houve
preconceito. Meu marido é negro. Aqui na escola aceitamos pessoas de todas as
etnias e religiões, sem discriminação", afirmou Eliane. Ela afirmou ainda
que a infestação de piolhos foi um dos temas da reunião de pais realizada no
dia 3 de junho, e que uma circular foi enviada aos pais pedindo ajuda para
combater o problema.
Segundo Eliane, o educandário
existe há 20 anos e tem cerca de 300 alunos, da educação infantil ao 9º ano.
Débora Figueiredo disse que
recebeu a circular com o aviso do surto de piolhos, mas que o bilhete não é a
mesma coisa, por se tratar de um recado específico sobre os cabelos dos gêmeos
e sem falar em piolhos.
"Eu mesma fui vítima de muito
preconceito quando criança. Os colegas faziam música, me chamavam de nomes, eu
chorava, brigava, apanhava... Sofri muito. Meus pais sempre me diziam que eu
era linda, mas nunca agiram diretamente no colégio. Não quero que a história se
repita com meus filhos", afirmou Débora, que está à procura de uma nova
escola para as crianças.
Do Rio de Janeiro para a BBC
Brasil
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